sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

"Queres que te faça um desenho?" E a pergunta serve para obviar o uso de muitas palavras. Mas há desenhos que devem ser explicados e neste escrevi a seguinte explicação:

Desenho feito para falar com a minha mãe lembrando a sua infância na Serra de Montemuro quando as cabrinhas lhe comiam a merenda e a única refeição que lhe restava era beber algum leite das têtas da cabra maior.

Posição do papel durante o desenho e a coversa com a mãe.







sábado, 18 de dezembro de 2021

lista abreviada de expressões que não se conseguem traduzir para a Língua Portuguesa



- Agora ando à procura da expressão justa para "podcast": talvez locução rádio? radiolocução? sonolocução? de qualquer forma é melhor criar palavras portuguesas a partir da Língua Portuguesa do que usar estrangeirismos derivados de latinório em segunda mão.




Por óbvia falta de uso e sem prejuízo de outros erros e falhas;
Hors-D'oeuvre está mal escrito.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Desenhos para a minha mãe 7


 

Desenhos para a minha mãe 6


 

Desenhos para a minha mãe 5


 

Desenhos para a minha mãe 4


 

Desenhos para a minha mãe 3

 


Desenhos para a minha mãe 2


 

Desenhos para a minha Mãe 1.


 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Máscara da segregação o desenho original, o primeiro desenho.


 




















O primeiro desenho numa folha destacada e cortada ao meio, foi guardado no meio do bloco quando estava com a cabeça alheia em outros pensamentos. Não seria fácil reencontrá-lo assim entalado entre tantas folhas, só foi revelado porque um dos gatos curioso dos meus lápis e papéis atirou o bloco ao chão e o desenho saltou.
Já tinha tentado retomar o desenho, mas sem sucesso. As variações que se fazem sobre um tema podem tornar-se obsessivas. Procura-se algo indefinido. Na tentativa de concretizar uma sensação, um sentimento, uma intuição. Zarpa-se de um porto seguro e o afastamento da linha de costa traz a insegurança, o mal de mar, o medo do desconhecido e a nostalgia.
Hoje sabe-se devido aos métodos de imagiologia por raios-x, infravermelhos, ultravioletas e outros que parte do mistério das pinturas de Leonardo Da Vinci se deve a essa obsessão da procura da imagem perfeita dentro da decisão final da composição de uma pintura. A dita “assinatura “, feita pela sua técnica deve-se a essas figuras fantasmagóricas que as imagens radiográficas revelam.
Não há uma linha de contorno definida, mas sim uma espécie de névoa que as muitas camadas de óleo com mais ou menos quantidade de pigmentos esbatem. Só na imagem que o observador vê na superfície da pintura as linhas de delimitação se percepcionam porque nas imagens fotográficas, as linhas de limitação da forma e do fundo desaparecem nessa tal neblina.
Leonardo era lento na sua pintura precisamente porque as variações eram feitas sobre o mesmo trabalho e essa aparente lentidão traduziu-se por muitos quadros dentro da pintura final de um quadro e só se conhecem cerca de vinte.
Picasso que se apercebeu das variações que deixava sobre as pinturas que dava como terminadas e se interrogava sobre quais seriam as melhores, chegou à conclusão que por vezes melhores pinturas ficam soterradas pela pintura final.
Picasso praticou muitas vezes variações sobre o mesmo tema, deixou-se mesmo filmar pintando e repintando uma cabra até parar numa imagem final. Esta imagem não foi decidida por ele por ser a derradeira ou a melhor. Esta imagem final corresponde à possibilidade de registo do filme, porque foi ali que os metros de película acabaram.
Picasso fazia muitas variações, no seu caso estas variações que por vezes são chamadas de estudos eram feitas em quantidade e em sucessivas telas diferentes.
A mulher que chora na “Guernica” tem dezenas de variações e a primeira vez que vi o quadro decorria em paralelo uma exposição sobre as variações desse detalhe da Guernica. Não estariam lá todas, mas mesmo assim eram dezenas cerca de quarenta. Percebia-se que já não se tratavam de estudos para a Guernica pois muitas delas tinham sido pintadas após a conclusão da obra monumental, eram sim uma entrega a um tema recorrente em que a fadiga não se atinge devido à ilimitada possibilidade de soluções.
Outros pintores passaram por este fascínio do irrepetível, da procura do infinito dentro de um espaço limitado. Monet com as pinturas da Catedral de Ruão mais de trinta, Cézanne com a montanha de Saint Victoire mais de trinta, Hokusai com as trinta e seis estampas do Monte Fuji. O tema mantém-se, mas as perspetivas mudam.
As variações são temas caros aos músicos. São famosas as Variações Goldberg de João Sebastião Bach. Famosas também as transcrições que fazia dos mesmos temas para serem tocados por um outro, ou outros conjuntos de instrumentos. Ravel com o seu Bolero levou ao extremo a repetição de um tema apenas pelo incremento de instrumentos que o tocam. Terá talvez iniciado o que se chama hoje música minimal.
Fico por aqui porque encontrei o meu primeiro desenho. Percebi o motivo porque no segundo lhe dei aquele título. Como a criação no meu caso é sempre uma espécie de revelação, em que há um alívio da dor, vou continuar a desenhar este tema. Vou fazer outros desenhos ou acrescentar os que forem feitos.

domingo, 7 de novembro de 2021

Sobre a Arte Postal

A arte passa sempre por uma necessidade de expressão e por um desejo de comunicação. Neste sentido a arte pode ultrapassar o tempo de vida do artista e a sua mensagem atravessar milhares de anos. No entanto a Arte pode ter o objectivo de ser para comunicação imediata. Por exemplo através de um cartaz como fez Toulouse-Lautrec ou através do correio como é o caso deste tipo de prática a que nos dedicamos e à qual chamamos Arte Postal.  

É possível que um artista se dedique excludivamente à Arte Postal mas este tipo de arte implica aceitar constrangimentos específicos  que têm que ver logo com o peso e o tamanho do que pode ser enviado através de um serviço postal normal.

Um artista pode concentrar a sua expressão na utilização do meio que priveligia, neste caso a Arte Postal, mas se desejar alargar a sua mensagem a muitos destinatários, deve recorrer aos métodos de reprodução de arte em série e ao abrigo da sua ética, assinar e numerar as cópias. Deve fazer uma tiragem numerada.

É claro que os meios de comunicação actuais por via electrónica podem tornar tudo isto mais etéreo, menos durável, é o caso do que David Hockney fez durante um período em que todos os dias pela manhã cedo fazia e enviava aos seus amigos um desenho novo por Iphone.

A arte tem um valor. Vale porque é rara e tem agregado um valor simbólico. Literalmente é possível fazer arte com lixo, com objectos encontrados "objets trouvés" em que é reconhecível algum tipo de valor estético como fez a baronesa Elsa von Freytag-Loringhoven com o seu próprio vestuário e com uma peça chamada "A Fonte", um urinol "Ready Made" que posteriormente Marcel Duchamp aprovou como dele e chegou até num conjunto de exemplares idênticos assinar e numerar como numa tiragem. 

Esses objectos valem porque de alguma maneira fora da sua banalidade noutro contexto contêm em si alguma forma de beleza e neles veiculam algum tipo de mensagem. A primeira notícia que tenho disto é de um machado de mão talhado em pedra em que foi preservado um fóssil:  

(Handaxe knapped around a fossil shell, West Tofts, Norfolk, England, Ca. 500,000-300,000 /Flint - 5 x 3 x 1 1/8 in. (13.2 x 7.9 x 3.5 cm) /Museum of Archaeology and Anthropology, University of Cambridge)

https://www.nashersculpturecenter.org/art/exhibitions/object/id/3147-535





https://www.nashersculpturecenter.org/art/exhibitions/object/id/3147-535









Tendo isto em mente a Arte Postal que eu produzo e envio não espelha o desejo da arte postal que quero receber mas sim a arte postal que não me causaria embaraço receber.

Há ainda outro senão. A acrescentar à fragilidade inerente 

 a este tipo de arte semelhante à da Arte Povera, há o perigo comum a outras expressões artísticas mais perenes o risco do roubo e da iconoclastia.