quinta-feira, 30 de setembro de 2021

"Heavy Colours". Na Galeria de Arte do Casino Estoril a Exposição com Escultura de Beatriz Cunha e Pintura de Branislav Mihajlovic é naugurada hoje quinta-feira 30 de Setembro pelas 19:00h e termina a 25 de Outubro de 2021. Texto no catálogo.


 






















Os horizontes por construir

Vivemos um tempo em que o horizonte foge à contemplação. Encontramo-nos perdidos no turbilhão. Basculamos.

Há notícias de cidades longínquas mergulhadas na bruma industrial em que grandes placards de luzes brilhantes anunciam o nascer e o pôr-do-sol.

As fronteiras mais presentes e mais fechadas delimitam territórios e tornam proíbido o que era livre. A Humanidade que caminhou sempre e se ergueu caminhando, está agora confinada.

Encerradas as fronteiras às pessoas, apenas as mercadorias passam e passam pessoas enquanto mercadorias.

Nunca houve tanta segregação nem tantos muros foram erguidos.

A esperança é uma linha imprecisa que o olhar adivinha no espaço e no tempo. O não desistir requer um esforço continuado para transpor inumeráveis obstáculos mas não há alternativa para a miragem.

A luz enfim materializa as cores e as formas. A luz interior que revela a realidade que nenhum “smog” pode turvar. É trabalho e responsabilidade do artista trazer essa luz.

Materializar os horizontes, concretizar a cor que a percepção não encontra num tubo de tinta; sintetizar influências e inquietações; recuperar dos escolhos destroços de naufrágios; reaproveitar salvados para construir outra vez; ter presente a arqueologia, a história, a ciência e a par dessa memória e entendimento buscar a totalidade é o que aqui nesta exposição Beatriz Cunha e Branislav Mihajlovic se propõem.

Reflectir, encontrar soluções, dar resposta e suscitar a curiosidade para perguntar de novo, para compreender o inexplicado, é o que caracteriza este labor filosófico e oficinal que aqui se mostra.

 

Luís Filipe Gomes




terça-feira, 28 de setembro de 2021

Uma das esculturas de madeira reciclada.








 

Já só falta adequar a iluminação. Montagem da Exposição no Casino Estoril "Heavy Colours". Exposição com Escultura de Beatriz Cunha e Pintura de Branislav Mihajlovic. Inaugura quinta-feira 30 de Setembro e termina a 25 de Outubro de 2021.

 


Montagem da Exposição no Casino Estoril "Heavy Colours". Exposição com Escultura de Beatriz Cunha e Pintura de Branislav Mihajlovic. Inaugura quinta-feira 30 de Setembro e termina a 25 de Outubro de 2021.




 

Casino Estoril -Heavy Colours- Exposição com Escultura de Beatriz Cunha e Pintura de Branislav Mihajlovic. Inaugura quinta-feira 30 de Setembro e termina a 25 de Outubro de 2021


 

Gilbert Bécaud - C'est en Septembre

bica


 

domingo, 12 de setembro de 2021

Acho que estou louco porque falo sozinho.

 



 

Acho que estou louco porque falo sozinho.

I think I'm crazy because I'm talking to myself.

Je me trouve fou parce que je parle avec moi-même.

Penso di essere pazzo perché parlo da solo.

Pienso que estoy loco porque hablo conmigo.

Ich glaube, ich bin verrückt, weil ich mit mir selbst rede.

Penso que estou louco porque falo com os meus botões.

Digo tudo isto cantarolando.

A solidão não é mais do que gritar de dor.

A criança que chama a mãe que não vem.

gélido tiritar nocturno gritando o nome do pai

que não está e não pode vir

trazer o cobertor de papa guardado na arca.

Acho que estou louco porque penso em voz alta.

Acho que estou louco porque grito de dor,

a tiritar de frio grito pelo pai que morreu há 24 anos,

para que me venha aconchegar a roupa

e traga o cobertor de lã perfumado de cedro e cânfora.

Acho que estou louco porque chamo pela mãe

e ela não responde porque está afásica

nem virá porque o seu lado direito sofre hemiplegia.

Penso que estou louco porque o sujeito

que fazia a triagem hospitalar queria saber

onde tinha eu ouvido sobre a disartria

onde tinha eu aprendido aquela palavra

e não mostrou interesse em nada

nem em tudo o que eu lhe poderia dizer

para ajudar que a minha mãe não piorásse.

Acho que estou louco porque agora choro sozinho

por tudo e por nada,

acho que estou louco porque me ponho a cantarolar

tudo isto quanto escrevo

como se fosse uma canção alegre de despedida.