segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Menino Jesus, Mitra, Chanucá e o Solstício de Inverno.

Chegou o mais pequeno dia como se as trevas avassaladoras fossem tragar a luz e toda a criação. Todas as culturas que vivenciaram este fenómeno ao longo dos tempos foram construindo histórias para o explicar. A nossa matriz judaica comemora por esta altura o Chanucá, a festa das luzes. O que estão comemorando, entre outras tradições orais arcaicas é a vitória de Judas Macabeu à frente de um punhado de pastores na guerra de recuperação da cidade santa de Jerusalém contra os Sírios selêucidas(164 a.C.). Judas Macabeu, literalmente Judas o Martelo (martelo no sentido de clava de guerra) impediu a aniquilação do povo judeu e mais do que isso impediu a aniquilação da sua cultura que naqueles tempos remotos significava a perda da sua religião e da sua identidade pois os selêucidas tinham cultura helénica e queriam impô-la aos outros povos. Após a reconquista de Jerusalém, era necessário purificar os locais profanados. Durante a celebração e purificação da cidade e do templo era necessário acender uma luz a Chanucá durante um tempo determinado para que houvesse purificação. Para esse fim foi encontrado um só vaso de azeite abençoado, não havia mais azeite e o pequeno vaso era manifestamente insuficiente. Por outro lado o azeite do ano estava ainda por fazer porque as azeitonas ainda se estavam a colher nas oliveiras. Ora este azeite que deveria ser bastante para um dia durou uma semana iluminando dia e noite e dando tempo a que o novo azeite saísse do lagar e fôsse abençoado pelo Sumo Sacerdote. Este milagre é a festa das luzes, tantas quantos os oito dias que essa luz primordial se manteve acesa. ................................... A nossa matriz Greco-Latina bebeu em fontes persas e hindus. A renovação da luz pelo nascimento de um Deus Sol vitorioso sobre as trevas. Mitra é esse Deus Sol. É representado por um menino muito semelhante ao que hoje é o Menino Jesus. Em louvor de Mitra sacrificavam um touro negro que simbólicamente era uma encarnação do mundo das trevas, das cavernas e grutas e também a encarnação das forças obscuras e da Lua............................................. O Cristianismo Romano vem calcar e recalcar toda esta imensa iconografia simbólica e apropriando-se da realidade existente, transforma-a à sua imagem: Duzentos anos antes do Cristianismo ser considerado por Roma como a religião do Estado, já o deus Mitra tinha sido adoptado pelos exércitos de Roma que espalharam santuários por todo o império. A estes santuários ofereciam pequenas figuras esculpidas ou moldadas, os ex-votos. A representação de Mitra como Deus solar que faz renascer a luz, da treva, usando a figura de uma criança masculina recém nascida conjuntamente com um touro sacrificial, ou a ser sacrificado era comum. Hoje mantêm-se no presépio sem que deles suspeitemos. O Presépio Cristão tem antepassado nestes altares a Mitra que terão talvez inspirado a pedagógica representação que posteriormente terá sido feita por S. Francisco de Assis. Sem que saibamos a vaquinha no estábulo do nosso presépio é a figura do sacrifício a Mitra e o testemunho da vitória da luz sobre a tenebrosa escuridão. Mitra é agora o menino Jesus. Curiosamente no Império Romano, Mitra tinha uma data de nascimento estabelecida que era precisamente o correspondente ao dia 25 de Dezembro. Esta data fixa sobrepôs-se à data móvel do solstício. O solstício que tem variado entre o dia 20 e 25 durante estes séculos da nossa experiência. Por estarem mais familiarizados com Mitra os cristãos do Oriente continuam a comemorar o nascimento de Jesus noutro dia. ................ A nossa raiz muçulmana aparentemente não liga a esta data, mas sem dúvida respeita-a formalmente ou não fosse Cristo um dos cinco mais perfeitos profetas e o mais importante imediatamente a seguir a Maomé. Além disso esses nossos antepassados que vieram invadir a península Ibérica pelo séc. VIII e XIX da nossa era, eram instruidíssimos comparativamente com a rude e analfabetizada nobreza medieval. Falavam mais do que uma língua além da sua, sabiam cálculo matemático, geometria, astronomia; tocavam instrumentos musicais, declamavam poesia, escreviam e liam. Não nos podemos esquecer que foram eles que terão inspirado Carlos Magno a aprender a ler e a escrever, e a deixar de escrever os caracteres latinos na forma que hoje chamamos letra maiúscula, para os escrever de forma cursiva sem levantar a ponta da cana (caneta) como os Mouros faziam e tal como hoje fazemos.

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