| Pieter Bruegel-O Velho "A dança dos camponeses" |
| Pieter Bruegel-O Velho "A dança do mastro de Maio" |
Na ”Idade da Folia” bebiam-se uns copitos valentes, comiam-se uns cogumelos parvos, bebiam-se umas infusões galdérias e defumavam-se umas ervas doidas. Além destas coisas menos sacras parece que o maior pecado era causado pelo pão. Ou pela falta dele.
| Pieter Bruegel-O Velho "A quermesse de S. Jorge" |
Se não há falta de pão, a causa da alteração de consciência, a tal intoxicação pode estar no próprio pão. Isto é, não no pão, pois o pão é sagrado nem que seja pela sua função de saciar e nutrir, mas sim num parasita que esteja no pão. Por exemplo um fungo.
O fungo das espigas de centeio confunde-se com os grãos por ter uma forma semelhante e parecer à primeira vista um grão mais comprido e torrado. Chama-se a este fungo tóxico, esporão do centeio ou cravagem do centeio. Os enfermos do envenenamento pela cravagem do centeio (em francês esporão=ergot) são vítimas da ergotamina. A ergotamina é uma substância que no séc. XX recebeu grande publicidade por estar na base do LSD. Como é sabido provoca delírios e alucinações várias.
Quando ouvi esta história logo pensei que nem todos comeriam pão de centeio, mas depois percebi que naqueles tempos da Folia poucos eram os que podiam comer outro.
| Pieter Brueghel-O Velho "O casamento dos camponeses" |
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| Aveia,Centeio,Trigo |
Após este parêntesis o que eu queria dizer é que era o povo quem comia os marrocates, os pães de centeio, pois o milho vindo do Novo Mundo estava a iniciar o seu cultivo na Europa.
É nesta Europa que se registam inúmeros casos de loucuras epidémicas. Esses casos de alienação e alucinação massivas levaram a actos de loucura e carnificina em que se supliciaram aqueles que se julgava estarem possuídos pelo demónio.
| Anónimo(?) Staatliche graphische Sammlung, Monaco Santo Antão rodeado de Enfermos do Fogo Sagrado. |
O envenenamento produzia estados de estupor alucinogénio, mas também excitação e ansiedade nervosa, sensações dolorosas de queimadura nas extremidades do corpo devido à vasoconstrição. Dedos, mãos, pés, braços pernas necrosavam e eram mesmo praticadas amputações.
| Hieronymus Bosch "As tentações de Santo Antão" |
A esta enfermidade chamaram-lhe Fogo de Santo Antão porque a única terapia que parecia causar efeito no seu alívio era a oração a Santo Antão um asceta, eremita do deserto norte africano que teria tido visões e teria sido tentado pelo demónio mas deste assédio teria triunfado sem corrupção.
As folias pelo menos algumas delas, parecem-me assim uma compassada e interminável marcha ascendente para o cadafalso. Uma atitude mental de desprendimento, uma alienação do corpo perante o inexorável destino. Um abandono obstinado.


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