sexta-feira, 17 de julho de 2009

Projecto EX-VOTO: Qual a arte que não é EX VOTO? / EX VOTO project: What sort of art is not an EX VOTO

O EX VOTO é a materialização de um agradecimento. Refere-se ao triunfo sobre a morte, sobre o sofrimeto, à superação duma situação aflitiva de desespêro, ou a uma melhoria de condição de vida. No EX VOTO faz-se a invocação de um acontecimento passado. Nele se inscrevem nomes ou sinais que identifiquem a entidade divina a quem se faz o agradecimento, o nome de quem recolheu a graça, quem foi o ofertante e mais raramente quem foi o autor da obra em si. O EX VOTO é feito em nome próprio ou em nome de familiares, pessoas próximas, entes queridos ou entes dos quais se depende. Há Promessas em nome de filhas e filhos, de escravos (sec.XVIII), mas também em nome de animais. (Animais = Os que têm alma.) Os EX VOTOS não são exclusivos das culturas europeias, nem das religiões de matriz judaico-cristã. Não se podem confinar a manifestações supostamente simples e desajeitadas da "cultura popular", termo este já usado depreciativamente em comparação com a chamada "cultura erudita". Os primeiros EX VOTOS, assim identificados, vi-os pelos meus 10 anos de idade. Foi no Sítio Da Nazaré na capelinha do promontório. Sendo ela própria um EX VOTO, esta capelinha abrigava por essa altura agradecimentos pela salvação de naufrágios, tempestades, e doenças de marinheiros e pescadores. Na altura não tomei consciência da marca indelével que deixaram em mim. O meu subconsciente terá compreendido logo essa ligação da matéria com a transcendência; a fragilidade da existência e a busca de espiritualidade; o ser e a alma. O mais antigo EX VOTO que pude ver encontra-se na Galiza, em A Corunha. Chama-se Torre de Hércules e é um Farol gigantesco em granito com mais de 60m de altura. Foi construído há 1800 anos e mantém-se em plena actividade. Foi mandado construir por um arquitecto, cidadão romano GAIO SEVIO LUPO, habitante da cidade que hoje se chama Coimbra que navegando naquela costa se salvou de naufrágio. A materialização da sua promessa na construção do farol permitiu literalmente a salvação de outros. As rotas das navegações no mundo antigo permanecem desconhecidas mas sabe-se que havia uma ligação entre locais que hoje pertencem a Irlanda, Portugal, e Tunísia. O maior EX VOTO que conheço fica em Mafra. É um convento imenso e o Escritor José Saramago explica a história no seu livro "Memorial do Convento", livro que por sua vez eu acredito ser também um EX VOTO. Da mesma forma em que o livro do Nobel José Saramago é por mim entendido como um EX VOTO.-EX VOTO de hoje para os milhões de trabalhadores sacrificados nos nossos dias, simbolizados pela memória das dezenas de milhares de pessoas criativas e anónimas que entregaram o seu trabalho, o seu sofrimento, e a própria vida para que a construção do Convento fosse possível.-Assim se pode entender o meu projecto dos EX VOTO salvaguardada a modestíssima escala do meu trabalho face à dimensão colossal da obra de José Saramago. The EX VOTO is a materialisation of gratitude and acknowledgment. It refers to triumph over death, suffering, overcoming afflictive and desperate situations or an improvement in one’s quality of life. With the EX VOTO a past event is invoked. Names and signs are written to identify the Divine entity to which the acknowledgment is made, the name of the person who received the Grace, who gave it to the divinity and more rarely the name of the author. The EX VOTO is made in one self’s name or in the name of the family, keen, dear ones or whoever you depend upon. There are Promises in behalf of daughters and sons, slaves (18th century) but also animals. (Animals = those who have anima (soul)) EX VOTOS aren’t exclusive of European cultures, nor of the Judaic-Christian based religions. They can’t be restricted to simple and clumsy manifestations of the so called “popular culture”, a term used depreciatively in comparison to “erudite culture”. I first saw EX VOTOS on a little Chapel at Nazare’s Promontory, I was 10 years old. The Chapel was in it self an EX VOTO, it was full of thanks giving paintings for salvation from shipwrecks, sea storms and diseases of sailors and fishermen. At the time I wasn’t aware of the indelible mark they would live in me. My sub-conscience must have understood the connection between matter and transcendence, the fragility of existence, spirituality, being and soul. The oldest EX VOTO I ever saw was in A Coruña, Galicia, Spain. Called Hercules tower it’s a gigantic lighthouse in granite, more than 200 feet high. It was built 1800 years ago and it’s still active. The construction was ordered by an architect, a roman citizen GAIO SEVIO LUPO, who lived in the city today called Coimbra, Portugal. GAIO had survived a shipwreck while sailing that coast. The materialisation of his promise in the shape of a lighthouse allowed the salvation of many others. The navigation routes in the ancient world are still unknown, but we know there were connections between places today part of Ireland, Portugal and Tunisia. The largest EX VOTO that I know is a huge convent in Mafra, Portugal. Its story was told by writer José Saramago in is book “Baltasar and Blimunda” witch in it self, I believe is also an EX VOTO. In the same way the Nobel José Saramago’s book is to me an EX VOTO. An EX VOTO to the thousands of anonymous and creative people sacrificed at the time the convent was built, who gave their work their suffering and their lives to make the convent’s construction possible but also through their memory to the millions of today's workers equally sacrificed. That’s how I’d like my EX VOTO project to be understood although in a very modest scale in comparison to the colossal dimension of José‘s work.

3 comentários:

Lilazdavioleta disse...

Lindo !

Obrigada pela partilha .


Não tenho a certeza , mas da ultima vez que visitei o museu de Lamego , fiquei com a ideia , que é um dos que mais ex votos possui.

Já fiz um , por uma gata .

Mas no meu dia a dia , como tanta gente , posso dizer que os faço em pensamento ( pode ser considerado ? )

Maria

Luis Filipe Gomes disse...

O VOTO que se faz em pensamento, apenas conhecido por quem o faz, torna-se mais introspectivo e remete para uma relação pessoal com o divino que não pede o reconhecimento alheio. A forma mais comum é a recitação de versos. Rezar, orar, cantar... seja um mantra, o "Pai Nosso..." etc. etc.
Por exemplo há locais especiais de religação através deste tipo de oração em prol da paz no mundo. Ininterruptamente neste mundo pessoas abdicam de parte do seu tempo para rezarem em turnos, 24 horas por dia, pela paz. Acontece na Índia mas também na Igreja do Sacré Coeur em Paris. Como dizia há pouco um mestre espiritual Vrinda numa palestra a que assisti, todos temos fé, seja na água ou na comida que ingerimos confiando que não está envenenada, seja no motorista da camioneta ou no piloto do avião.
A Fé na Divindade, dizem alguns talvez cínicamente, já é uma Graça Divina. Para esses que dizem não terem recebido a Graça, talvez não lhes fizesse mal rezar, pois ficou-se a saber, através dos mapeamentos que hoje é possível fazer da actividade neurológica, que no cérebro existe uma zona que está activa nos ditos crentes. Essa zona funciona como auxiliar de comunicação entre outras zonas e parece ser particularmente relevante na recuperação do paciente, quando há lesões vasculares cerebrais.
Por outro lado, também estudos médico-estatísticos identificaram a quase inexistência de doenças neurológicas degenerativas em comunidades que mantiveram elevados número de estímulos mentais no seu dia-a-dia. A surpresa veio de um local onde aparentemente nada se passava que se julgásse ser estimulante para o cérebro: um convento de freiras que se dedica à oração. As "madres" não sofriam nem de Alzheimer, nem de Parkinson,...
Por isso minha querida amiga na minha opinião, os teus VOTOS e bons pensamentos são preciosos para quem tu os diriges, e são preciosos para ti. No Oriente diriam que estás a melhorar o teu "Karma". Aqui dizemos "Se não fizer bem, mal não faz!"
Luís

Catarina Garcia disse...

Já li 3 livros dele mas ainda não li essa obra-prima, a ver se um dia destes o compro (sim porque um livro desse senhor é uma relíquia e vale sempre a pena comprar).