"Acometidos pela furiosa tormenta quando nos devorava o Adamastor.
Rogámos ao Alto Céu que nos sálvasse
Na aflição de tão medonho horror A Piedosa Mãe logo acudiu,
Em calmaria bonançosa a bom porto chegámos
Sem perder o que esforçados ganháramos."
O reverso da caixa. Apresenta uma referência a um espaço sagrado contemporâneo da sua execução-neste caso um museu- que terá sido colado posteriormente com intenção de registo do local e datação da manufactura da peça.
Como é sabido os museus substituíram os antigos "Gabinetes de coleccionador"; verdadeiros repositórios materiais de indícios da flora, da fauna e do mundo mineral, como prova de viagens a mundos novos e distantes, desconhecidos do Génesis da Criação.
Por sua vez estes Gabinetes de Coleccionador como espaços de entronização do conhecimento científico e acumulação multidisciplinar de saber, assumiam o papel que outrora as antigas catedrais tinham ao centrar num local o poder divino e as formas de entendimento da realidade.
Do propósito das catedrais, dos gabinetes de coleccionador, dos museus...manifesta-se a continuidade de serem locais onde a resolução de inesperadas contrariedades e tragédias, mesmo as mais graves, parece ter sido resolvida ou pelo menos relativizada face ao absoluto do que é eterno.
A quadra remete para uma prática com alguma semelhança com o hinduísmo. A quadra refere-se à imagem como sendo um "murti". Não é a imagem que é sagrada mas é através dela que se manifesta o espírito divino. No hinduísmo uma imagem, ou objecto; pintura, escultura ou mesmo um texto, só se consideram dignos de culto quando sobre eles é invocada a divindade que essa imagem representa, ou seja, a força divina que está sobre ela, e há o propósito de oferecer veneração ou agradecer uma graça concedida.
Sem comentários:
Enviar um comentário