sábado, 14 de novembro de 2020

Quando a dor de cabeça dura três dias.

 


Dura é a dor durante

a noite o sono e o sonho

Onda gigante cresce colossal

bate na orla da rocha craniana

granula, corrói e dilacera

Martelo que repuxa e deforma

Nem resiliência nem elasticidade

Até à rotura.

Fecho os olhos. Vem a vertigem.

Vacilo, imóvel no torvelinho,

a agitação sacode o tonel

de líquido espesso

que centrifuga dentro

da minha cabeça, sem-fim

agarrada na engrenagem

que me impele vou

e vou contra a bigorna

estremeço e o sino vibra

ecoa por léguas.

A forquilha espeta-me nas narinas

o aroma cáustico

fosse antes o perfume fétido

e redondo de fossa nítrica

ou fedor sulfuroso de sulfatara

não este gume infernal

e sinestésico de luz, som e odor.

Um  sofrimento total 

prostração continuada 

à beira do cego desespero

que dura há três dias.




1 comentário:

Justine disse...

Esperando que o sofrimento entretanto tenha passado...