quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A lenda de S. Martinho.

S. Martinho existiu realmente como pessoa. Filho de um soldado romano, não sei se equestre, ele próprio terá sido soldado equestre e é nessa condição que num dia de tempestade ao encontrar no seu caminho um homem andrajoso pedindo agasalho terá cortado com o seu gládio a capa grossa que o embrulhava de forma servir o pedinte oferecendo-lhe a protecção que o salvásse de morrer de frio. Após este acto generoso a tempestado cessou de imediato. Martinho já sentira antes dentro de si o apelo da religião cristã e teria já manifestado o seu desejo de ser baptizado. Talvez por isso no dia seguinte, apareceu-lhe uma visão. O homem andrajoso do dia anterior com a parte da capa que Martinho lhe tinha oferecido apareceu-lhe e erguendo o rosto que era o rosto do próprio Jesus Cristo, proferiu as palavras: "Martinho catecúmeno deu-me agasalho". Catecúmeno é o que deseja ser baptizado e ainda não o foi contra sua vontade. O Verão de S. Martinho seria a compensação de Cristo, o filho de Deus, por esse acto de generosidade. Há outra lenda que diz que no dia da sua morte, terá falecido a 11 de Novembro cerca do ano de 397 da nossa era, e durante os dias seguintes vieram dias quentes em que as plantas floresceram de novo e os pássaros voltaram a cantar. ............................................................................. S. Martinho é um dos santos piedosos, não sendo mártir, foi por actos de compaixão que ascendeu a essa categoria superlativa que releva os que da lei da morte se vão libertando. É claro que estes actos piedosos naquele tempo de ocaso e cristianização do Império Romano incluíam também a destruição de templos de outras religiões ditas pagãs e possívelmente outros tipos de violência não só sobre bens mas também sobre pessoas........................................................................ S. Martinho terá sofrido na pele o ostracismo dos seus irmãos de religião quando a facção Arianista (uma facção oriental inspirada por Arius Bispo de Alexandria que recusava a mesma Substância Divina para Deus Pai e para Cristo Deus filho) o expulsou de Panonia sua cidade natal, na actual Hungria. Esta facção cuja doutrina se tinha tornado obrigatória por imposição de Constantino II cerca de 337, (Constantino II é filho do Constantino I que mudou o nome da cidade de Bizâncio para Constantinopola, cidade que hoje se chama Istambul) perdeu influência com a sua morte em 361 e os ditos arianistas seus defensores foram considerados Heréticos. Esta doutrina era tão aterradora que o termo vandalismo que dura até hoje no nosso vocabulário não se deve ao facto dos Vândalos serem mais sanguinários que outros povos bárbaros, eles até eram cristãos católicos, mas sim ao facto deles pertencerem à facção arianista, entretanto considerada herética. O Prisciliano de que falei a propósito de Saramago e do Galo de Barcelos também foi acusado de Arianismo........................................................................ Mas continuando com o S. Martinho. Esta pessoa aglutina em si várias qualidades, suas ou atribuídas, que são muito importantes para a consolidação religiosa do cristianismo católico romano daquele tempo. Abandona a vida de soldado, dedica-se à vida monástica e sobretudo à evangelização dos pagãos da Gália e com o já falado espírito proselitista da época que se materializava na destruição de templos e locais considerados sagrados pelos pagãos. Esta sua faceta suspeito eu, terá sido aproveitada para celebrar em sua honra grandes festividades que ocultaram outras festas dos pagãos bárbaros mas também dos romanos do tempo em eles ainda não professavam o cristianismo católico como religião de Estado. Tal como mais tarde sobrepuseram o fabricado Santiago ao culto do verdadeiro Prisciliano. Aqui sobrepuseram o ainda que verdadeiro S. Martinho à fortíssima tradição pagã que era anterior......................................................... Os festejos de S. Martinho tiveram até há pouco tempo, pelo menos no mundo rural, uma importância extraordinária. Teriam a dimensão que tem o S.João no Porto ou o S.António em Lisboa. Em meu modesto entender esta celebração, após o dia de finados, é uma mensagem de vida que vem trazer a esperança contra o desânimo que os dias em declínio de horas de luz trazem. Com frio, chuva e tempestades várias, a natureza como morta e as árvores sem folhas a depressão ataca. Antes que ela venha uma grande festa a que Baco não será alheio anunciava a sobrevivência. A sobrevivência simbólica igual à da castanha, que dentro da sua capa espinhosa ultrapassou a secura do Verão e a predação dos animais.

domingo, 1 de novembro de 2009