sábado, 29 de setembro de 2012

Roubaram a cana-de-pescar!

Salomé Leclerc canta um tema dos Noir Desir



Je n'ai pas peur de la route

Faudrait voir, faut qu'on y goûte
Des méandres au creux des reins
Et tout ira bien là
Le vent nous portera

Ton message à la Grande Ourse
Et la trajectoire de la course
Un instantané de velours
Même s'il ne sert à rien va
Le vent l'emportera
Tout disparaîtra mais
Le vent nous portera

La caresse et la mitraille
Et cette plaie qui nous tiraille
Le palais des autres jours
D'hier et demain
Le vent les portera

Génetique en bandouillère
Des chromosomes dans l'atmosphère
Des taxis pour les galaxies
Et mon tapis volant dis
Le vent l'emportera
Tout disparaîtra mais
Le vent nous portera

Ce parfum de nos années mortes
Ce qui peut frapper à ta porte
Infinité de destins
On en pose un et qu'est-ce qu'on en retient?
Le vent l'emportera

Pendant que la marée monte
Et que chacun refait ses comptes
J'emmène au creux de mon ombre
Des poussières de toi
Le vent les portera
Tout disparaîtra mais
Le vent nous portera



terça-feira, 25 de setembro de 2012

Esforçados uns e outros não.


Um coelho faz tarimba
na liteira do sultão
e assim se marimba
para o esforço da Nação.





sábado, 22 de setembro de 2012

A Folia, a cravagem do centeio e o Fogo de Santo Antão.




Pieter Bruegel-O Velho
"A dança dos camponeses"
A Folia, o dar ao fole, seja o da gaita ou o arfar do folião pode ser também entendida como uma espécie de alegria desvairada. Um estado eufórico de pré-loucura ou mesmo um estado de intoxicação. Intoxicação que pode ser sugestionada, como um transe; ou provocada por alguma substância ingerida.



Pieter Bruegel-O Velho
"A dança do mastro de Maio"

Na ”Idade da Folia” bebiam-se uns copitos valentes, comiam-se uns cogumelos parvos, bebiam-se umas infusões galdérias e defumavam-se umas ervas doidas. Além destas coisas menos sacras parece que o maior pecado era causado pelo pão. Ou pela falta dele.
Pieter Bruegel-O Velho
"A quermesse de S. Jorge"
A falta de “pão” é sabido que leva a maior fragilidade física. Acrescer a escassez alimentar com esforço físico e pouco descanso provoca desfalecimentos muitas vezes acompanhados de alucinações auditivas e visuais. As descrições dos êxtases místicos de santos e santas foram encarados de maneira diferente quando informação histórica mais detalhada entendeu os limites a que se submeteram, levando uma vida de privação e austeridade extremas: Longos jejuns, pouco tempo de descanso, longas horas de vigília em oração e trabalho físico intenso.
Se não há falta de pão, a causa da alteração de consciência, a tal intoxicação pode estar no próprio pão. Isto é, não no pão, pois o pão é sagrado nem que seja pela sua função de saciar e nutrir, mas sim num parasita que esteja no pão. Por exemplo um fungo.

O fungo das espigas de centeio confunde-se com os grãos por ter uma forma semelhante e parecer à primeira vista um grão mais comprido e torrado. Chama-se a este fungo tóxico, esporão do centeio ou cravagem do centeio. Os enfermos do envenenamento pela cravagem do centeio (em francês esporão=ergot) são vítimas da ergotamina. A ergotamina é uma substância que no séc. XX recebeu grande publicidade por estar na base do LSD. Como é sabido provoca delírios e alucinações várias.

Quando ouvi esta história logo pensei que nem todos comeriam pão de centeio, mas depois percebi que naqueles tempos da Folia poucos eram os que podiam comer outro.
Pieter Brueghel-O Velho
"O casamento dos camponeses"
Só as classes mais abastadas consumiam pão de trigo. Mesmo entre nós o pão de trigo ainda há 50 anos era chamado por bolo de trigo ou bôla de trigo. Hoje ainda se chama bolas ou bolinhas aos pães de trigo que se vendem nas padarias. A fartura urbana das padarias e pastelarias tornou incompreensível a razão de apelidar um pão por bolo e assim a palavra assumiu o género feminino e mudou a acentuação de bôla para bola, ainda mais a forma arredondada dos pães identificou-os mais com bolas do que com bolos.
Aveia,Centeio,Trigo

Após este parêntesis o que eu queria dizer é que era o povo quem comia os marrocates, os pães de centeio, pois o milho vindo do Novo Mundo estava a iniciar o seu cultivo na Europa.
É nesta Europa que se registam inúmeros casos de loucuras epidémicas. Esses casos de alienação e alucinação massivas levaram a actos de loucura e carnificina em que se supliciaram aqueles que se julgava estarem possuídos pelo demónio.

Anónimo(?) Staatliche graphische Sammlung, Monaco
Santo Antão rodeado de Enfermos do Fogo Sagrado.

O envenenamento produzia estados de estupor alucinogénio, mas também excitação e ansiedade nervosa, sensações dolorosas de queimadura nas extremidades do corpo devido à vasoconstrição. Dedos, mãos, pés, braços pernas necrosavam e eram mesmo praticadas amputações.

File:Hieronymus Bosch 002.jpg
Hieronymus Bosch
"As tentações de Santo Antão"

A esta enfermidade chamaram-lhe Fogo de Santo Antão porque a única terapia que parecia causar efeito no seu alívio era a oração a Santo Antão um asceta, eremita do deserto norte africano que teria tido visões e teria sido tentado pelo demónio mas deste assédio teria triunfado sem corrupção.



As folias pelo menos algumas delas, parecem-me assim uma compassada e interminável marcha ascendente para o cadafalso. Uma atitude mental de desprendimento, uma alienação do corpo perante o inexorável destino. Um abandono obstinado.

Liszt talvez tenha feito a mais complexa leitura da Folia. A mim parece-me ouvir temas familiares como sejam viras, jotas, e outras danças do norte de Portugal e Galiza.

A extraordinária interpretação de Georges Cziffra.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

José Afonso também fez a sua Folia. Chamou-lhe "O Homem da Gaita."



O processo de criação de José Afonso é exemplar de como as preocupações objectivas de um tempo presente podem tornar-se intemporais.
Não é coisa que se possa planear, mas é atributo de seres excepcionais como ele. É com pessoas assim que se cria a matriz cultural com que nos identificamos. Estas características que nos distinguem tornam-se exemplo e património colectivo; transpõem da cultura popular princípios que se tornam pilares da cultura universal. O caso desta folia parece-me ser a prova disto.

BASTA!!!

domingo, 16 de setembro de 2012

Lua Nova de Setembro sem chuva.




Hoje é a Lua Nova de Setembro.
Dizem as pessoas que guardam o conhecimento antigo que quando  não chove na Lua Nova de Setembro passam sete luas sem chover.
Foi o que aconteceu no ano passado.
Às vezes prefiro que o conhecimento empírico não esteja certo. Quanto ao conhecimento científico que nos programa a vida nem de perto arrisca tais previsões.

Núvens

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A Folia de Manuel Machado - La folia "Dos estrellas le siguen" - Gérard Lesne and Circa 1500





Hipotéticamente a folia terá sido uma dança camponesa que se destinaria a celebrar a fertilidade e as colheitas. Seria uma dança livre no sentido em que nela participavam homens e mulheres em manifestação de alegria e júbilo pela colheita farta e pelo aproximar do tempo de apaziguamento e algum descanso que os dias mais curtos do Inverno não deixavam de trazer aos que trabalhavam de Sol a Sol.


Pensa-se que a palavra folia, nesse remoto passado, não designava uma melodia específica mas sim uma forma de expressão musical para dançar onde se praticava a improvisação. Faz lembrar o que ainda hoje na nossa tradição subsiste de norte a sul com as desgarradas, as cantigas ao desafio e os bailes.

Terá sido através do teatro nomeadamente, através de Gil Vicente que esta dança ganhou uma divulgação entre o público não campesino, nomeadamente o público da chamada Côrte.

A sua passagem para o domínio europeu e a sua elevação a tema sujeito a inúmeras variações interpretativas de compositores desde o séc. XV ao séc. XX não constitui surpresa atendendo á característica encantatória da melodia.

Não parecendo haver dúvida que o tema seria originalmente de tradição portuguesa, na sua divulgação toma muitas vezes o nome de “Folia de Espanha”. A Côrte de Filipe II, neto de D. Manuel I, terá contribuído indirectamente para a sua divulgação, já que por lá passavam os mais influentes músicos da época vindos de toda a Europa onde a Espanha tinha interesses e pretensões. Será essa uma explicação possível mas que manifestamente é insuficiente para explicar a sedução que ao longo de séculos este tema melódico tem exercido sobre os mais diversos compositores.