sexta-feira, 29 de maio de 2015

A sensibilidade é um fardo e um estorvo!

Em dez pessoas que bebam café acabado de fazer, o mais sensível continuará esperando que o café arrefeça. Escaldar-se-á, ou acabará por não beber o café para não fazer esperar os outros.































sexta-feira, 22 de maio de 2015

O Adivinho.

Mago Africano, Professor, Vidente e Evidente Presidente, evidentemente!
Mas não é este do boneco, é o outro magrinho, que lança perdigotos e é diferente.


















 Pois se ele lá em Belém até conhece o Pai Natal, o Menino Jesus, o Burrinho, a Vaquinha e as Palhinhas!

sexta-feira, 15 de maio de 2015

As flores sêcas do jasmim. Esta é a segunda fotografia em resposta ao desafio feito pelo Diogo Rosa. É também um convite e um desafio para a Beatriz Cunha, para o Monteiro Gil e para a Rosa Reis que tanto me têm ensinado com a sua maneira de olhar e ver.


Sobre a minha fotografia de hoje direi:
A fotografia foi tirada como um instantâneo, uma fotografia que se disparou sem preparação nem estudo prévio e mostra uma planta de jasmim.

O jasmim é uma trepadeira sempre verde não espinhosa que permite fazer sebes e latadas dando sombra e servindo de vedação e corta vento. Florescem até duas vezes por ano. Esta fotografia tirada ontem mostra a floração da Primavera na sua fase avançada. 
As flores brancas de alvura flamejante produzem um efeito visual  apaziguador por contraste com o verde escuro das folhas. Durante a floração o perfume muito intenso torna-se quase inebriante e com a aragem por vezes provoca uma sensação de onda que leva o olfactante a semi-serrar os olhos. O seu aroma quase orgânico confunde o nosso olfacto e provoca um efeito semelhante ao das feromonas sexuais.
O jasmim é muito usado pelos perfumistas mas também o chamado chá de jasmim e o exótico arroz basmati são aromatizados com as flores da planta. No caso do chá é mesmo possível encontar entre as suas folhas as florinhas desidratadas semelhantes às que se podem ver na fotografia.

Esta fotografia pode ser interpretada como metáfora da maneira como eu me vejo nesta fase da minha vida consciente. O plano central mostra os despojos de uma maturidade adquirida, o desfocado primeiro plano simboliza o percurso prévio cuja imagem, apesar da maior escala, não permite ver a definição de contornos e só me vai chegando diluída e difusa mais como imaginação do que como realidade. O plano de fundo ofuscado pela luz é o futuro. Também ele é pouco nítido, também ele é mais imaginado e direccionado pelo fluir ao acaso das gavinhas do que pelo apontar de um alvo para o qual se dispara.

Concluo dizendo-vos que face a tão demorada explicação de uma fotografia, aos tipos que desenham como é o caso, o melhor é fornecer-lhes alguma coisa que risque e alguma coisa onde riscar pois de outro modo não param de falar/escrever.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Quinta-feira da Ascenção. Que te não falte A Luz, A Saúde, A Alegria, O Pão, O Ouro e A Prata.


Contentador de Quinta-feira da Ascensão. Primeira Fotografia da resposta ao desafio do amigo Diogo Rosa. Desafio que consiste em publicar fotos de flores durante três dias seguidos, e depois lançar novo desafio a três outras pessoas.




























  Esta fotografia aborda o tema através da representação gráfica que sugerem a palavra flor ou a palavra flores. Essa representação gráfica está patente num desenho feito por mim numa caixa Contentador e no motivo floral do lenço estampado onde a caixa está depositada. O lenço terá sido feito nos anos 30 do século passado, a sua proveniência provável é da região de Barrancos no Alentejo e terá feito parte da indumentária de uma trabalhadora agrícola, precisamente das que andavam nos campos entre papoilas cegando o pão.

 

Afinal o que são contentadores

Contentadores são surpresas. Os contentadores são prendas. Os contentadores são tributos, são memórias, são garrafas de náufrago. São evocação e representação. Os contentadores podem ser bólides ou penetráveis á maneira do Grande Artista Hélio Oiticica. Podem ser mandalas. Podem ser comestíveis. Os contentadores são cápsulas do tempo. Os contentadores podem ser caixas ou envelopes de correio, arte postal, mas não são apenas isso. Podem ser a formulação de um desejo, ou o agradecimento pela superação de uma situação aflitiva e haverá vezes que isso é bastante. São também objectos de reflexão. Os contentadores podem causar inquietação se ela fôr necessária. Os contentadores são objectos de contemplação. Os contentadores são comunicação à maneira de Almada Negreiros. Os contentadores são arte popular, são transformação, são reutilização e são reciclagem. Os contentadores são símbolos e florestas de símbolos. Os contentadores são a árvore pela floresta, ou a própria floresta. Os contentadores são fenómeno, espontaneidade e liberdade. Os contentadores são realização e interpretação, são “objectos encontrados”, são “já feitos”, são criação individual e colectiva. Os contentadores são Arte e Vida

segunda-feira, 11 de maio de 2015

"Mas esse tal de Monteverdi não fazia música p'ra missas?" - "Sì dolce è 'l tormento" de Carlo Milanuzzi com música de Claudio Monteverdi (1567-1643).


Si dolce è'l tormento
Ch'in seno mi sta,
Ch'io vivo contento
Per cruda beltà.
Nel ciel di bellezza
S'accreschi fierezza
Et manchi pietà:
Che sempre qual scoglio
All'onda d'orgoglio
Mia fede sarà.
La speme fallace
Rivolgam' il piè.
Diletto ne pace
Non scendano a me.
E l'empia ch'adoro
Mi nieghi ristoro
Di buona mercè:
Tra doglia infinita,
Tra speme tradita
Vivrà la mia fè.
Per foco e per gelo
Riposo non hò.
Nel porto del Cielo
Riposo haverò.
Se colpo mortale
Con rigido strale
Il cor m'impiagò,
Cangiando mia sorte
Col dardo di morte
Il cor sanerò.
Se fiamma d'amore
Già mai non sentì
Quel riggido core
Ch'il cor mi rapì,
Se nega pietate
La cruda beltate
Che l'alma invaghì:
Ben fia che dolente,
Pentita e languente
Sospirimi un dì.


A versão mais sentidamente dorida:


A versão jazz:


 A versão renascentista:



A versão filme:

 A versão barrôca uma forma jazz antes dele ser, segue para outros temas, quem é que aguenta sentado sem marcar o ritmo, sem bater o pé ou bater as palmas?




sábado, 9 de maio de 2015

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Riccardo Broschi - 1698-1756 "Chi non sente" - Quem não sente...

 Riccardo Broschi - (1698-1756)
"Chi non sente" da Ópera Merope (1732) libreto de Apostolo Zeno

Canta Epitide filho de Merope:

Chi non sente al mio dolore
Qualche affanno dentro al core
Vada pur tra foschi orrori
Tra le valli a sospirar.

 Il mio bene, il padre, il regno
Mi ha rapito fato indegno.
Sommi Dei, se giusti siete
Fin ponete al mio penar.




Simone Kermes - Soprano
Le Musiche Nove - Claudio Osele
Pintura - Roman Reisinger

 





O sono leve da gata.


domingo, 3 de maio de 2015

Moorsoldaten


Hannes Wader canta "Das Lied der Moorsoldaten"




A canção foi composta por prisioneiros políticos opositores do Regime Nazi do Terceiro Reich Alemão: um trabalhador do comércio chamado Rudi Goguel fez a música sobre versos de um mineiro chamado Johann Esser e de um actor de nome Wolfgang Langhoff. A canção nasceu por volta de Agosto do ano de 1933 num dos primeiros campos de concentração planeado pelos ideólogos nazis para segregação e afastamento de opositores políticos, nomeadamente comunistas e socialistas.

O campo foi estabelecido em zona pantanosa do Rio Ems numa região da Baixa Saxónia junto da actual fronteira que separa a Alemanha da Holanda.

Nos terrenos alagados e lamacentos os prisioneiros eram obrigados a trabalhos forçados.

Os prisioneiros que dispunham apenas de ferramentas rudimentares com elas cavavam as turfeiras e os fundos argilosos dos paúis retirando esses materiais e fazendo a exploração agrícola dos terrenos drenados. O trabalho em jornadas longas, a subnutrição, a exposição aos elementos e a brutalidade dos carcereiros tornavam a vida numa batalha de sobrevivência diária.

Em 27 de Agosto de 1933 a canção terá sido cantada pela primeira vez num espetáculo chamado Zirkus Konzentrazani e que terá sido como que um ensaio para outras encenações posteriormente feitas de forma mais aperfeiçoada como em Theresienstadt.

Um coro de 16 prisioneiros, com os uniformes verdes dos prisioneiros desse tempo, interpretava uma trupe soldadesca e de pá ao ombro imitava uma marcha. O grupo era feito a partir de cantores oriundos do Coral de Solingen uma cidade alemã muito conhecida pela qualidade da sua metalurgia, cognominada a cidade das lâminas. Lembro-me da estimação que a minha mãe sempre teve e tem em duas tesouras Solingen que talvez ainda tenham sido feitas por operários desse tempo.



Alguns dos prisioneiros que conseguiram completar a pena exilaram-se em Inglaterra junto de outros alemães perseguidos e por volta de 1936 Hans Heisler que trabalhava com Bertolt Brecht faz uma adaptação da música para o cantor Ernst Busch. Em 1937 Busch parte para Espanha para se juntar às Brigadas Internacionais que lutavam para defender o Governo Espanhol da Républica que fora legitimamente eleito em eleições livres e democráticas. Este Governo Republicano é atacado pela alta finança industrial que usando os fascismos europeus de vários matizes se une em torno de um general brutal que tinha sido afastado para as Ilhas Canárias devido à violência com que tinha reprimido movimentos grevistas de mineiros e operários das Astúrias. Esse general, apoiado pelo regime nazi, provocou uma guerra civil que durou três anos, derrubou o Governo Republicano e deixou feridas que ainda hoje estão por sarar nas diversas Regiões e Regiões Autonómicas de Espanha. A ditadura e o regime totalitário que encabeçou duraram até que morreu em 1975.



A canção foi-se espalhando, alguns dos milhares de prisioneiros presentes na sua estreia no Campo de Concentração de Börgermoor e que tinham cantado em coro o refrão, foram transferidos para outros campos como Birkenau e Auschwitz e talvez daí a sua popularidade crescente entre os sobreviventes da Guerra Civil Espanhola, dos Campos de Concentração, os resistentes ao regime nazi, os sobreviventes da Guerra Mundial de 1939-1945, e entre os opositores da guerra em geral.
 Foram feitas muitas versões da canção e em várias línguas. Pete Seeger que interpretou a canção contou que ficou surpreendido pela quantidade de pessoas que no Madison Square Garden de Nova Iorque conheciam e cantaram com ele a versão original em alemão. Ao que parece a canção vai passando de geração em geração.



E agora uma traduçãozita rudimentar de minha lavra. Convido e agradeço que a possam fazer melhor.

Até onde a vista alcança
Charneca pantanosa em redor
Nem os trinados alegram
As carvalhas nuas e retorcidas
Somos soldados palustres
E arrastamo-nos com as pás
Pelos pântanos!

Aqui na charneca desolada
Planearam neste campo nos concentrar
Longe de qualquer alegria escondidos
Atrás do arame farpado
Somos soldados palustres
E arrastamo-nos com as pás
Pelos pântanos!


Manhãzinha; arrastamo-nos em colunas
Em direcção ao pântano onde trabalhamos
Escavando sob o sol ardente
Com os pensamentos na nossa terrinha
Somos soldados palustres
E arrastamo-nos com as pás
Pelos pântanos!


Esperança temos de regressar a casa
Para os nossos pais mulher e filhos
Do peito soltam-se suspiros
Por quanto aqui ficamos aprisionados
Somos soldados palustres
E arrastamo-nos com as pás
Pelos pântanos!


Acima e abaixo andam as sentinelas
Ninguém, ninguém consegue escapar
A fuga paga-se com a vida
Com quatro cercas é o Burgo vedado
Somos soldados palustres
E arrastamo-nos com as pás
Pelos pântanos!


Ainda assim não nos queixamos
O Inverno não dura sempre!
Temos vontade de uma vez dizer felizes
Terra natal de novo és minha
Então os soldados palustres
Nunca mais se arrastarão com as pás
Nos pântanos!






Wohin auch das Auge blicket, 
Moor und Heide nur ringsum. 
Vogelsang uns nicht erquicket, 
Eichen stehen kahl und krumm. 
Wir sind die Moorsoldaten  
und ziehen mit dem Spaten  
ins Moor. 


Hier in dieser öden Heide 
ist das Lager aufgebaut, 
wo wir fern von jeder Freude 
hinter Stacheldraht verstaut. 
Wir sind die Moorsoldaten  
und ziehen mit dem Spaten  
ins Moor.  


Morgens ziehen die Kolonnen  
durch das Moor zur Arbeit hin.
Graben bei dem Brand der Sonne, 
doch zur Heimat steht der Sinn. 
Wir sind die Moorsoldaten  
und ziehen mit dem Spaten  
ins Moor. 


Heimwärts, heimwärts jeder sehnet, 
zu den Eltern, Weib und Kind. 
Manche Brust ein Seufzer dehnet, 
weil wir hier gefangen sind. 
Wir sind die Moorsoldaten  
und ziehen mit dem Spaten  
ins Moor. 


Auf und nieder gehn die Posten, 
keiner, keiner kann hindurch. 
Flucht wird nur das Leben kosten, 
Vierfach ist umzäunt die Burg. 
Wir sind die Moorsoldaten  
und ziehen mit dem Spaten  
ins Moor. 


Doch für uns gibt es kein Klagen, 
ewig kann's nicht Winter sein. 
Einmal werden froh wir sagen: 
Heimat, du bist wieder mein. 
Dann ziehn die Moorsoldaten  
nicht mehr mit dem Spaten  
ins Moor!