Chamamos-lhe
cor de laranja. Mas poder-se-lhe-ía chamar cor de alperce, cor de abóbora, cor
de cenoura; cor de açafrão ou cor de curcuma. Ou melhor ainda, cor de ocaso, ou
cor de fogo, ou cor de Oriente.
No Oriente
esta cor sem nome que se agarra àquilo que a ilustra, era uma cor de pobreza.
No Oriente os mendigos cobriam-se com mantos tingidos dessa cor. Por isso
quando Siddhartha Ghautama, aquele ser a quem chamaram Buda, atingiu a Iluminação, fez desse
manto a sua veste em sinal de despojamento. Desde então essa cor é também por
isso, uma cor de sabedoria e de santidade.
Na época
medieval a cor sem nome, amarelo avermelhada, simbolizava a cobiça, a fúria, a
insanidade e a morte.
Talvez que a
esta carga simbólica de violência não fosse alheio o facto de serem usados
desde a antiguidade pigmentos altamente tóxicos obtidos de minerais de arsénio
e enxofre, realgar e orpiment ou ouro-pigmento que são sulfuretos
de arsénio. Foi com estes pigmentos obtidos dos minerais triturados que se
pintaram belos túmulos egípcios, templos gregos, frescos romanos, ícones ortodoxos,
iluminuras, ...e pontas de seta. As belas pontas de seta que assim oxidavam menos
e matavam melhor. Quem não morria da ferida logo morria do envenenamento. Não é
feito Ocidental exclusivo pois parece que o pó mineral cor de ouro também era usado no Oriente, na China, era usado para matar não só os humanos mas também os ratos.
A bela côr “alaranjada”
dos códices medievais feita de arsénico e enxofre é mais um daqueles homicidas
prodigiosos de que fala Umberto Eco no “Nome da Rosa”.
Pelo séc. XVI
os portugueses que tinham chegado ao Oriente, de lá trazem e espalham laranjas e
laranjeiras por todo o lado. Até o capitão da Nau Catrineta tinha um laranjal. Todos os quintais têm uma ou mais laranjeiras, há quem diga que cá ficavam com as doces e para fora vendiam as
amargas. Mas mesmo dessas laranjas amargas alguém que terá partido de Portugal
para Inglaterra com uma tal Catarina decidiu fazer o que fazia aos intragáveis
marmelos e por isso a marmelada que os Ingleses comem nada tem a ver com marmelos
mas sim com laranjas.
O sucesso
das laranjas foi tal que a Casa de Nassau e Arausio uma pequena localidade fundada em 36
a.C. pelos Romanos onde outrora se cultuava uma divindade céltico-latina das águas
e das fontes adoptou o nome Orange e mais do que tudo adoptou a cor da laranja.
A Casa de Orange continua a reinar na Holanda e o Laranja é a cor com que os
holandeses se identificam mesmo sem saberem porquê.
Nos dias de
hoje de normas e directivas; de leis e de mais leis, a cor de laranja foi
escolhida pela marinha como a cor das bóias, dos coletes de salvação e das embarcações de socorro. Por ser uma cor
visível com pouca luz, por se destacar mesmo na obscuridade quase total e por ser
ainda uma cor rara no mar e na natureza, associada à produção humana.
Náufragos
antigos que sobreviveram a ataques de monstros marinhos atribuíram a essa cor o
poder de repelir tais predadores; marinheiros de navios afundados durante a
Segunda Guerra Mundial referiram o mesmo no que se julga hoje terem sido
ataques de lulas gigantes ou tubarões.
Infelizmente
a cor de laranja também foi a cor escolhida para ser a cor dos prisioneiros.
Prisioneiros condenados ou inocentes, julgados ou sem direito a justiça alguma.
Cor de
laranja é a cor das roupas dos torturados, dos supliciados.
Se a infâmia
e a ignomínia têm cor essa parece ser a cor de laranja.
O antigo valor simbólico medieval desta cor sem nome está a ganhar importância e de novo parece querer
colorir a morte.
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