A canção foi composta por prisioneiros
políticos opositores do Regime Nazi do Terceiro Reich Alemão: um trabalhador do
comércio chamado Rudi Goguel fez a música sobre versos de um mineiro chamado
Johann Esser e de um actor de nome Wolfgang Langhoff. A canção nasceu por volta
de Agosto do ano de 1933 num dos primeiros campos de concentração planeado
pelos ideólogos nazis para segregação e afastamento de opositores políticos,
nomeadamente comunistas e socialistas.
O campo foi estabelecido em zona
pantanosa do Rio Ems numa região da Baixa Saxónia junto da actual fronteira que
separa a Alemanha da Holanda.
Nos terrenos alagados e lamacentos os
prisioneiros eram obrigados a trabalhos forçados.
Os prisioneiros que dispunham apenas
de ferramentas rudimentares com elas cavavam as turfeiras e os fundos argilosos
dos paúis retirando esses materiais e fazendo a exploração agrícola dos
terrenos drenados. O trabalho em jornadas longas, a subnutrição, a exposição
aos elementos e a brutalidade dos carcereiros tornavam a vida numa batalha de
sobrevivência diária.
Em 27 de Agosto de 1933 a canção terá
sido cantada pela primeira vez num espetáculo chamado Zirkus Konzentrazani e
que terá sido como que um ensaio para outras encenações posteriormente feitas
de forma mais aperfeiçoada como em Theresienstadt.
Um coro de 16 prisioneiros, com os
uniformes verdes dos prisioneiros desse tempo, interpretava uma trupe
soldadesca e de pá ao ombro imitava uma marcha. O grupo era feito a partir de
cantores oriundos do Coral de Solingen uma cidade alemã muito conhecida pela
qualidade da sua metalurgia, cognominada a cidade das lâminas. Lembro-me da estimação
que a minha mãe sempre teve e tem em duas tesouras Solingen que talvez ainda
tenham sido feitas por operários desse tempo.
Alguns dos prisioneiros que
conseguiram completar a pena exilaram-se em Inglaterra junto de outros alemães perseguidos
e por volta de 1936 Hans Heisler que trabalhava com Bertolt Brecht faz uma
adaptação da música para o cantor Ernst Busch. Em 1937 Busch parte para Espanha
para se juntar às Brigadas Internacionais que lutavam para defender o Governo Espanhol
da Républica que fora legitimamente eleito em eleições livres e democráticas.
Este Governo Republicano é atacado pela alta finança industrial que usando os
fascismos europeus de vários matizes se une em torno de um general brutal que tinha
sido afastado para as Ilhas Canárias devido à violência com que tinha reprimido
movimentos grevistas de mineiros e operários das Astúrias. Esse general, apoiado
pelo regime nazi, provocou uma guerra civil que durou três anos, derrubou o
Governo Republicano e deixou feridas que ainda hoje estão por sarar nas
diversas Regiões e Regiões Autonómicas de Espanha. A ditadura e o regime
totalitário que encabeçou duraram até que morreu em 1975.
A canção foi-se espalhando, alguns
dos milhares de prisioneiros presentes na sua estreia no Campo de Concentração
de Börgermoor e que tinham cantado em coro o refrão, foram transferidos para outros campos
como Birkenau e Auschwitz e talvez daí a sua popularidade crescente entre os
sobreviventes da Guerra Civil Espanhola, dos Campos de Concentração, os resistentes ao regime nazi, os sobreviventes da Guerra Mundial de 1939-1945, e entre os opositores
da guerra em geral.
Foram feitas muitas versões da canção e em várias línguas.
Pete Seeger que interpretou a canção contou que ficou surpreendido pela
quantidade de pessoas que no Madison Square Garden de Nova Iorque conheciam e
cantaram com ele a versão original em alemão. Ao que parece a canção vai
passando de geração em geração.
E agora uma traduçãozita rudimentar de
minha lavra. Convido e agradeço que a possam fazer melhor.
Até onde a vista alcança
Charneca pantanosa em redor
Nem os trinados alegram
As carvalhas nuas e retorcidas
Somos soldados palustres
E arrastamo-nos com as pás
Pelos pântanos!
Aqui na charneca desolada
Planearam neste campo nos concentrar
Longe de qualquer alegria escondidos
Atrás do arame farpado
Somos soldados palustres
E arrastamo-nos com as pás
Pelos pântanos!
Manhãzinha; arrastamo-nos em colunas
Em direcção ao pântano onde
trabalhamos
Escavando sob o sol ardente
Com os pensamentos na nossa terrinha
Somos soldados palustres
E arrastamo-nos com as pás
Pelos pântanos!
Esperança temos de regressar a casa
Para os nossos pais mulher e filhos
Do peito soltam-se suspiros
Por quanto aqui ficamos aprisionados
Somos soldados palustres
E arrastamo-nos com as pás
Pelos pântanos!
Acima e abaixo andam as sentinelas
Ninguém, ninguém consegue escapar
A fuga paga-se com a vida
Com quatro cercas é o Burgo vedado
Somos soldados palustres
E arrastamo-nos com as pás
Pelos pântanos!
Ainda assim não nos queixamos
O Inverno não dura sempre!
Temos vontade de uma vez dizer
felizes
Terra natal de novo és minha
Então os soldados palustres
Nunca mais se arrastarão com as pás
Nos pântanos!
Wohin auch das Auge blicket,
Moor und Heide nur ringsum.
Vogelsang uns nicht erquicket,
Eichen stehen kahl und krumm.
Wir sind die Moorsoldaten
und ziehen mit dem Spaten
ins Moor.
Hier in dieser öden Heide
ist das Lager aufgebaut,
wo wir fern von jeder Freude
hinter Stacheldraht verstaut.
Wir sind die Moorsoldaten
und ziehen mit dem Spaten
ins Moor.
Morgens ziehen die Kolonnen
durch das Moor zur Arbeit hin.
Graben bei dem Brand der Sonne,
doch zur Heimat steht der Sinn.
Wir sind die Moorsoldaten
und ziehen mit dem Spaten
ins Moor.
Heimwärts, heimwärts jeder sehnet,
zu den Eltern, Weib und Kind.
Manche Brust ein Seufzer dehnet,
weil wir hier gefangen sind.
Wir sind die Moorsoldaten
und ziehen mit dem Spaten
ins Moor.
Auf und nieder gehn die Posten,
keiner, keiner kann hindurch.
Flucht wird nur das Leben kosten,
Vierfach ist umzäunt die Burg.
Wir sind die Moorsoldaten
und ziehen mit dem Spaten
ins Moor.
Doch für uns gibt es kein Klagen,
ewig kann's nicht Winter sein.
Einmal werden froh wir sagen:
Heimat, du bist wieder mein.
Dann ziehn die Moorsoldaten
nicht mehr mit dem Spaten
ins Moor!
1 comentário:
Muito obrigada por nos proporcionar este momento, que me deixou muito emocionada.
Bem haja, Luis.
Fica um beijinho com estima e carinho.
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