domingo, 30 de agosto de 2020

Em Alcobaça recolhemos o olhar. A nossa existência no tempo e instante.

A luz e as trevas nas naves laterais.


Os sarcófagos: de Inês,

e de Pedro.





E as assinaturas que os construtores de catedrais gravaram na pedra: pedreiros, canteiros, escultores... Aqui ficam duas dessas assinaturas entre tantas dezenas.



Sempre me intrigaram estas marcas.
Serão a marca do mestre pedreiro? da sua família? da sua oficina?
Será que identificam um lote de pedra talhada como se fosse uma fatura? ou até uma forma de recibo?
Será que são uma espécie de garantia para o trabalho executado, já que a pedra pode fracturar ou mesmo pulverizar-se?
Será que são uma insígnia de louvor do construtor para o "Criador"?
Será que são um talismã?



Passámos por Alcobaça queríamos revisitar o que resta dos túmulos dos amantes apaixonados Pedro e Inês.


Lá almoçámos. Na mesa a distância sanitária virulógicamente incontagiante, umas senhoras que falavam inglês pediram uma refeição que cheirava bem e vinha nuns potes de barro vermelho sem vidrado visível. Perguntei à senhora que fazia o serviço de mesa qual a composição do repasto que vinha nos potes.

-Frango na Púcara! -Disse ela. Pois que havia de ser?! É claro que os potes são púcaras! E são púcaras pois é sabido que os púcaros são bem mais pequenos que as púcaras que ali víamos.

Foi então que aproveitei o envelope onde agora preservam os talhers para bonecar.



Yoko Ono em Serralves. As árvores, as aves e os grilos.

domingo, 16 de agosto de 2020

Os olhos de meu pai



Os olhos de meu pai eram verdes

Verdes com pintas vermelhas

Pintas vermelhas bondosas

Como os olhos das Drosophilas

essas pequenas moscas que salvamos

de se afogarem no copo de vinho tinto

com o esforço mínimo do dedo mindinho.

 

Não estava comtemplada a negação

no que me ensinou meu pai

a recusa não era uma alternativa

O trabalho e o cansaço eram o mérito

sem alarde nem autocomiseração

o esforço e o esgotamento eram silenciosos

como deveriam ser os actos de sacrifício.

 

“Para que é essa bufada toda?”

repreendia-me ele

“É preciso fazer essa bufada toda?”

Não havia trégua para o medo

Nem para a aflição

“O trabalho não te ensina?”

corrigia-me ele o esforço mal aplicado.

 

Arfar em silêncio

Suportar a sede

até  a pôça de musgo e algas

se abrigar na concha da mão

Escutar o murmúrio das estátuas

quando brancas de lioz e luar

se sentavam ao nosso lado.

 

Atravessar a nocturna terra sêca

os lacraus  piando como pintainhos

aprendendo estrêlas e pedras petadas

Saber os lameiros pelo cacarejar das cobras

Saber da chuva pelo peto

Entender as aves e o vento

Ver de noite e ver a noite…

 

O sono não é um bicho, um mal,

O sono é um animal brando

Como os fantasmas de pedra

Que descem dos pedestais

Para nos afagarem a metade do crânio

até que a dor passe e acordemos

para nós mais uma vez.






Recado A Lisboa

sábado, 8 de agosto de 2020

Caixa de cartão. Ainda que não pareça é arte-postal.

 O boneco faz alusão a espigões em aço inoxidável a que chamam "dentes de dragão". É uma solução arquitectónica prática de revestimento, destinado a tornar desconfortável a permanênciae numa superfície lisa. Ainda que não pareça é uma forma de protecção e defesa passiva. As primeiras utilizações que vi desta forma de sentir e fazer sentir, foi na aplicação em portas de madeira de recintos muralhados com o fim de impedir o seu derrube por elefantes de combate.



terça-feira, 4 de agosto de 2020

alfazema


Apanham-se as hastes de alfazema com uma ligadura de trapinho velho ou um  fio. Dobram-se pelas florações e de novo se apanham de forma a fazer uma espiga de alfazema. Pode ser deixado um anel no atilho para a sua suspensão.
Caso se pretenda podem ser de novo dobradas sobre si as hastes de modo a que o fuso fique mais cerrado e não se percam os bagos.
Guardam-se em saquinhos os bagos que caiam ou dos quais não se fizeram espigas.
Aromatizam-se em armários e gavetas, vestes e roupa de cama com a alfazema assim mantida. Dá bom sono e calma disposição a quem assim é perfumado e aos que cheiram este perfume.