quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
Manuela Ferreira Leite. - Voltámos a um mundo primitivo de brumas e atavismos vários, isolado e sem solidariedade em que o sacrifício humano é devido e exigido, umas vezes aos novos outras vezes aos velhos mais desvalidos.
A narrativa foi feita em 1957 por um homem novo, ombros vergados, fala abatida e sem orgulho no que dizia. A confidência, mais para desabafo do que por vontade de obter absolvição perante algo inaceitável, referia-se a acontecimentos que remontavam a tempos antigos. Porém quem ouviu o homem assegurava que poderiam ser de um passado próximo, de época de grande escassez e fome, tal a tristeza que a sua voz testemunhava.
Contou então ele que na sua terra encravada no meio de montanhas o chão bruto de pedra granítica não guardava pista ou memória de criatura que ali passasse, pouca terra havia para que no chão se pudésse pôr a enxada ou enterrar o arado. A vida era muito dura.
O Inverno especialmente longo e frio obrigava a que vivessem dependentes da criação de animais que traziam para pastagens chãs e longínquas onde o frio da altitude não castigava com o manto de neve gelada.
Nos anos de pouco pão em que o centeio e o milho para broa não chegavam para comer todo o Inverno, os vizinhos deitavam contas às batatas e aos feijões, à lenha que tinham armazenado, às castanhas piladas, ao azeite e aos frutos secos, às passas de figo e de pêssego, à salgadeira e ao gado vivo. Quando não chegava para todos mesmo que vendessem e houvesse alguém que lhes comprasse tudo o que tinham, pedia-se então o sacrifício supremo.
Os mais velhos e fracos subiam à montanha com os primeiros nevões e num esforço derradeiro ajudavam a recolher o gado, despediam-se dos que traziam os rebanhos para o vale e por lá ficavam nalguma furna ou debaixo de alguma fraga. A pouco e pouco o frio arrefecia-lhes o corpo frágil. Rápidamente caíam num torpor sonolento que os adormecia definitivamente. Lá ficavam até que o gelo derretesse e permitisse que alguém os encontrásse.
A senhora do filme deve ser desta terra e deste tempo.
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1 comentário:
Esta senhora é intemporal , tal como as espécies raras .
ela não sabe que um doente renal sem tratamento falece em poucos dias.
Ou saberá e isso é somenos ?
A desfaçatez com deitam cá para fora o que pensam é de arrepiar
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