segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
A Eduarda da Madeira.
A primeira vez que ouvi a palavra Madeira foi para nomear a naturalidade da Eduarda. -É da Madeira!-............................A Eduarda tivera de ser transportada da Madeira e viera de Avião, uma compaixão dos militares, devido ao seu estado com as pernas e a coluna fracturadas. Fora um acidente de carro. Um carro de trabalho puxado por bois a que o chão tinha faltado. Como obra do Demónio o chão abrira-se e o carro voltara-se para o precipicio caindo de grande altura com a Eduarda.
Nunca vi a Eduarda que não fôsse a sorrir. Mesmo quando gritava de dor, se eu a olhava, ela sorria e de novo dizia em voz alta -aiiii... que me dá vontade de cantar!-
A Madeira soava a nome de paraíso longínquo -uma ilha florida na imensidão do mar- tinha frutos chamados maracujá, e coisas que só havia nas Áfricas como as bananas.
Na Madeira todas as mulheres faziam bordados como a Eduarda fazia. Hirta numa concha de gêsso quase não movendo a cabeça mas com as mãos sempre a trabalhar ía desenhando com as suas linhas de cor animais e casinhas, florinhas e corações e escrevendo nomes que os meus três anos não sabiam ler. Na Madeira as pessoas sabiam fazer cadeiras de vime que podiam aguentar com duas pessoas, e cêstos para ir ás compras, e podiam fazer tudo de vime se quizessem. De vime que aqui só serve para atar os molhos de grêlos.
A Madeira era linda numa fotografia vista do mar,parecia um Presépio.
Nos paraísos e nos presépios não existem hospitais, por isso a Eduarda tivera de vir ali para o hospital onde não me deixavam visitar a minha mãe.
As pessoas na Madeira são jovens e fortes como a Eduarda e a minha Mãe que me levantava do chão para o colo. Se por infelicidade estão no hospital lá não é o seu lugar.
A Eduarda tapava a cara às vezes. Era quando estava triste por não poder ver a família que não deixaram vir no avião, mas depois via-me e sorria. Dizia-me: -olá meu menino vê lá o que está ali para ti! - No guardanapinho bordado havia sempre um pequeno rebuçado colorido. Naquele tempo os rebuçados eram tão raros que quando apareciam eram uma alegria. ............................
Obrigado Eduarda.
que lindo...
ResponderEliminarfiquei com vontede de conhecer mais ainda a Eduarda...
a Madeira por certo que sim....
A Madeira é um exercício de equilíbrio imenso, linda ao longe, linda por perto, a tua Eduarda devia morrer de saudades.
ResponderEliminarExílios são sempre doloridos, gosto da narrativa memorial
abraços
Constança
obrigado Fátima, infelizmente pedemos o contacto. Oxalá conheça a Madeira, e eu também.
ResponderEliminarLuís
Muito agradecido Constança. Ás vezes da memória lá sai um acontecimento antigo.
ResponderEliminarLuís