sexta-feira, 30 de março de 2018

DUDU Rose (Sénégal Musique / Senegal Music)


Comprei o disco há mais de 20 anos. A gravação a partir do minuto 29 foi feita numa noite de lua cheia como a de hoje. Cristãos celebravam a sua Páscoa e Muçulmanos o final do Ramadão. O Maestro Dudu N'diaye Rose comandava os tambores. Viviam um momento único de comunhão que ficou registado no disco e neste filme. Há momentos irrepetíveis que têm o condão de nos recordar que a convivência é possível.

A espera da Prima


quarta-feira, 28 de março de 2018

Damien Hirst fala de Francis Bacon | TateShots





Há muitos anos vi uma grande retrospectiva de Francis Bacon, por essa altura vi também  peças de Damien Hirst, nomeadamente a peça conhecida por "Mother and Child".

A pintura de Francis Bacon que me parecia herdeira de Chaïm Soutine, repercutia em mim o desconforto de quem ficou na margem a observar uma violência incompreensível e injustificável. 
Nesse sentido ficar à margem era até um benefício misericordioso. Era o alívio de ter escapado a uma escolha sacrificial. No entanto esta marginalidade não me apaziguava o mau estar causado pela conivência e pelo conformismo. O sentimento quase infantil da criança que poupada ao castigo, pensa aliviada "ainda bem que não me calhou a mim" era insustentável perante a pintura de Francis Bacon.
Invariavelmente a sua pintura causava-me uma repulsa e um desconforto psicológico que me obrigava a reagir. 

As peças de Damien Hirst pelo contrário colocavam-me num estado embotado de sensibilidade por entrarem num referencial de percepção que é comum aos laboratórios e aos açougues. 
A desresponsabilização física e psicológica do interveniente é nesses sítios justificada por um bem maior. A eventual relutância ou remorso, tem absolvição por algo que é transcendente à própria decisão do interveniente em nome de um benefício superlativo: O sacrifício é necessário pela necessidade vital da nutrição do corpo, ou do alimento do espírito sob a forma de conhecimento e progresso. Mesmo que o interveniente o seja como simples espectador de uma exposição de arte contemporânea. 
Encontrei depois, descrições deste estado mental, nos testemunhos feitos por perpetradores que funcionaram e colaboraram em campos de concentração e extermínio e também nos testemunhos de vítimas sobreviventes. 
Estas pessoas que sobreviveram ao horror, foram corrompidas por ele e a sua condição de vítimas e carrascos, voluntários ou por omissão, são uma alegoria da vivência actual.
O cidadão enquanto habitante da polis; enquanto ser civilizado, com direito político; abdicou de ser sentinela, “whistleblower” como agora se diz, deixou de ser testemunha, e prefere deixar de ser observador. Prefere ser transformado em simples espectador, em consumidor e em utente.





domingo, 25 de março de 2018

As medicinas alternativas e o científico método BOGSAAT

Os falantes de inglês-americano têm um acrónimo BOGSAAT (Bunch Of Guys Sitting Around A Table) que traduzido seria; "Uma Malta Sentada à Mesa".

Infelizmente uma parte das "decisões científicas" são tomadas assim com uma malta sentada à mesa, e com a ajuda de estudos estatísticos dignos daquela anedota do par de amigos em que o comilão come as duas pernas do frango mas estatisticamente cada um comeu uma.

Vem a propósito dizer que a explicação do processo científico de funcionamento do ácido acetilsalicílico como bloqueador da dor era desconhecido até há pouco tempo. No entanto tinha sido patenteado com o nome de aspirina há mais de 100 anos.
Cientificamente era desconhecido o mecanismo como baixava a febre ou como era um anticoagulante do sangue apesar de já ser ser usado há mais de cem anos. No entanto a medicina tradicional que agora costumam chamar alternativa, sabia que as folhas do salgueiro (salix) de onde se extraiu o ácido acetilsalicílico serviam para o mesmo efeito.
Usadas desde a antiguidade como anti-inflamatório, para suprimir ou reduzir a dor e baixar a febre, as folhas do salgueiro não eram mezinhas de charlatão. Mesmo que não fosse possível explicar como actuava o seu efeito.

Invocar a ciência do cânone ocidental como a verdadeira em oposição a outras com praticas milenares como sendo embuste de curandeiros é um dogma tão totalitário como outro qualquer. A triste história do flúor, dos benefícios do fumo do tabaco, ou do combate ao colesterol são preocupantes factos em que o método científico foi posto ao serviço da acumulação de capital contra as populações com ou sem doença declarada. Uma estratégia de criar o doente crónico, um doente ideal que necessitará do medicamento enquanto viver.

quarta-feira, 21 de março de 2018

de pé


Hoje é dia da poisia e da arvém mas é também o dia da serra.




Hoje dia da poisia e da arvém,
dia em que tantos plantadores se prantam e tantos poetas se poisam fica aqui poisada a minha homenagem aos incansáveis motoserreiros que  livram as nossas cidades e as nossas serras dessas pragas que são as arvéns.







Ó motoserreiros que andais por caminhos ermos,
possais vós ao menos, serrar até aos extremos.
Serra acima, serra abaixo, tudo a serrar com moto,
salvai do relaixo bem cortai, velho lenho e tenro broto;
a eito cortai cerro; fundo podai, serrai, e desmatai;
matai mato e giesta e o que presta querer reverdecer
mas ai... o pinhal deixai e o eucalipal bem guardai
pois para a papa bem fazer no verão se há de acender
um grande São João e do céu helicóptero virá com a aviação
em grande procissão a brasa combater para nossa salvação.



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serpes


terça-feira, 20 de março de 2018

A fé e a margem

Não acredito nos missionários da poesia
mas acredito nos que experimentam 
o peso das palavras
uma a uma

Acredito nos que acham e colhem o ouro,
doce e sumarento 
que oferecem os gomos de mais delicado sabor

Não acredito nos que se querem poetas
mas acredito naqueles que trazem
a navalha afiada no bolso;
que fatiam o pão e as maçãs de sabor metálico,
matam a fome aguçam o espanto das crianças órfãs
nos pequenos lápis de desenhar.

Não acredito na poesia
mas acredito na revelação contínua da palavra
como relâmpago e trovão
Acredito na brevidade da faísca e no eco
Acredito na paradoxal impermanência do vento
e na sua constância.
Acredito nas amuradas angustiadas
dos que partem e na diferença
dos que ficam em silêncio na margem.

quinta-feira, 15 de março de 2018

Remender to look up to the stars and down to the soil - Festival of Dangerous Ideas 2013: Vandana Shiva - Growth = Poverty



Repito aqui esta palestra. É pena não estar legendado em Português. É uma lição abrangente de história, economia, sociologia, biologia, ecologia, etnologia, cidadania, etc. etc.
Vandana Shiva é doutourada em física com tese na área da física quântica. 
Abusando de um conceito desde o dia de ontem muito publicitado devido ao falecimento de um outro físico eu direi: 

Lembrem-se de olhar para cima para as estrêlas mas também de olhar para baixo para o chão que nos sustenta, não olhem para baixo para os vossos pés ou para o vosso umbigo.
Já agora, é de dizer que existe mais vida no subsolo do que sobre ele. Com o solo partilhamos os elementos que constituem o nosso corpo e possibilitam a nossa mente. São esses os mesmos elementos que foram formados em estrêlas distantes no tempo e no espaço que se transformam continuamente e constituem o pó que forma o solo e o nosso corpo. Esse mesmo pó de que fala o conhecimento espiritual.