Os horizontes por construir
Vivemos um tempo em que o horizonte foge à contemplação. Encontramo-nos perdidos no turbilhão. Basculamos.
Há notícias de cidades longínquas
mergulhadas na bruma industrial em que grandes placards de luzes brilhantes anunciam
o nascer e o pôr-do-sol.
As fronteiras mais presentes e mais fechadas
delimitam territórios e tornam proíbido o que era livre. A Humanidade que
caminhou sempre e se ergueu caminhando, está agora confinada.
Encerradas as fronteiras às pessoas, apenas
as mercadorias passam e passam pessoas enquanto mercadorias.
Nunca houve tanta segregação nem tantos
muros foram erguidos.
A esperança é uma linha imprecisa que o
olhar adivinha no espaço e no tempo. O não desistir requer um esforço
continuado para transpor inumeráveis obstáculos mas não há alternativa para a
miragem.
A luz enfim materializa as cores e as
formas. A luz interior que revela a realidade que nenhum “smog” pode turvar. É
trabalho e responsabilidade do artista trazer essa luz.
Materializar os horizontes, concretizar
a cor que a percepção não encontra num tubo de tinta; sintetizar influências e
inquietações; recuperar dos escolhos destroços de naufrágios; reaproveitar
salvados para construir outra vez; ter presente a arqueologia, a história, a ciência
e a par dessa memória e entendimento buscar a totalidade é o que aqui nesta
exposição Beatriz Cunha e Branislav Mihajlovic se propõem.
Reflectir, encontrar soluções, dar
resposta e suscitar a curiosidade para perguntar de novo, para compreender o
inexplicado, é o que caracteriza este labor filosófico e oficinal que aqui se
mostra.
Luís Filipe Gomes