sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Mais música do Sr. Ribeiro

Música do Sr. Ribeiro

Os bonecos do presépio dos anos 40, 50 e 60 do século passado.


Quando se faz um presépio presta-se homenagem aos pastores e a um mundo rural que se distancia de nós no tempo. Presta-se também homenagem a vários ofícios que fizeram parte de uma maneira menos perdulária de estar na vida. Nesse mundo ainda existem ferreiros, sapateiros e padeiros que cozem o pão num forno aquecido com lenha. Os moínhos usam a água que corre e o vento que sopra para moer o grão do cereal da lezíria ou da veiga ali ao lado; a água na fonte ou no poço é potável. A vida é árdua mas tem um ritmo mais humano e os ciclos de desperdício e alienação são menos desgastantes. Esse tempo de parcimónia e até de privação foi para muitos também um tempo de carência extrema, por isso é encarado com uma nostalgia amarga em que o que valeu foi a alegria da juventude e a vitalidade que a caracteriza. Há, apesar disso, muitas lições a tirar quando estiverem saradas as feridas da miséria, entender-se-á então que muito do que era feito, obedecia a uma ética correcta, e a uma racionalidade que evitava o desperdício. A solidariedade e a fraternidade eram praticadas intuitivamente, a compaixão era um sentimento privado e não um gesto de exibição pública. Prestava-se auxílio em vez de se dar esmola. A esmola era coisa urbana, atributo de porta de saída de igreja. Com a transformação de Portugal país rural em Portugal país urbano a porta de saída de igreja está por todo lado e a esmola também.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Filmografia de Michel Giacometti não perder a troco do que quer que seja.

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A Michel Giacometti e a Fernando Lopes Graça sou eternamente devedor! A consciência que me deram da minha raiz, os horizontes que me revelaram, e a libertação que possibilitaram ao meu imaginário não tem preço. Sem eles o meu pensamento seria outro, e também outra seria a maneira de entender o Mundo.
A maneira como eu me entendo passa sem dúvida pelo material recolhido nestes filmes. A identidade de um povo aqui ficou registada e permanecerá mais demoradamente antes de tudo seja pó. A identidade deste mesmo povo não terá morrido com os muitos que aparecem nas imagens e já partiram. Essa identidade continua viva mas com outras formas que se erguem sobre o alicerce antigo.
Conjuntamente com o jornal às Segundas-Feiras, por mais alguns euros... não deixar escapar a opurtunidade.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

...do interior e do exterior no desenho. (Texto encontrado em folhas soltas de desenho)

se o que desejas é mostrar o que em ti é fora olharás para o sujeito um átimo e baixarás os olhos para o papel durante três expirações;
se em vez disso quiseres mostrar o fora de ti que te é exterior demorar-te-ás igualmente olhando e desenhando;
se pelo contrário quiseres entender o exterior olharás demoradamente fora de ti até que tua mão exite na deriva e careça de ser situada com o risco que a atravessa;
porém se quiseres entender, riscarás e o risco será papel: o dentro e o fora deixarão de ser, tal como o alto e o baixo, após o esfuminho, se tornam liga; tudo é valor que no todo vale e não mais o risco elimina pois tudo traça e corre para lá do horizonte do Sol e da mão arrefecida.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Dalida - de estranhas formas se faz a dor.

Dalida cantou em muitas línguas e em muitas canções de forma ligeira e quase alegre, a dor. A dor dos outros e a sua dor. Dalida escolheu morrer aos 54 anos, muito antes do tempo para viver que era seu.
Às vezes dou por mim a cantar as canções com que ela me alegrou a meninice, e pelas quais lhe sou eternamente grato.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Onde Deus Talvez exista realmente

Ao Oriente donde vem tudo, o dia e a fé,

Ao Oriente pomposo e fanático e quente,

Ao Oriente excessivo que eu nunca verei,

Ao Oriente budista, bramânico, sintoísta,

Ao Oriente que tudo o que nós não temos,

Que tudo o que nós não somos,

Ao Oriente onde – quem sabe? – Cristo talvez ainda hoje viva,

Onde Deus talvez exista realmente e mandando tudo...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Nesse dia morria Cristovam Pavia

A taberna estava aberta, mas fria
e nas mesas de pedra vazia
o lioz enegrecia
sem escabeche, sem capilé, nem malvasia.

parecia segredar a carriça
aos tentilhões amortalhados
em gaiolas suspendidas

"Por mor do cantar se curam feridas".



Como eram belos os braços nus
Da mulher agreste encostada à ombreira
a fazer 35 anos
com o olhar de quem se despe

era aquela luz esmaecida
daquele patamar febril
que lhe dava uma sensualidade
bruxuleante que atordoava o dia

"-Ele não está, foi passear!"



No comboio de primeira se vai passear
No comboio de segunda se vai trabalhar

 


-Que maçada tantas horas...
-Cortaram a via! ...mais demoras.
-O comboio parado desoras...
-E logo neste dia...

Aconteceu a morte
De Cristovam Pavia

sábado, 20 de novembro de 2010

Conversa com ouvido mouco.









-É a Cimeira do quê?...

-Cimeira da NATO!
-Do pato?
-Qual pato, qual pata ...da NATO!
-Do pato e da nata? É de gastronomia?
-É da tua tia... é da OTAN!
-Ah pois! deve fazer azia logo de manhã, é muita gordura junta, talvez seja um prato bom mais para o cair da noite.
-Quando te apresentarem a conta logo vês.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O arroz em nós, ou de que maneira temos o Oriente integrado na nossa cultura.

É garantido que antes de Portugal ter conhecimento directo do Oriente já o Arroz tinha chegado à mesa dos mais ricos e dos mais pobres em Portugal.
 Terá sido D. Dinis (1261-1325) que como é sabido tinha uma mulher que era uma Santa, a Raínha Santa Isabel, que introduziu a cultura do arroz nos campos do Mondêgo lá para os arredores de Coimbra.
Este mesmo rei que pelo plantio de milhões de árvores no chamado Pinhal de Leiria permitiu a futura construção naval que levaria ao massivo desenvolvimento da frota marítima e aos descobrimentos, aos achamentos e aos estabelecimentos de rotas, feitorias, malfeitorias e o resto que todos mais ou menos sabemos.
O plantio de milhões de árvores no chamado Pinhal de Leiria (segundo alguns foram só alguns milhares de árvores e para reforçar um pinhal antigo que já existia) veio de facto combater a erosão da faixa litoral, mas também estabilizar as dunas impedindo que estas invadissem as terras de cultivo,  e possibilitar o cultivo de arroz usando uma técnica antiga de consolidação de margens com o enterramento de pinheiros verdes descascados, em solos de aluvião em que o nível freático se torna mais regulável.
E vai daí actualmente cada português come em média 15 kg de arroz por ano, valor muito muito acima de qualquer outro povo na Europa.

 ...bolinhos (pasteis) de arroz
...caldo de arroz, creme de arroz...
...arroz de caril, arroz de açafrão, arroz de manteiga, arroz de tomate, arroz de ervilhas, arroz de feijão, arroz de grêlos, arroz de cenoura, arroz de míscaros, arroz de legumes, arroz de bróculos, arroz de forno, arroz de pimentos, arroz de castanha,arroz de repôlho...
...arroz com tortulhos, arroz com favas, arroz com feijão, arroz com pinhões, arroz com lentilhas, arroz com couves...
...arroz à lagareiro, arroz à crioula, arroz à transmontana...
...arroz frito, arroz branco...
...arroz doce, bolo de arroz...

e isto para só falar de arroz sem carne, sem peixe e sem sangue.
Qualquer destes pratos pode ser feito com arroz integral ainda que um ou outro seja mais indicado para o arroz descascado.
Metade dos pratos talvez seja preferível espécies japónicas de bago grosso tipo o arroz carolino, outras, talvez arroz índico tipo o arroz agulha.
É claro que cada receita é um tema a partir do qual se fizeram muitas variações.
Já vos dei o arroz por isso bom-apetite e bom-proveito.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Cartas por enviar

São muitas as cartas que ficam por enviar.
Não há razão para que eu as não leve a algum ponto bom para sua remessa: as que têm de se entregar num sítio; as que se devem entregar em mão; as que têm de ir para o circuito postal normal.
É verdade que para minha defesa tenho os últimos casos de arte postal que nunca chegaram ao seu destino.
Um dos postais ainda o guardei aqui no dia 7 de Maio, mas dos outros nada ficou. Aprendi que é obrigatório registar qualquer desenho mais "maneirista". Aquele lembrava a maneira das ilustrações para livros infantis do princípio do séc. XX.
Mesmo assim com registo feito lembro-me de uma encomenda que andou meses, perdida em Itália. Depois de muito esforço só possível porque havia um número de registo que assegurava a sua rastreabilidade, veio resposta do serviço postal Italiano: A morada do destinatário estava incorrecta. O destinatário fez prova de que era correcta a morada e depois de documentos de prova tipo recibos de pagamento de água e energia serem entregues é que a encomenda apareceu toda amachucada, não no destinatário, mas sim no remetente, tendo novamente que ser enviada e dessa vez lá chegou vários meses após a expedição inicial.


A  inércia que me apanha quando a carta está encerrada dentro de um envelope não se deve a nenhum destes contratempos. Hoje posso pensar que a falta de vontade em comunicar se deve à própria inutilidade da comunicação; ao desejo de evitar mal entendidos;  à frustração das expectativas que uma inesperada resposta trará.  Amanhã pensarei talvez que é um acto de vaidade egoísta achar que os outros não se sentem importunados com a minha ostensividade, e por isso continuarei sem enviar a carta. Tenho muitas dezenas de cartas assim. Apanhadas neste limbo da minha própria entropia.
É costume dizer que a conversa é como as cerejas que se colhem do ramo aos pares, um assunto sugere outro até que o tempo para a conversa se acabe, que a barriga fique cheia de cerejas. Para mim que gosto de cerejas mas que sempre as digeri com dificuldade, encaro a conversa verbal e também a epistolar como uma viagem  por uma terra de muitos rios. A travessia para a outra margem em alguns, faz-se por grandes pontes, noutros por passo alargado entre pedras que mal despontam das águas. Independentemente do caudal dos rios ou da distância entre margens às vezes a conversa não chega ao outro lado. A conversa vai  distraída no sentido da foz, pelo seu prório pé, ou com  a ajuda da corrente.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

BILLY JOEL - PIANO MAN. Hino ao ser humano comum.

Um anúncio televisivo vai passando uma canção deste homem do piano. Relembro aqui a que lhe deu o nome e a fama. Esta canção mantém-se há mais de trinta anos com o mesmo poder encantatório. Descreve a duplicidade da vida das pessoas vulgares que mantêm os sonhos em adiamento contínuo, a troco da subsistência numa vida em que o seu potencial é desperdiçado.



domingo, 31 de outubro de 2010

A CÔCA - Abóboras escavadas como caveiras com uma vela dentro.

Dizem ser da tradição anglo-saxónica o costume de escavar abóboras abrindo-lhes buracos nos locais que numa caveira seriam os dos olhos boca e nariz. Talvez sim, mas a primeira vez que tomei contacto com esse tipo artesanal de partida medonha foi na Beira Alta. Nessa altura o "marketing" ainda cá não tinha adquirido esse nome e nas aldeias da freguesia não havia mais que uma televisão que emitia a preto e branco, apenas um canal, durante poucas horas por dia no Café Central do Povo de Crouceão.

O Carlos e a Regina decidiram ensinar-me o que era a Côca e ao mesmo tempo pregar um susto à Carriça. A Senhora Maria como respeitosamente a chamavam, era de todos conhecida como Carriça, talvez por ser pequenina, graciosa e muito rápida como o passarinho do mesmo nome. Assim trouxeram em segredo uma abóbora do Chão da Moenda e com a navalha galega o Carlos foi fazendo a anatomia com incisões expressivas. Na abertura da bocarra da abóbora implantou pedaços de cana-da-índia rachados ao meio. Uma trepanação por uma cercadura alargada do pedúnculo da cucurbita permitiu a aplicação de um coto de sêbo aceso. O trabalho ficou completo quando espetaram a abóbora num fogueiro do carro de bois com a altura de um homem. O breu da noite alimentava a luminosidade bruxuleante  da vela de sêbo mas não o suficiente para que o fio de embrulho que tinham atado na albarda da porta se tornásse visível. Puxaram por ele espaçadamente e as pancadas cadenciadas levantavam a voz da Maria Carriça no interior da casa. Novas pancadas, nova pergunta " Quem é?... Quem é que diga, se vier por bem!..."
A porta não se abriu e a Côca, terror da gente pequena como eu, permaneceu ali na forma tremeluzente de uma projecção feita pela  caveira de uma abóbora fantasmagórica que tinha o tamanho da escuridão.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Gata dormindo.

Esta gata é a "noite e dia". As manchas a preto e branco e uma canção do Cole Porter espremeram-me o nome. Não me lembro de a ter fotografado (Lilazdavioleta acha-a  familiar), este é o segundo desenho que publico dela.
Apareceu-me uma noite vinda de local desconhecido; esquelética, lacrimejando, tossindo e espirrando. Comia vorazmente e sempre de forma inquieta. Aspegic 1000 e muita variedade de comida recuperaram o seu estado de debelidade. É uma gata que afasta todos os machos e todas as fêmeas, mas que se afasta para os gatinhos pequenos comerem. A primeira vez que tentei fazer-lhe uma festa sofri ataque instântaneo com dentada e unhas de ambas as patas. No dia seguinte dei-lhe a mão a cheirar como antes fazia e dessa vez ela lambeu-me a mão duas vezes.
Sofri outros ataques mesmo quando estava a deitar comida para a sua taça ou porque a impaciência era  muita ou porque algum gesto meu lhe activava os mecanismos de defesa. Agora já me permite o toque mas nada de muita intimidade, a não ser que a iniciativa parta dela. É muito curiosa, e destemida. 

sábado, 23 de outubro de 2010

Às vezes penso que é necessário voltar às raízes e ao que é importante. Que coisa mais importante existe que renascer?




Dizem que se trata de uma dança guerreira em que se faz o ataque a um castelo. Nesta dança um guerreiro ajudado pelos companheiros ultrapassa a muralha para o terreno inimigo. As roupas coloridas seriam as insignias dos combatentes antigos, tão antigos que não se sabe a sua identidade.

Para mim penso que é necessário voltar às raízes, pensar de novo em tudo isto que constitui a nossa herança cultural tão diversificada e a perder-se da memória.

Sempre que vejo o "assalto ao castelo" não consigo evitar pensar que aquela dança guerreira só de homens me faz lembrar parte de uma cerimónia iniciática em que se explica a criação e o nascimento.

Como somos hoje aos olhos dos outros neste caso aos olhos russos. (Post retirado do Blog triploV: "O triplo II")

ARTIGO DO “PRAVDA” sobre Portugal

Posted: 22 Oct 2010 03:02 AM PDT

Enviado por: Rui Mendes.                                                                                                                      

Até nos jornais da Rússia (5ª maior economia do mundo) se fala de Portugal e pelos vistos até eles sabem o estado a que isto chegou…


«Foram tomadas medidas draconianas esta semana em Portugal pelo Governo liberal de José Sócrates, um caso de um outro governo de centro-direita pedindo ao povo Português a fazer sacrifícios, um apelo repetido vezes sem fim a esta nação trabalhadora, sofredora, historicamente deslizando cada vez mais no atoleiro da miséria.
E não é porque eles serem portugueses.
Vá ao Luxemburgo, que lidera todos os indicadores socioeconómicos, e você vai descobrir que doze por cento da população é portuguesa, o povo que construiu um império que se estendia por quatro continentes e que controlava o litoral desde Ceuta, na costa atlântica, tornando a costa africana até ao Cabo da Boa Esperança, a costa oriental da África, no Oceano Índico, o Mar Arábico, o Golfo da Pérsia, a costa ocidental da Índia e Sri Lanka. E foi o primeiro povo europeu a chegar ao Japão….e Austrália.
Esta semana, o Primeiro Ministro José Sócrates lançou uma nova onda dos seus pacotes de austeridade, corte de salários e aumento do IVA, mais medidas cosméticas tomadas num clima de política de laboratório por académicos arrogantes e altivos desprovidos de qualquer contacto com o mundo real, um esteio na classe política elitista Português no Partido Social Democrata e Partido Socialista, gangorras de má gestão política que têm assolado o país desde anos 80.
O objectivo? Para reduzir o défice. Por quê?
Porque a União Europeia assim o diz. Mas é só a UE?
Não, não é. O maravilhoso sistema em que a União Europeia deixou-se a ser sugado é aquele em que a agências de Ratings, Fitch, Moody’s e Standard and Poor’s, baseadas nos estados unidos da América (onde havia de ser?) virtual fisicamente controlam as políticas fiscais, económicas e sociais dos Estados-Membros da União Europeia através da atribuição das notações de crédito.
Com amigos como estes organismos, e Bruxelas, quem precisa de inimigos?
Sejamos honestos. A União Europeia é o resultado de um pacto forjado por uma França tremente e com medo, apavorada com a Alemanha depois que suas tropas invadiram seu território três vezes em setenta anos, tomando Paris com facilidade, não só uma vez mas duas vezes, e por uma astuta Alemanha ansiosa para se reinventar após os anos de pesadelo de Hitler. França tem a agricultura, a Alemanha ficou com os mercados para sua indústria.
E Portugal? Olhem para as marcas de automóveis novos conduzidos por motoristas particulares para transportar exércitos de “assessores” (estes> parecem ser imunes a cortes de gastos) e adivinhem de qual país eles vêm?Não, eles não são Peugeot e Citroen ou Renault. Eles são Mercedes e BMWs. Topo-de-gama, é claro.
Os sucessivos governos formados pelos dois principais partidos, PSD (Partido Social Democrata, direita) e PS (Socialista, de centro), têm sistematicamente jogado os interesses de Portugal e dos portugueses pelo esgoto abaixo, destruindo sua agricultura (agricultores portugueses são pagos para não produzir) e sua indústria (desapareceu) e sua pesca (arrastões espanhóis em águas lusas), a troco de quê?
O quê é que as contra-partidas renderam, a não ser a aniquilação total de qualquer possibilidade de criar emprego e riqueza em uma base sustentável?
Aníbal Cavaco Silva, agora Presidente, mas primeiro-ministro durante uma  década, entre 1985 e 1995, anos em que estavam despejando bilhões através das suas mãos a partir dos fundos estruturais e do desenvolvimento da UE, é um excelente exemplo de um dos melhores políticos de Portugal. Eleito fundamentalmente porque ele é considerado “sério” e “honesto” (em terra de cegos, quem vê é rei), como se isso fosse um motivo para eleger um líder(que só em Portugal, é) e como se a maioria dos restantes políticos (PSD/PS) fossem um bando de sanguessugas e parasitas inúteis (que são), ele é o pai do défice público em Portugal e o campeão de gastos públicos.
A sua “política de betão” foi bem concebida, mas como sempre, mal planeada, o resultado de uma inepta, descoordenada e, às vezes inexistente localização no modelo governativo do departamento do Ordenamento do Território, vergado, como habitualmente, a interesses investidos que sugam o país e seu povo.
Uma grande parte dos fundos da UE foram canalizadas para a construção de pontes e auto-estradas para abrir o país a Lisboa, facilitando o transporte interno e fomentando a construção de parques industriais nas cidades do interior para atrair a grande parte da população que assentava no litoral.
O resultado concreto, foi que as pessoas agora tinham os meios para fugirem do interior e chegar ao litoral ainda mais rápido. Os parques industriais nunca ficaram repletos e as indústrias que foram criadas, em muitos casos já fecharam.
Uma grande percentagem do dinheiro dos contribuintes da UE vaporizou em empresas e esquemas fantasmas. Foram comprados Ferraris. Foram encomendados Lamborghini. Maserati. Foram organizadas caçadas de javali em Espanha.
Foram remodeladas casas particulares. O Governo e Aníbal Silva ficou a observar, no seu primeiro mandato, enquanto o dinheiro foi desperdiçado. No seu segundo mandato, Aníbal Silva ficou a observar os membros do seu governo a perderem o controle e a participarem. Então, ele tentou desesperadamente distanciar-se do seu próprio partido político. E ele é um dos melhores.
Depois de Aníbal Silva veio o bem-intencionado e humanitário, António Guterres (PS), um excelente Alto Comissário para os Refugiados e um candidato perfeito para Secretário-Geral da ONU, mas um buraco negro em termos de (má) gestão financeira. Ele foi seguido pelo diplomata excelente mas abominável primeiro-ministro José Barroso (PSD) (agora Presidente da Comissão da EU, “Eu vou ser primeiro-ministro, só que não sei quando”) que criou mais problemas com seu discurso do que ele resolveu, passou a batata quente para Pedro Lopes (PSD), que não tinha qualquer hipótese ou capacidade para governar e não viu a armadilha. Resultando em dois mandatos de José Sócrates; um Ministro do Ambiente competente, que até formou um bom governo de maioria e tentou corajosamente corrigir erros anteriores. Mas foi rapidamente asfixiado por interesses instalados.
Agora, as medidas de austeridade apresentadas por este primeiro-ministro, são o resultado da sua própria inépcia para enfrentar esses interesses, no período que antecedeu a última crise mundial do capitalismo (aquela em que os líderes financeiros do mundo foram buscar três triliões de dólares de um dia para o outro para salvar uma mão cheia de banqueiros irresponsáveis, enquanto nada foi produzido para pagar pensões dignas, programas de saúde ou projectos de educação).
E, assim como seus antecessores, José Sócrates, agora com minoria, demonstra falta de inteligência emocional, permitindo que os seus ministros pratiquem e implementem políticas de laboratório, que obviamente serão contra-producentes. Pravda.Ru entrevistou 100 funcionários, cujos salários vão ser reduzidos. Aqui estão os resultados:
Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou trabalhar menos (94%).
Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou fazer o meu melhor para me aposentar cedo, mudar de emprego ou abandonar o país (5%) Concordo com o sacrifício (1%) Um por cento. Quanto ao aumento dos impostos, a reacção imediata será que a economia encolhe ainda mais enquanto as pessoas começam a fazer reduções simbólicas, que multiplicado pela população de Portugal,10 milhões, afectará a criação de postos de trabalho, implicando a > obrigatoriedade do Estado a intervir e evidentemente enviará a economia para uma segunda (e no caso de Portugal, contínua)recessão. Não é preciso ser cientista de física quântica para perceber isso. O idiota e avançado mental que sonhou com esses esquemas, tem resultados num pedaço de papel, onde eles vão ficar.
É verdade, as medidas são um sinal claro para as agências de ratings que o Governo de Portugal está disposto a tomar medidas fortes, mas à custa, como sempre, do povo português. Quanto ao futuro, as pesquisas de opinião providenciam uma previsão de um retorno para o PSD, enquanto os partidos de esquerda (Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português) não conseguem convencer o eleitorado de suas ideias e propostas.
Só em Portugal, a classe elitista dos políticos PSD/PS seria capaz de punir o povo por se atrever a ser independente. Essa classe, enviou os interesses de Portugal no ralo, pediu sacrifícios ao longo de décadas, não produziu nada e continuou a massacrar o povo com mais castigos. Esses traidores estão levando cada vez mais portugueses a questionarem se deveriam ter sido assimilados há séculos, pela Espanha. Que convidativo, o ditado português “Quem não está bem, que se mude”. Certo, bem longe de Portugal, como todos os que possam, estão fazendo. Bons estudantes a jorrarem pelas fronteiras fora. Que comentário lamentável para um país maravilhoso, um povo fantástico, e uma classe política abominável.

Timothy Bancroft-Hinchey
Pravda.Ru






domingo, 17 de outubro de 2010

Os ricos são mais ricos e os pobres mais pobres.

Portugal é o país da União Europeia em que há a maior diferença de rendimento entre ricos e pobres. Os ricos são mais ricos e os pobres mais pobres.

Limpando canetas III

Vai lá nesse chão
onde nem as pedras
souberam de água
 deita o teu suór
e a semente.

Limpando canetas II


Se não contais
árvores só
as pedras
nos poderão matar
a sede.






Limpando canetas I

As canetas não
                                           tremem nem gemem
                                           no apogeu
                                           de incontáveis
                                           versos
                                           mas secam.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Brahms e Schumann como são difíceis de tragar,

qualquer escuta mais ligeira faz maravilhas ao ouvido, mas não cessa o descarrilamento quando o ouvido se empenha em escutar. Uma voz divina que pertence a Gundula Janowitz.(Johannes Brahms "Um Requiem Alemão")

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Exposição No meio do caminho

De que pedra fala Carlos Drummond de Andrade? Há quem diga que na altura em que escreveu o poema, o poeta teria sofrido de cálculos renais, ou pelo menos teria presenciado o violento sofrimento que tal enfermidade provoca. Há quem diga que “pedra” designa a dose de haxixe suficiente para causar alucinações e nesse sentido designaria a própria alucinação. Seja a pedra qual for, pedras há muitas. Há pedras gigantescas do tamanho de montanhas e pedras tão pequenas que se introduzem no sapato. Sejam as pedras concretas ou fruto da imaginação, as pedras no caminho são para o caminhante obstáculos a transpor, dificuldades a superar. A pedra em si é sinónimo de barreira a ultrapassar. Porém a verdadeira pedra é a força de vontade e a resiliência que é preciso ter para vencer a adversidade. Esta exposição pretende estar dentro do seu tempo e trazer pedras que fomos encontrando e resolvendo no nosso quotidiano. Nas peças que mostramos há pedras que ainda de pedra são, mas já parecem de pedra não ser, pelo prodígio de terem adquirido leveza e movimento. Esta imaterialidade atingida pelas esculturas em pedra de Beatriz Cunha é continuação do trabalho anterior em bronze. A temática da exposição engloba também um núcleo votivo. Ex-voto é o nome latino dado na Roma pagã e depois cristã a quem queria agradecer a uma divindade a graça recebida, mas a prática votiva existiu desde sempre em todas as culturas. Os ex-votos são testemunho da vitória sobre as pedras no caminho. São uma prova da vitalidade da arte desde tempo pré-histórico, ainda antes de se chamar arte. O ex-voto actualmente faz parte da arte dita popular, mas em rigor, arriscamos dizer que toda a arte é ex-voto. A arte não é apenas para os endinheirados, os ex-votos populares ensinaram-nos que mesmo em tempo de dificuldade o mais humilde ofertante compra uma escultura ou pintura para agradecer o seu bem-estar. A sua aflição ganha ainda uma carga altruísta e honorífica quando faz a partilha pública do sofrimento privado e o torna ensinamento e prova de superação. ------------------------------------ Luís Filipe Gomes Setembro 2010

Estão todos convidados...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Cindy-O pequeno leão cinzento.

FRA de Vive la France

Léo Ferré morreu num dia assim. Em Paris nos altifalantes do 14 de Julho cantava Léo alto falante. O meu pequeno leão cinzento de trazer por casa morreu hoje. Era só uma gata cinzenta que não via e ouvia mal e me esperava de manhã, ou se sentava entre os meus pés quando eu me sentava. Quando não podermos mais caminhar o que seremos? Poderemos ainda gritar FRA?

Vislumbres de Constança Lucas Poema Visual em Arte Postal

Chegou há uma semana. Muito agradecido Constança, desculpa tanta demora em acusar a recepção, mas às vezes não há mesmo tempo, nem para dormir.

sábado, 3 de julho de 2010

para a Beatriz

O papel usado para embrulhar o pão.

Fôsse eu de outra cêpa e teria recebido cadernos para desenho com páginas de brancura irrepreensível; livros de papel de alvura ligeiramente desmaiada para que o branco pudesse ser usado também como cor; folhas de papel sem mácula em resmas sem parcimónia… Mas não; o que logo me deram foram pedaços de papel alisado sem sucesso, em que o vestígio do que esteve embrulhado imprimira como em sudário, a fibra moldável do embrulho. O papel de embrulhar o pão era o mais asseado. Não por ser o mais uniformemente limpo de vestígios, mas porque o pão lhe dava uma sacralidade imaculada e ritual. Uma pureza advinda de uma substância abençoada capaz de saciar a alma e a fome matinal. Desejava sempre que as folhas fossem da compra de pelo menos 16 carcaças, ou ainda melhor se fossem 16 papo-sêcos; daqueles que o padeiro após cortar as 40 grama de massa, volteava e enrolava as pontas fazendo dois bicos de mama em cada extremidade da carcaça. As carcaças sem bico cabiam em papel mais pequeno mas os dezasseis papo-sêcos obrigavam a que o caixeiro da padaria tivesse de utilizar uma folha inteira. Este papel do pão aparecia côr de rosa escuro, côr de café com leite e cinzento claro. Qualquer gota de água o fragilizava e rompia facilmente. Seria um problema pintar nele com aguarelas ou guache mas isso eram coisas que eu não tinha. O papel de embrulhar o pão era uma aventura em si. As impurezas abundantes não interferiam com o desenho que eu fizesse e criavam um cenário que a princípio me desgostava mas depois se tornou numa espécie de paisagem de fundo. Os detritos mostravam ciscos e grãos sobejantes de outros papéis que em outras vidas tinham tido côr semelhante e ao serem desfeitos e novamente amassados nasciam para uma das funções mais nobres e breves da vida de uma folha de papel: embrulhar o pão-nosso de cada dia.__________________________________________ Papel pautado não é bom para desenhar._____ Mais tarde nos primeiros cadernos escolares que tive, preenchi com desenhos as últimas folhas porque a sua utilização futura me parecia ser tão longínqua que talvez não chegasse nunca. Essa atitude foi fortemente desencorajada com enérgicas bofetadas da mestra explicadora. Esta espécie de pré-primária particular era ministrada por uma senhora professora reformada que me deixava em espera durante horas de interminável tédio, e não me ensinava a ler por estar ocupada com as explicações a alunos que já andavam na escola e tinham dificuldades. Não sei se tal violência e a forma indigna como os meus desenhos, usados como prova do meu desleixo em resposta a indagação dos meus pais sobre a minha lenta progressão foram a causa de desgosto na utilização de papel pautado. Não foi suporte que eu gostásse, apenas tinha usado como recurso. Ainda hoje não gosto de desenhar sobre papel pautado ou quadriculado. Mesmo para escrever, não o prefiro. Uma vez há muitos anos vi uma exposição de desenhos feitos sobre papel pautado, institucional, tipo Papel Almaço; daquele em que se prestavam as provas de passagem de classe e o Primeiro Exame no final dos quatro anos de escolaridade iniciais. Eram desenhos feitos por adultos mas tinham a aparência de serem infantis como os que eu poderia ter feito na altura em que me desencorajaram a não desenhar no papel de linhas. Tais desenhos pertenciam a homens e mulheres das Nações Indígenas dos E.U.A. Datavam dos finais do séc. XIX, quando estes povos foram confinados a territórios restritos e submetidos a evangelização. O papel pautado tinha sido abandonado como desperdício em antigas instalações militares desmanteladas. As velhas casernas eram os locais onde os “índios” tinham sido acantonados antes da sua deslocação para os territórios das chamadas reservas ficando desde logo impedidos de serem nómadas e seguirem as Estações e a Natureza. Os desenhos simples descreviam cenas da sua vida quotidiana mas neles havia uma conformação que nos poderosos desenhos simbólicos feitos em plena liberdade para ilustração das suas tendas de nómadas parecia não existir. Ficaram-me esses desenhos na memória, a par dos meus, e a certeza que o papel pautado não é bom para desenhar.________________________________ A folha em branco. Esta divagação sem sentido aparente, tinha por objectivo falar desse bloqueio que muita gente diz sentir face à folha em branco. Qualquer papel cuja tez não indicie dignidade para algo mais do que um rascunho, um esboço, um estudo preparatório perde a carga intimidatória e os mais sensíveis perdem o acanhamento e sem qualquer peia seguem livremente criando. Anos mais tarde talvez tivesse doze anos, assisti à explicação de como se poderia desenhar a forma complicada de um copo ou uma garrafa em que a falta de simetria das curvas denuncia logo a falta de rigor do desenho ou a incapacidade da mão seguir o olhar. Era uma técnica simples e para mim intuitiva. Riscar linhas de contorno sucessivas em busca da linha correcta. Primeiro no ar seguindo o contorno do objecto, depois no papel o mais levemente possível. Aos poucos a forma aparecia esbatida como que envolta por nevoeiro. Com a borracha tiravam-se as linhas que agora claramente excessivas se percebia não serem as correctas para capturar a forma do objecto. Ver as coisas explicadas daquela maneira deu claridade ao caminho que eu trilhava na escuridão. Foi uma revelação perceber que poderia chegar sózinho a conclusões sistematizadas por outros. Nessa altura descobri então outra coisa. É que não havia linhas incorrectas ou supérfluas. Todas são úteis e se forem demasiadas para que a forma se veja então é porque ainda são poucas para dar corpo à forma e densidade ao fundo.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Céu Barroco

Eu pintava céus carregados de pequenas núvens brilhantes de todas as cores: esverdeadas, rosa, laranja. Diziam que não, que eu devia andar a chupar umas fumaças de liamba...Afinal a natureza é o que é; dá as substâncias para a viagem e mostra horizontes tão fantásticos como aqueles que os viajantes disseram ter visto.