quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
Apanhei-te Cavaquinho [Episódio II]
Como nos conta Júlio Pereira a história do Cavaquinho é uma história que é mais contada pelos seus filhos e netos (instrumentos que descendem dele) do que própriamente pelo Cavaquinho original. Eu atrevo-me a dizer que a história como registo narrativo também ela está a ser mais escrita pelos descendentes trans-oceânicos do que pelos herdeiros portugueses. O segundo episódio do documentário que aqui reproduzo é a prova . Mas isso só abona em favor do Cavaquinho ele mesmo; um instrumento feito com madeira de pelo menos 3 continentes, que pode ter mais de 9 afinações, que muda a vida de qualquer construtor e ao que parece exige tal subtileza artesanal que lhe dá aptidão para construir qualquer outro instrumento maior. Dizem porém que construtor que faça um cavaquinho, mesmo fazendo igual, faz sempre um instrumento diferente. Cada instrumento artesanal tem uma sonoridade própria uma personalidade. Apesar disso construtores há que ao longo de suas vidas constroem dezenas de modelos diferentes de Cavaquinho parecendo que é o instrumento que os desafia e lhes estimula as capacidades criativas.
Júlio Pereira - "Venho de Colher Macela"
Pulga Saltitante - Julio Pereira (Album: Cavaquinho.pt, 2014)
Pulga Saltitante diz-se Ukelele em Língua Havaiana.
Ukelele foi o nome que os havaianos deram ao instrumento musical que os imigrantes oriundos das Ilhas de Portugal traziam para as suas Ilhas Havaianas.
Grande era a novidade para instrumento tão pequeno. Tão aconchegante de tanger, as tonalidades alegres do seu som e a sua versatilidade aliadas ao facto de ser um instrumento tão portátil contribuíram para a sua adopção e difusão. Para isso talvez também tenha contribuído o espírito aberto dos tocadores que folgavam da sua vida dura de trabalho nas plantações de cana-de-açúcar.
Júlio Pereira compôs esta melodia tentando recriar a impressão que esses primeiros ouvintes havaianos tiveram ao escutar as melodias do cavaquinho.
O Cavaquinho bem podia ser considerado como parte do Património Imaterial da Humanidade e quem nos ajudou a tomar essa consciência foi um fabuloso compositor chamado Júlio Pereira.
Se a cultura portuguesa legou à Humanidade algum bem que tenha contribuído para a Alegria e para a Felicidade, esse bem foi um instrumento musical chamado cavaquinho. O Cavaquinho bem podia ser considerado como parte do Património Imaterial da Humanidade. E se alguém houve nestes últimos anos que nos ajudou a tomar essa consciência, esse foi um fabuloso compositor chamado Júlio Pereira.
Júlio Pereira tem um novo trabalho com vários cavaquinhos
de várias proveniências.
É fundamental comprar esse disco/livro.
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Saccopharyngiformes - peixes de profundidade
Nas profundidades abissais dos Oceanos existem peixes de bocas tão grandes relativamente ao corpo que conseguem engolir peixes de tamanho superior ao seu. Chamam-lhes Saccopharyngiformes.
segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
A Praxe do jovem operário.
Como ultrapassei a praxe.
No tempo em
que havia Indústria o mundo fabril tinha também as suas praxes para os novatos
que nele ingressavam. Fundições, fábricas, estaleiros e oficinas tinham os seus
códigos e regulamentos que transformavam colegas em companheiros, e companheiros
em camaradas.
No meu tempo
de ser submetido a praxe, ninguém me perguntou se alinhava na praxe ou se era
contra ela. Não havia “Dux” na minha praxe mas todos os que me acolhiam na condição
de novato sabiam perfeitamente o que tinha acontecido ao último “condottiero” que se autocognominara “Duce”.
Deixo aqui a narrativa de alguns episódios em que aparentemente só me saíam “duques”.
De seu nome próprio
Lenine, um dos meus Veteranos tinha nascido em 1917 e foi dele a primeira prova
que superei. Mandou-me atender um velho telefone que eu nunca vira ser usado
por ninguém. Supostamente a telefonista passara para ali uma chamada para mim.
Como o PBX onde ela trabalhava era ali ao lado, fui lá confirmar se alguém me
telefonara, como estava envolvida na praxe a telefonista disse-me que sim.
Pedi-lhe delicadamente para passar a chamada para o outro telefone onde era
habitual o pessoal da oficina atender. Disse-me que não podia porque a linha
estava ocupada, mas como dando dois passos eu podia ver dali que estava livre e
sem ninguém a falar dele, ela sorriu e disse-me que a chamada tinha caído. O
telefone tinha o auscultador cheio de tinta negra de impressão que me pintaria
de preto a orelha e parte da cara.
Outro
Veterano com quem passei mais tempo chamava-se Alemão e quem olhásse para o seu
bigode algo imperial, meio godo meio prussiano, e para os seus olhos azuis
turquesa, poderia pensar que aquele apelido de família era apodo. O senhor
Fernando Alemão após eu ter lavado vários equipamentos com uma pulverização de
uma mistura de petróleo e solvente, mostrou-se preocupado com o ataque de gaifanas que eu estaria a sofrer nos
meus olhos; a suposta inflamação passaria a conjuntivite e para a evitar eu teria
de usar uma pomada especial, uma graxa de massa consistente que teria de ser
aplicada na testa e com ligadura. Isto foi por volta do meio-dia, imediatamente
antes de irmos para a rua almoçar a uma pequena casa de pasto vizinha. Inspeccionei-me
ao espelho e tudo estava normal. Saí para o almoço sem a tal ligadura. O
empregado da taberna corroborou a história e ao tratamento já acrescentava rodelas
de batata crua entre a ligadura e a massa consistente que era para manter na cabeça a
tarde toda. Disseram que eu era teimoso e que sofreria em breve; teriam de me
levar ao médico. Na parte da tarde mais lavagens de equipamento me esperavam,
preocupados que estavam com o ataque das gaifanas
nos meus olhos ofereceram-me uns óculos de protecção tipo mergulhador que se
ajustariam perfeitamente ao meu rosto com uma banda elástica. Sensibilizado com
aquele cuidado aceitei os óculos mas interroguei-me porque não me teriam fornecido
eles antes tais óculos. Assim que os avaliei melhor fiquei com os dedos sujos
de tinta azul indelével, igual á que usa para marcar os dedos dos votantes em
locais onde só assim se pode fazer o controlo de eleitores para os impedir de votar
mais de uma vez. A tinta leva vários dias para saír apesar do solvente e da
escovagem da pele que fica inevitavelmente vermelha da inflamação.
O Saraiva
tinha-me reservado a prova mais bruta: a do tréque-lambér-de-orelhas. Assim sem
mais nem menos e com urgência máxima era necessário ir buscar essa ferramenta
de precisão capaz de desempenar veios múltiplos, árvores de excêntricos e rodas
dentadas chamada tréque-lambér-de-orelhas. Era tão precioso que estava guardado
no piso superior da oficina dentro de uma caixa de madeira com o tampo pregado.
A caixa pesava seguramente 30 kg. Um carrego grande, não fôra o monta-cargas.
Azar dos azares nesse dia e naquela altura o monta-cargas avariou e não descia
nem subia. Do alto de uma escadaria de 63 degraus encaracolados numa espiral
estreita, penosa de subir ou descer, mesmo com as mãos livres, com espaço
disponível só para um carregador era um sacrifício e um perigo carregar tal
fardo. Pedi para abrir a caixa, era disparate levar aquele caixote enorme se fosse
possível levar a ferramenta por partes, devidamente condicionada. Não! Não era
possível e era proibido abrir o caixote. Sob pena de represália informou-me o
Saraiva. Mas se na oficina ía ter de abrir o caixote porque não fazê-lo logo
ali? Peguei no pé-de-cabra e o Saraiva saiu a correr a chamar o chefe da
oficina. Ouvi o monta-cargas trabalhar. Abri o caixote na mesma. Entre pedaços
de esferovite descobri chapas de metal e tijolos. O chefe da oficina chegou e
cumprimentou-me, deu-me uma palmada nas costas e convidou-me para uma pausa e
um café com a promessa de que mais ninguém da oficina se meteria comigo. Ofereceu-me
um cigarro em sinal de comemoração e prontificou-se a que eu o acendesse estendendo-me
o isqueiro aceso. Mas porque diabo haveria o Montenegro de me oferecer aquele
cigarro branco se ele só fumava Negritas, os cigarros de papel escuro? Puxei
uma fumaça e afastei o cigarro de imediato enquanto uma pequena bolsa de
fuligem estoirava. O Montenegro desatou a rir apesar da camisa branca que usava
ter sido atingida.
Noutros
locais outras praxes passaram e delas saí mais ou menos incólume. Todas estas
praxes cumpriam o objectivo da minha integração no grupo, no fundo queriam
testar a minha atenção, a minha capacidade de avaliar uma situação, a minha
autonomia em tomar decisões, a minha capacidade de concentração, o meu
altruísmo, a minha entrega ao grupo, o meu carácter no fundo. Todas estas
provas colocavam-me perante a minha humildade, mas davam-me escapatória para
não cair na humilhação.
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
segunda-feira, 20 de janeiro de 2014
sábado, 18 de janeiro de 2014
Passam hoje 80 anos da Revolta Operária da Marinha Grande, passam também 30 anos que o Poeta Ary dos Santos Faleceu.
Passam hoje 80 anos da Revolta Operária da Marinha Grande, passam também 30 anos que o Poeta Ary dos Santos Faleceu.
Houvesse alguém que deles fizesse melhor apologia. Hoje é dia de Operários e é dia de Ary dos Santos.
Houvesse alguém que deles fizesse melhor apologia. Hoje é dia de Operários e é dia de Ary dos Santos.
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Porque coleccionamos coisas?
Artesanato Russo; Brinquedos; Instrumentos musicais de percussão; Fábulas; Madeira de bétula. |
Mas coleccionar é o quê afinal? É classificar objectos semelhantes? Talvez sim, por exemplo quanto à função: -Brinquedos.
Mas se tiver mais do que uma?
Com certeza: Brinquedos; Instrumentos musicais de percussão.
Mas porque não a origem?
Origem? Muito bem: Artesanato Russo; Brinquedos; Instrumentos musicais de percussão.
Mas e a imagética da coisa, o significado associado, a semiótica?
Artesanato Russo; Brinquedos; Instrumentos musicais de percussão; Fábulas.
E o material?
Artesanato Russo; Brinquedos; Instrumentos musicais de percussão; Fábulas; Madeira de bétula.
Talvez seja isso! Talvez o coleccionismo sirva para satisfazer um desejo de conhecimento e fuga, uma vontade de viagem temporal e espacial, uma necessidade de identificação e rastreio do tempo. Mas e quem não colecciona? E os que desistem de coleccionar como eu?
Eu desisti do acto de coleccionar porque me apercebi que todas as colecções são supérfluas. Agora tento não acumular nada, mas cheguei a um ponto em que o que é difícil é não coleccionar. O recolher itens sem que haja percepção disso é algo que só se torna palpável quando falta espaço para outra qualquer coisa. Por exemplo quando quero guardar uns livros e assim os colecciono para depois ler, que fazer aos outros livros? Refiro-me aos que já li, mais os que desisti de ler, mais os que não consegui ler, mais os que já antes tinha para ler depois...
Coleccionar é como comer demais, procura-se preencher um vazio qualquer. Colmatar uma falta primordial de algo que se perdeu ou que se achou possuir.
Eu que coleccionei, e que coleccionei canecas porque concerteza elas me faltavam, tinha com elas e para além delas uma sede de conhecimento, um desejo de fuga da realidade, e mais do que tudo uma vontade de dar de beber à dor...
Caneca; Artesanato do Alto Alentejo; Chifre de bovino |
segunda-feira, 13 de janeiro de 2014
Exposição virtual - Plantar a água.
40 Laurus nobilis
Esperar que nasçam as árvorezinhas.
A germinação já experimentada é de 2 para 10 bagas semeadas.
Fotografar crescimento durante um ano e fazer filme com a sequência fotográfica, o crescimento deve ser aproximadamente de 0,20m radicular por 0,40m de altura vegetativa exposta.
Com as fotos fazer livro com dimensão de um postal de correio que ao desfolhar provoque a animação. As folhas devem poder ser destacadas para envio postal.
Expor 40 vasos com os loureiros durante 40 dias. O espaço deve ter luz solar e pode ser descoberto e em ar livre.
Na exposição projectar o filme feito com as fotografias.
Fazer o enquadramento histórico da utilização do loureiro desde a antiguidade pela cultura grega e romana.
Entretanto durante a exposição preparar o terreno para a plantação dos Loureiros. O terreno não deve ser encharcado, o loureiro gosta de ter água mas o terreno deve ter boa drenagem: marcar o terreno e abrir covas com 0,80m de profundidade a 3,00m de distância radial entre os centros da próxima cova. Adubar ou estrumar o fundo da cova com 0,10m cobrir com 0,10 m de terra para depois ser colocada a árvore.
Plantar em Janeiro no Crescente Lunar. Plantar em paralelo duas filas duplas formando alameda (10 loureiros no comprimento 4 loureiros na largura).
Após plantação regar o pé das árvores mesmo que esteja a chover. Só não é necessário se após a plantação chover copiosamente .
Em todo o processo devem ser envolvidos os menos idosos e os mais idosos, as crianças das escolas e os mais velhos que se disponibilizem.
A obra continuará indeterminadamente enquanto existirem os Loureiros e deverá frutificar e ser multiplicada na medida das bagas produzidas que sejam levadas e semeadas.
A exposição pode e deve ser experimentada com outras árvores: CEREJEIRAS, CASTANHEIROS, OLIVEIRAS, etc. etc.
Com outra geometria e outra dimensão, a exposição deverá tomar outra forma quando forem escolhidos árvores diferentes que se misturem e convivam na harmonia de uma paisagem multidimensional, de um ecossistema.
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Escritura
"Pára! Pára de
escrever...
Quem é que
percebe essa gatafunhada toda?
Em vez disso faz mais
desses bonecos... tão bonitos.
Tens tanto
jeito."
Foi então que
comecei a desenhar com a mão esquerda.
quinta-feira, 9 de janeiro de 2014
dias não são Dias
Há dias em que na cabeça o
mundo ecoa, como um sino. Gritam. Um jogo qualquer de números
e de dados, de peões caídos e cavaleiros derrubados.
Todos liquidados.
Há dias em que o mais distraído pingo pode alastrar
na mancha perfeita de uma ave em alto vôo. Inatingível.
Outros dias o melhor traço não se pronuncia e a
melhor mancha macula o papel ponto a ponto, grão a grão. Sem esperança.
Subscrever:
Mensagens (Atom)