quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Em Oeiras no Parque dos Poetas foi hoje inaugurado o conjunto escultórico de Nangachinu Ntaluma que homenageia o poeta José Craveirinha. Na fotografia vista parcial das esculturas, a neta de José Craveirinha e o escultor.



















As esculturas inspiraram-se no poema "QUERO SER TAMBOR".

Tambor está velho de gritar
ó velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só tambor gritando na noite quente dos trópicos.

E nem flor nascida no mato do desespero.
Nem rio correndo para o mar do desespero.
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero.
Nem mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.

Nem nada!

Só tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra.
Só tambor de pele curtida ao sol da minha terra.
Só tambor cavado nos troncos duros da minha terra!

Eu!
Só tambor rebentando o silêncio amargo da Mafalala.
Só tambor velho de sangrar no batuque do meu povo.
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.

Ó velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.

Só tambor ecoando a canção da força e da vida
só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até à consumação da grande festa do batuque!

Oh, velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!

Ora Abóbora!


quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Escultura de Beatriz Cunha da série "Polígono Conectivos".


A série de esculturas designada por “Polígonos Conectivos” tem a beleza química dos cristais.
Há uma linha construtiva rigorosa e apurada, elementar como nas moléculas. Percebe-se uma arquitectura fractal. Edificações de uma cidade utópica.
Simultâneamente recolha de vestígios e interpretações de fragmentos arqueológicos.
Paciência de puzzle, quebra-cabeças meditativo. 
Salvados de naufrágio que deram à costa.
Até à praia a maré trouxe as cores preferidas das pessoas que os pintaram, brilham como facetas polidas das contas de um colar que dança ao ritmo de música Jazz.
A intuição e o contra-intuitivo.
Busca da parte no todo e do infinito dentro de um espaço limitado.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Para Ana Cristina Cesar sem saber porquê e para quê, como se fosse poesia. "Coisa sem princípio esta de começar no fim!"






























Coisa sem princípio
esta de começar no fim!
Direi então
que me atraem os poetas suicidas,
como um lume inexplicável na noite escura.

Por fotografia
quem poderia imaginar
que as auroras boreais têm tamanha agitação?
ou que tal como miragens,
existem fogos fátuos? …e pirilampos !?

Ando a ver mal, chora-me o olho direito,
que não é o olho dominante,
o da mira do caçador
e vejo mosquitos
cadentes, como meteoros lentos.

-por uma vez ouvi um meteoro
restolhar no céu nocturno
frigindo o ar em artificiosas cores-

Houve um tempo em que eu
soube  dizer ao olhar para as chispas
com que a rebarbadora pulverizava o aço
qual a sua percentagem em carbono.
Um pirotécnico que saiba dar cores à sua pólvora
saberia a composição química da minha estrela cadente,
como eu soube logo não ser estrela
porque as estrelas não caem nem fazem ruído
e se perpetuam no céu para lá da sua morte.

Nada desejei da raridade daquele avistamento
e o que desejaria?... 
a não ser talvez saber
a distância entre mim e aquele meteoro
que possibilitou a proximidade de entendê-lo soar;
ou talvez que nome dar àquele roçagar luminoso
que esfrolou crepitante o breu,
uma deflagração sem estoiro,
um ruflar de vestes, antes do silêncio.

A percentagem de carbono é uma forma de dureza
que perpassa no aço 
e nos traços do lápis com que desenho,
é aparente e invisível
como os mosquitos dos meus olhos o são para outros
por serem sombras na minha retina  
e é invisível por ser uma organização estrutural microscópica
que só se revela quando depois de polir uma amostra do aço
até ele se tornar um espelho 
se macula a sua superfície cegando-a num ácido.

Os aços possibilitaram as construções em grande altura
o arranha-céus primordial tinha só dez andares
depois aumentaram mais dois,
era pertença de uma companhia de seguros,
mas não se atreveram a que chegasse aos treze.
Nenhum edifício deveria ter treze andares.
e se a sofreguidão subisse além do alcance da imaginação
que o bombeiro Conrad Magirus  pudesse ter 
para uma escada de salvação
o 13º andar não deveria existir.
Como nos edifícios em que se passa do 12º para o 14º andar.

Ninguém sabe quantos os degraus da escada de Jacó.
Sabe-se que do Céu desciam e subiam anjos por ela
como poetas que cristalizassem num sonho
a dor real do sofrimento alheio.

Nenhum edifício deveria ter treze andares
e eis tudo.



Luís Filipe Gomes
Outubro de 2019


quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Chiquinha Gonzaga ou o Dia da Música no Brasil

Hoje no Brasil comemora-se o Dia da Música. 
Isso se deve a esta Senhora:
Francisca Edwiges Neves Gonzaga.





quinta-feira, 3 de outubro de 2019