Quando os velhos se calam.
-Torre de Dona Chama! Já lá estive tem uma Porca magnífica.
-Uma porca?! -exclamou o homem interrogativo.
- Sim, aquela escultura pré-histórica, chamam-lhes berrões ou berroas, e são de cultos antigos de fertilidade...
-Não conheço lá nenhuma porca!
-É aquela escultura que está junto ao Pelourinho... -tentava eu explicar.
-Não é lá! -Retorquiu o homem peremptório.
-Está a fazer confusão com Murça. Em Murça é que há a Porca de Murça.
-Eu não tenho a certeza que seja uma porca, há quem defenda que são javalis, lobos ou lobas, que podem ser até ursos...
-Não é lá! Não conheço nem nunca ouvi falar e olhe que eu vou lá todos os anos e conheço a terra como a palma das minhas mãos.
Calei-me. O homem apresentava tal propriedade e idoneidade no seu discurso. Afinal conhecia a terra como as suas mãos. Quem conseguiria eu convencer com o meu olhar forasteiro perante o testemunho daquele homem. É certo que eu tinha feito um desvio de 30 km só para mostrar a Porca de Torre de Dona Chama ao Tavira que tivera uma namorada que era de lá e por quem ele ainda nutria afecto. Mas isso de nada me valia. Senti que em meus lábios aflorava um sorriso.
Lembrei-me então da teimosia da minha juventude impertinente e cheia de certezas quando tentava impor a minha causa aos mais velhos. Lembrei-me de ver a ternura nascer no seu rosto. Nascia como o amanhecer, com um sorriso doce e sereno, cheio de brandura e compreensão.