quinta-feira, 30 de junho de 2016
Do livro de poesia "Aves de incêndio" de Raquel Serejo Martins, transcrevo e ilustro o poema oitenta e quatro.
84.
Vou para o trabalho
sempre pelo caminho de Damasco,
na expectativa,
uma esperança,
um mantra,
uma prece,
uma oração,
às vezes um latir de cão,
me convertam,
me convençam,
que a minha rotina tem sentido.
Raquel Serejo Martins, "Aves de Incêndio", com desenhos de Ana Cristina Dias, Poética Edições, Junho de 2016
ISBN: 978-989-99585-6-2
quarta-feira, 29 de junho de 2016
terça-feira, 28 de junho de 2016
segunda-feira, 27 de junho de 2016
sábado, 25 de junho de 2016
Canecas Anglo-Luso
Antes a moda dizia "Contra os Britões", depois passou a dizer "Contra os Canhões", no futuro talvez venha a dizer "Pelos Britões".
Canecas Anglo-Luso.
Para não dizerem que não falei do São João, falo da véspera que é quando o verdadeiro São João acontece.
domingo, 19 de junho de 2016
Da plantação das árvores, esta coisa do "Pinhal Interior".
Quando andava a cortar as silvas, a arrancar a erva e a cortar as palhas fui descobrindo as árvorezinhas que plantei no Inverno. A laranjeira que diziam ter sido tragada pelas ovelhas e queimada pelo gêlo lá estava rebentando de novo a dois palmos do chão, as duas nespereiras, os dois abacateiros, o loureiro, os castanheiros...
Os castanheiros eram sete, restam dois. Quando fui regar os sobreviventes e observei melhor o caule. Reparei na ausência de caule. Dos supostamente sêcos de facto só um tinha secado. Os outros tinham sido cortados. Um dos castanheiros que se erguia, ele próprio, já era um renovo crescido após corte e assim também o loureiro cortado rebentara do solo em duas hastes distintas de oito palmos de altura.
Ainda que fora do tempo propício aproveitei a lua em fase crescente e fui plantar um sobreiro redondo e frondoso de quatro palmos de altura que tinha nascido de bolotas que enterrei num vaso.
O vizinho Geraldo veio ajudar-me a limpar o terreno com a moto-roçadora. Trouxe um ajudante consigo.
Rápidamente, em duas horas e meia limparam o declive que eu com a minha enxada, o meu podão e a minha falta de experiência levaria dois dias a concluir caso a vêspa não me tivesse repreendido.
Agradeci ao vizinho Geraldo e apesar da sua relutância paguei-lhe os 15 euros à hora que é o preço que levam por um homem operando uma moto-roçadora como as que ele trouxe.
Dei a volta para ver melhor o trabalho feito e sofro um choque.
O ajudante do vizinho Geraldo tinha-me cortado uma roseira carmim de pétalas aveludadas; um pereiro Bravo de Esmolfe aprumado e já com dois metros de altura... e o sobreiro que eu plantara na véspera. Mas porquê? Se eu já tinha limpo três passos de terreno em seu redor?! Mas porquê? Se em volta já se percebia a terra molhada da rega que eu tinha feito?!
Pois foram cortados por essa mesma fúria roçadora de limpeza silvícola que já me tinha levado os castanheiros, a romãzeira e sei lá que mais.
Estes "roçadores" são piores do que as cabras pensei eu. As cabras talham por necessidade alimentar, por curiosidade ou por pura gulodice; estes "roçadores" cortam motivados pela aversão natural do peão à planta que lhe impede a caminhada e pela aculturação que o Pinhal Interior provocou nos valores da ruralidade tradicional. Desvalorizou-se o conhecimento profundo das populações rurais menosprezando o que guardavam e produziam. Perdeu-se o respeito às plantas estejam elas enterradas como um míscaro (Tricholoma equestre), sejam elas rasteiras como um moirão (Hypochaeris radicata) ou altas como um carvalho (Quercus).
O Pinhal Interior entrou dentro do sentimento de dever das pessoas tudo o que não fôsse pinheiro era para abater. O pinheiro dava a resina para a indústria, a caruma para o forno, as pinhas para a lareira, a madeira para a construção até que veio a pasta de papel e logo o eucalipto. Tudo mudou para que tudo ficásse na mesma. Abate-se como antes, só que agora é para que fique o eucalipto.
Hoje pessoas bem intencionadas chamam florestas comestíveis aquilo que existia antes do Pinhal Interior se instalar. A necessidade de vencer a ideia de atraso que esse viver mais tradicional ainda hoje sugere levou a que essas ideias sejam apresentadas com a roupagem da modernidade. Chamam-lhe permacultura. Algumas dessas pessoas supondo até que se está a inventar agora o que já foi feito há muito e durante muito tempo. Parece-me que há vontade de se retomarem maneiras de viver antes ridicularizadas, consideradas arcaicas e subdesenvolvidas. Formas de viver estigmatizadas por serem consideradas árduas, com valores de produção considerados insuficientes. Métodos considerados obsoletos e de baixa quantidade produtiva, baseadas em expectativas de rentabilidade financeira rápida e a troco de consumo de produtos industriais importados e de venenos químicos letais a curto, médio e longo prazo. Os economistas de então não tinham descoberto o conceito de sustentabilidade.
O ganhar mais do que o necessário que na nossa bela língua iconoclasta se chama ganância, era o que importava.
Hoje continuamos a padecer deste mesmo mal e não sei quando conseguiremos retirar o Pinhal Interior de dentro de nós.
Não sei mesmo se no lugar dele não se instalou já uma plantação de eucaliptos a julgar pela promoção da infantilidade que os canais de televisão fazem a propósito do jogo da bola e da importância que atribuem à habilidade dos que lhe dão pontapés.
Gostava de ter desenhado árvores mas só consegui olhar os pássaros. Não tenho a certeza se este não seria um cartaxo.
Os castanheiros eram sete, restam dois. Quando fui regar os sobreviventes e observei melhor o caule. Reparei na ausência de caule. Dos supostamente sêcos de facto só um tinha secado. Os outros tinham sido cortados. Um dos castanheiros que se erguia, ele próprio, já era um renovo crescido após corte e assim também o loureiro cortado rebentara do solo em duas hastes distintas de oito palmos de altura.
Ainda que fora do tempo propício aproveitei a lua em fase crescente e fui plantar um sobreiro redondo e frondoso de quatro palmos de altura que tinha nascido de bolotas que enterrei num vaso.
O vizinho Geraldo veio ajudar-me a limpar o terreno com a moto-roçadora. Trouxe um ajudante consigo.
Rápidamente, em duas horas e meia limparam o declive que eu com a minha enxada, o meu podão e a minha falta de experiência levaria dois dias a concluir caso a vêspa não me tivesse repreendido.
Agradeci ao vizinho Geraldo e apesar da sua relutância paguei-lhe os 15 euros à hora que é o preço que levam por um homem operando uma moto-roçadora como as que ele trouxe.
Dei a volta para ver melhor o trabalho feito e sofro um choque.
O ajudante do vizinho Geraldo tinha-me cortado uma roseira carmim de pétalas aveludadas; um pereiro Bravo de Esmolfe aprumado e já com dois metros de altura... e o sobreiro que eu plantara na véspera. Mas porquê? Se eu já tinha limpo três passos de terreno em seu redor?! Mas porquê? Se em volta já se percebia a terra molhada da rega que eu tinha feito?!
Pois foram cortados por essa mesma fúria roçadora de limpeza silvícola que já me tinha levado os castanheiros, a romãzeira e sei lá que mais.
Estes "roçadores" são piores do que as cabras pensei eu. As cabras talham por necessidade alimentar, por curiosidade ou por pura gulodice; estes "roçadores" cortam motivados pela aversão natural do peão à planta que lhe impede a caminhada e pela aculturação que o Pinhal Interior provocou nos valores da ruralidade tradicional. Desvalorizou-se o conhecimento profundo das populações rurais menosprezando o que guardavam e produziam. Perdeu-se o respeito às plantas estejam elas enterradas como um míscaro (Tricholoma equestre), sejam elas rasteiras como um moirão (Hypochaeris radicata) ou altas como um carvalho (Quercus).
O Pinhal Interior entrou dentro do sentimento de dever das pessoas tudo o que não fôsse pinheiro era para abater. O pinheiro dava a resina para a indústria, a caruma para o forno, as pinhas para a lareira, a madeira para a construção até que veio a pasta de papel e logo o eucalipto. Tudo mudou para que tudo ficásse na mesma. Abate-se como antes, só que agora é para que fique o eucalipto.
Hoje pessoas bem intencionadas chamam florestas comestíveis aquilo que existia antes do Pinhal Interior se instalar. A necessidade de vencer a ideia de atraso que esse viver mais tradicional ainda hoje sugere levou a que essas ideias sejam apresentadas com a roupagem da modernidade. Chamam-lhe permacultura. Algumas dessas pessoas supondo até que se está a inventar agora o que já foi feito há muito e durante muito tempo. Parece-me que há vontade de se retomarem maneiras de viver antes ridicularizadas, consideradas arcaicas e subdesenvolvidas. Formas de viver estigmatizadas por serem consideradas árduas, com valores de produção considerados insuficientes. Métodos considerados obsoletos e de baixa quantidade produtiva, baseadas em expectativas de rentabilidade financeira rápida e a troco de consumo de produtos industriais importados e de venenos químicos letais a curto, médio e longo prazo. Os economistas de então não tinham descoberto o conceito de sustentabilidade.
O ganhar mais do que o necessário que na nossa bela língua iconoclasta se chama ganância, era o que importava.
Hoje continuamos a padecer deste mesmo mal e não sei quando conseguiremos retirar o Pinhal Interior de dentro de nós.
Não sei mesmo se no lugar dele não se instalou já uma plantação de eucaliptos a julgar pela promoção da infantilidade que os canais de televisão fazem a propósito do jogo da bola e da importância que atribuem à habilidade dos que lhe dão pontapés.
Gostava de ter desenhado árvores mas só consegui olhar os pássaros. Não tenho a certeza se este não seria um cartaxo.
sábado, 18 de junho de 2016
Da plantação das árvores.
Fui à Beira Alta, ou talvez melhor dizendo fui à Beira Litoral.
Precisando, com mais detalhe e designação mais actualizada, fui ao Pinhal Interior Norte.
Este nome estranho, desde 2013 ficou obsoleto. Mas ainda é usado assim para o Serviço Nacional de Saúde.
Foi o que constatei quando tive de ir à urgência para ser atendido devido a reacção alérgica de uma picada de vêspa.
O braço ficou vermelho, inchou, ganhou calor; o aumento de temperatura tornou-se em febre generalizada e depois foi a articulação do cotovelo a ficar presa. Duas injecções, um comprimido de 8 em 8 horas e um creme tópico resolveram a coisa em dois dias.
Isto tudo porque lá na Beira, onde é o Pinhal Interior Norte, decidi ir cortar a erva e o mato que me avassalavam as árvores que deixei plantadas e decidi limpar terreno para plantar outras novas.
Neste ano da erva, de insectos e de pássaros a fruta escasseia: poucas cerejas, poucos pêssegos, poucas maçãs, poucas uvas. Talvez se salvem os figos, os marmelos e as azeitonas.
Precisando, com mais detalhe e designação mais actualizada, fui ao Pinhal Interior Norte.
Este nome estranho, desde 2013 ficou obsoleto. Mas ainda é usado assim para o Serviço Nacional de Saúde.
Foi o que constatei quando tive de ir à urgência para ser atendido devido a reacção alérgica de uma picada de vêspa.
O braço ficou vermelho, inchou, ganhou calor; o aumento de temperatura tornou-se em febre generalizada e depois foi a articulação do cotovelo a ficar presa. Duas injecções, um comprimido de 8 em 8 horas e um creme tópico resolveram a coisa em dois dias.
Isto tudo porque lá na Beira, onde é o Pinhal Interior Norte, decidi ir cortar a erva e o mato que me avassalavam as árvores que deixei plantadas e decidi limpar terreno para plantar outras novas.
Neste ano da erva, de insectos e de pássaros a fruta escasseia: poucas cerejas, poucos pêssegos, poucas maçãs, poucas uvas. Talvez se salvem os figos, os marmelos e as azeitonas.
segunda-feira, 13 de junho de 2016
sábado, 11 de junho de 2016
sexta-feira, 10 de junho de 2016
quinta-feira, 9 de junho de 2016
quarta-feira, 8 de junho de 2016
terça-feira, 7 de junho de 2016
segunda-feira, 6 de junho de 2016
domingo, 5 de junho de 2016
sábado, 4 de junho de 2016
sexta-feira, 3 de junho de 2016
quinta-feira, 2 de junho de 2016
quarta-feira, 1 de junho de 2016
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