domingo, 31 de outubro de 2010

A CÔCA - Abóboras escavadas como caveiras com uma vela dentro.

Dizem ser da tradição anglo-saxónica o costume de escavar abóboras abrindo-lhes buracos nos locais que numa caveira seriam os dos olhos boca e nariz. Talvez sim, mas a primeira vez que tomei contacto com esse tipo artesanal de partida medonha foi na Beira Alta. Nessa altura o "marketing" ainda cá não tinha adquirido esse nome e nas aldeias da freguesia não havia mais que uma televisão que emitia a preto e branco, apenas um canal, durante poucas horas por dia no Café Central do Povo de Crouceão.

O Carlos e a Regina decidiram ensinar-me o que era a Côca e ao mesmo tempo pregar um susto à Carriça. A Senhora Maria como respeitosamente a chamavam, era de todos conhecida como Carriça, talvez por ser pequenina, graciosa e muito rápida como o passarinho do mesmo nome. Assim trouxeram em segredo uma abóbora do Chão da Moenda e com a navalha galega o Carlos foi fazendo a anatomia com incisões expressivas. Na abertura da bocarra da abóbora implantou pedaços de cana-da-índia rachados ao meio. Uma trepanação por uma cercadura alargada do pedúnculo da cucurbita permitiu a aplicação de um coto de sêbo aceso. O trabalho ficou completo quando espetaram a abóbora num fogueiro do carro de bois com a altura de um homem. O breu da noite alimentava a luminosidade bruxuleante  da vela de sêbo mas não o suficiente para que o fio de embrulho que tinham atado na albarda da porta se tornásse visível. Puxaram por ele espaçadamente e as pancadas cadenciadas levantavam a voz da Maria Carriça no interior da casa. Novas pancadas, nova pergunta " Quem é?... Quem é que diga, se vier por bem!..."
A porta não se abriu e a Côca, terror da gente pequena como eu, permaneceu ali na forma tremeluzente de uma projecção feita pela  caveira de uma abóbora fantasmagórica que tinha o tamanho da escuridão.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Gata dormindo.

Esta gata é a "noite e dia". As manchas a preto e branco e uma canção do Cole Porter espremeram-me o nome. Não me lembro de a ter fotografado (Lilazdavioleta acha-a  familiar), este é o segundo desenho que publico dela.
Apareceu-me uma noite vinda de local desconhecido; esquelética, lacrimejando, tossindo e espirrando. Comia vorazmente e sempre de forma inquieta. Aspegic 1000 e muita variedade de comida recuperaram o seu estado de debelidade. É uma gata que afasta todos os machos e todas as fêmeas, mas que se afasta para os gatinhos pequenos comerem. A primeira vez que tentei fazer-lhe uma festa sofri ataque instântaneo com dentada e unhas de ambas as patas. No dia seguinte dei-lhe a mão a cheirar como antes fazia e dessa vez ela lambeu-me a mão duas vezes.
Sofri outros ataques mesmo quando estava a deitar comida para a sua taça ou porque a impaciência era  muita ou porque algum gesto meu lhe activava os mecanismos de defesa. Agora já me permite o toque mas nada de muita intimidade, a não ser que a iniciativa parta dela. É muito curiosa, e destemida. 

sábado, 23 de outubro de 2010

Às vezes penso que é necessário voltar às raízes e ao que é importante. Que coisa mais importante existe que renascer?




Dizem que se trata de uma dança guerreira em que se faz o ataque a um castelo. Nesta dança um guerreiro ajudado pelos companheiros ultrapassa a muralha para o terreno inimigo. As roupas coloridas seriam as insignias dos combatentes antigos, tão antigos que não se sabe a sua identidade.

Para mim penso que é necessário voltar às raízes, pensar de novo em tudo isto que constitui a nossa herança cultural tão diversificada e a perder-se da memória.

Sempre que vejo o "assalto ao castelo" não consigo evitar pensar que aquela dança guerreira só de homens me faz lembrar parte de uma cerimónia iniciática em que se explica a criação e o nascimento.

Como somos hoje aos olhos dos outros neste caso aos olhos russos. (Post retirado do Blog triploV: "O triplo II")

ARTIGO DO “PRAVDA” sobre Portugal

Posted: 22 Oct 2010 03:02 AM PDT

Enviado por: Rui Mendes.                                                                                                                      

Até nos jornais da Rússia (5ª maior economia do mundo) se fala de Portugal e pelos vistos até eles sabem o estado a que isto chegou…


«Foram tomadas medidas draconianas esta semana em Portugal pelo Governo liberal de José Sócrates, um caso de um outro governo de centro-direita pedindo ao povo Português a fazer sacrifícios, um apelo repetido vezes sem fim a esta nação trabalhadora, sofredora, historicamente deslizando cada vez mais no atoleiro da miséria.
E não é porque eles serem portugueses.
Vá ao Luxemburgo, que lidera todos os indicadores socioeconómicos, e você vai descobrir que doze por cento da população é portuguesa, o povo que construiu um império que se estendia por quatro continentes e que controlava o litoral desde Ceuta, na costa atlântica, tornando a costa africana até ao Cabo da Boa Esperança, a costa oriental da África, no Oceano Índico, o Mar Arábico, o Golfo da Pérsia, a costa ocidental da Índia e Sri Lanka. E foi o primeiro povo europeu a chegar ao Japão….e Austrália.
Esta semana, o Primeiro Ministro José Sócrates lançou uma nova onda dos seus pacotes de austeridade, corte de salários e aumento do IVA, mais medidas cosméticas tomadas num clima de política de laboratório por académicos arrogantes e altivos desprovidos de qualquer contacto com o mundo real, um esteio na classe política elitista Português no Partido Social Democrata e Partido Socialista, gangorras de má gestão política que têm assolado o país desde anos 80.
O objectivo? Para reduzir o défice. Por quê?
Porque a União Europeia assim o diz. Mas é só a UE?
Não, não é. O maravilhoso sistema em que a União Europeia deixou-se a ser sugado é aquele em que a agências de Ratings, Fitch, Moody’s e Standard and Poor’s, baseadas nos estados unidos da América (onde havia de ser?) virtual fisicamente controlam as políticas fiscais, económicas e sociais dos Estados-Membros da União Europeia através da atribuição das notações de crédito.
Com amigos como estes organismos, e Bruxelas, quem precisa de inimigos?
Sejamos honestos. A União Europeia é o resultado de um pacto forjado por uma França tremente e com medo, apavorada com a Alemanha depois que suas tropas invadiram seu território três vezes em setenta anos, tomando Paris com facilidade, não só uma vez mas duas vezes, e por uma astuta Alemanha ansiosa para se reinventar após os anos de pesadelo de Hitler. França tem a agricultura, a Alemanha ficou com os mercados para sua indústria.
E Portugal? Olhem para as marcas de automóveis novos conduzidos por motoristas particulares para transportar exércitos de “assessores” (estes> parecem ser imunes a cortes de gastos) e adivinhem de qual país eles vêm?Não, eles não são Peugeot e Citroen ou Renault. Eles são Mercedes e BMWs. Topo-de-gama, é claro.
Os sucessivos governos formados pelos dois principais partidos, PSD (Partido Social Democrata, direita) e PS (Socialista, de centro), têm sistematicamente jogado os interesses de Portugal e dos portugueses pelo esgoto abaixo, destruindo sua agricultura (agricultores portugueses são pagos para não produzir) e sua indústria (desapareceu) e sua pesca (arrastões espanhóis em águas lusas), a troco de quê?
O quê é que as contra-partidas renderam, a não ser a aniquilação total de qualquer possibilidade de criar emprego e riqueza em uma base sustentável?
Aníbal Cavaco Silva, agora Presidente, mas primeiro-ministro durante uma  década, entre 1985 e 1995, anos em que estavam despejando bilhões através das suas mãos a partir dos fundos estruturais e do desenvolvimento da UE, é um excelente exemplo de um dos melhores políticos de Portugal. Eleito fundamentalmente porque ele é considerado “sério” e “honesto” (em terra de cegos, quem vê é rei), como se isso fosse um motivo para eleger um líder(que só em Portugal, é) e como se a maioria dos restantes políticos (PSD/PS) fossem um bando de sanguessugas e parasitas inúteis (que são), ele é o pai do défice público em Portugal e o campeão de gastos públicos.
A sua “política de betão” foi bem concebida, mas como sempre, mal planeada, o resultado de uma inepta, descoordenada e, às vezes inexistente localização no modelo governativo do departamento do Ordenamento do Território, vergado, como habitualmente, a interesses investidos que sugam o país e seu povo.
Uma grande parte dos fundos da UE foram canalizadas para a construção de pontes e auto-estradas para abrir o país a Lisboa, facilitando o transporte interno e fomentando a construção de parques industriais nas cidades do interior para atrair a grande parte da população que assentava no litoral.
O resultado concreto, foi que as pessoas agora tinham os meios para fugirem do interior e chegar ao litoral ainda mais rápido. Os parques industriais nunca ficaram repletos e as indústrias que foram criadas, em muitos casos já fecharam.
Uma grande percentagem do dinheiro dos contribuintes da UE vaporizou em empresas e esquemas fantasmas. Foram comprados Ferraris. Foram encomendados Lamborghini. Maserati. Foram organizadas caçadas de javali em Espanha.
Foram remodeladas casas particulares. O Governo e Aníbal Silva ficou a observar, no seu primeiro mandato, enquanto o dinheiro foi desperdiçado. No seu segundo mandato, Aníbal Silva ficou a observar os membros do seu governo a perderem o controle e a participarem. Então, ele tentou desesperadamente distanciar-se do seu próprio partido político. E ele é um dos melhores.
Depois de Aníbal Silva veio o bem-intencionado e humanitário, António Guterres (PS), um excelente Alto Comissário para os Refugiados e um candidato perfeito para Secretário-Geral da ONU, mas um buraco negro em termos de (má) gestão financeira. Ele foi seguido pelo diplomata excelente mas abominável primeiro-ministro José Barroso (PSD) (agora Presidente da Comissão da EU, “Eu vou ser primeiro-ministro, só que não sei quando”) que criou mais problemas com seu discurso do que ele resolveu, passou a batata quente para Pedro Lopes (PSD), que não tinha qualquer hipótese ou capacidade para governar e não viu a armadilha. Resultando em dois mandatos de José Sócrates; um Ministro do Ambiente competente, que até formou um bom governo de maioria e tentou corajosamente corrigir erros anteriores. Mas foi rapidamente asfixiado por interesses instalados.
Agora, as medidas de austeridade apresentadas por este primeiro-ministro, são o resultado da sua própria inépcia para enfrentar esses interesses, no período que antecedeu a última crise mundial do capitalismo (aquela em que os líderes financeiros do mundo foram buscar três triliões de dólares de um dia para o outro para salvar uma mão cheia de banqueiros irresponsáveis, enquanto nada foi produzido para pagar pensões dignas, programas de saúde ou projectos de educação).
E, assim como seus antecessores, José Sócrates, agora com minoria, demonstra falta de inteligência emocional, permitindo que os seus ministros pratiquem e implementem políticas de laboratório, que obviamente serão contra-producentes. Pravda.Ru entrevistou 100 funcionários, cujos salários vão ser reduzidos. Aqui estão os resultados:
Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou trabalhar menos (94%).
Eles vão cortar o meu salário em 5%, por isso vou fazer o meu melhor para me aposentar cedo, mudar de emprego ou abandonar o país (5%) Concordo com o sacrifício (1%) Um por cento. Quanto ao aumento dos impostos, a reacção imediata será que a economia encolhe ainda mais enquanto as pessoas começam a fazer reduções simbólicas, que multiplicado pela população de Portugal,10 milhões, afectará a criação de postos de trabalho, implicando a > obrigatoriedade do Estado a intervir e evidentemente enviará a economia para uma segunda (e no caso de Portugal, contínua)recessão. Não é preciso ser cientista de física quântica para perceber isso. O idiota e avançado mental que sonhou com esses esquemas, tem resultados num pedaço de papel, onde eles vão ficar.
É verdade, as medidas são um sinal claro para as agências de ratings que o Governo de Portugal está disposto a tomar medidas fortes, mas à custa, como sempre, do povo português. Quanto ao futuro, as pesquisas de opinião providenciam uma previsão de um retorno para o PSD, enquanto os partidos de esquerda (Bloco de Esquerda e Partido Comunista Português) não conseguem convencer o eleitorado de suas ideias e propostas.
Só em Portugal, a classe elitista dos políticos PSD/PS seria capaz de punir o povo por se atrever a ser independente. Essa classe, enviou os interesses de Portugal no ralo, pediu sacrifícios ao longo de décadas, não produziu nada e continuou a massacrar o povo com mais castigos. Esses traidores estão levando cada vez mais portugueses a questionarem se deveriam ter sido assimilados há séculos, pela Espanha. Que convidativo, o ditado português “Quem não está bem, que se mude”. Certo, bem longe de Portugal, como todos os que possam, estão fazendo. Bons estudantes a jorrarem pelas fronteiras fora. Que comentário lamentável para um país maravilhoso, um povo fantástico, e uma classe política abominável.

Timothy Bancroft-Hinchey
Pravda.Ru






domingo, 17 de outubro de 2010

Os ricos são mais ricos e os pobres mais pobres.

Portugal é o país da União Europeia em que há a maior diferença de rendimento entre ricos e pobres. Os ricos são mais ricos e os pobres mais pobres.

Limpando canetas III

Vai lá nesse chão
onde nem as pedras
souberam de água
 deita o teu suór
e a semente.

Limpando canetas II


Se não contais
árvores só
as pedras
nos poderão matar
a sede.






Limpando canetas I

As canetas não
                                           tremem nem gemem
                                           no apogeu
                                           de incontáveis
                                           versos
                                           mas secam.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010