Como se
fôsse possível ele disto saber ou ter alguma curiosidade.
Doíam-lhe as pontas dos dentes,
uma nevralgia comum
nos que combatem o escorbuto
comendo limões à dentada.
-A piorreia vai-lhe levar os dentes-
Disse-lhe a periodontologista
Numa das raras aparições
em que não entregara a consulta à higienista
para passar no ginásio de “fitness”,
ou fornicar com o amante
-Falta de limpeza! O sr. não lava os dentes?
-(…)
-Pelo menos não os lava como deve ser!
-(…)
O senhor fuma?
-(…)
-Tanto tártaro… Pedra; sabe!
-(…)
-Mas afinal o que é que andou a comer?...
-(…)
-Bebe muito chá?
- (…)
Curcuma! Dir-lhe-ía
se possível fôsse responder,
boca escancarada;
de um lado a fresa pneumática,
de outro a cânula de aspiração de líquido.
A estrutura do poder é essa
Provocar a ansiedade. Julgar.
Causar o sofrimento.
A sugestão da dor
pela sensibilidade antecipada da dor.
Implantar uma raiz de mêdo.
Deixar uma marca indelével:
Uma cruz numa porta
que se receou apagar
ou uma estrêla que se cose na veste
com a côr amarela
com que a açafroa tinge o aço.
Desistiu das consultas de periodontologia
quando uma dor violenta
o levou de urgência a um dentista.
Após radiografias
e dois pareceres médicos independentes
o estomatologista extraiu-lhe 4 dentes sem cáries
que tinham ganho quistos nas raízes.
Decidiu nesse momento inconsciente
morrer desdentado, velho,
contra a opinião das amigas
que lhe palpavam o “look”.
Um sibilar novo alterara-lhe a loquacidade,
devido a falta dos incisivos 42,41,31 e 32.
Passou assim a expressar melhor
a fundamentação do desprezo
pela ignorância dos deuses médicos
dessa outra especialidade clínica.
1 comentário:
No meu blog FALANDO SÉRIO um inusitado desfecho de toda essa matéria fecal na qual transformamos nossa pobre sociedade!
Confira!
Um abração carioca.
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