sexta-feira, 24 de abril de 2009

Tauromaquia, toureiros e respeito animal

Houve um tempo em que eu queria ser toureiro quando crescesse, tinha 5 anos. Houve um tempo em que me interessei pela tourada e vi corridas de toiros em Espanha, tinha 15 anos. Houve um tempo em que me interessei pela tauromaquia, li bastante sobre a arte de Belmonte; Tentei aprender mitológica, técnica, e mesmo poéticamente: nomeadamente com Lorca; Aprendi com a História a Arqueologia a Etnologia; Descobri Goya, Picasso, Pomar e as suas tauromaquias; Eu próprio desenhei, pintei, e fiz gravuras com a temática da tauromaquia,tinha 25 anos. Aos 45 anos a minha alimentação já só integrava animais vestigicialmente. Agora aos 47 estou gradualmente a ficar Vegan. À sua maneira os toureiros no seu mundo particular e algo virado sobre si próprio respeitam os touros que lidam. Blasco Ibañez escreveu um livro que me impressionou na altura que o li, chamado "Sangre y Arena". No final concluímos que a fera não é o touro ou o toureiro mas sim o público. Não o público específico das touradas mas sim nós todos, a turba. A sociedade a que pertencemos encanta-se com os bodes expiatórios, que lhe possam retirar de cima o desconforto do sentimento de culpa. É ridículo falar de touradas e de circo, sem que se diga uma palavra sobre a caça a pesca, e o que é terrivelmente pior as chamadas Empresas Agro Alimentares de Produção Animal ou os Laboratórios de Investigação Científica que utilizam cobaias vivas para pesquisa. Com o tempo os touros bravos talvez só existam pelo prazer que temos em os ver correr e lutar pelas fêmeas. Os toureiros talvez se tornem os seus guardiões tal como aconteceu a muitos caçadores de África. Curiosamente penso que o Cavalo Lusitano corre mais risco de perder as suas características do que o descendente do Uro e do Uroque, perder a sua bravura. Há quem defenda mesmo que a tauromaquia a cavalo nasceu para manter os cavalos aptos para a guerra. As características do Lusitano, talvez o mais antigo cavalo de sela do mundo, foram preservadas pela Tourada Portuguesa permitindo que ele continuásse a ser a montada ímpar que consegue carregar a galope, estacar e virar em espaço curto. A guerra a cavalo é obsoleta. Também a tauromaquia em que os cavaleiros envergam casacas à maneira do séc.XVIII é obsoleta. Haverá concerteza melhores maneiras do ecossistema que contem homens, touros, cavalos, todos os animais e plantas do montado continuar a existir. Afinal as conclusões de filósofos como Peter Singer, nossos contemporâneos, sobre ética e respeito dos animais, são antigas. Começaram lá atrás numa terra em que uns tipos de cabelo desgrenhado e barba por fazer, pobres e frugais, enrolados em panos modestos, alguns simplesmente de sandálias ou descalços, inventaram os mitos, os labirintos, e a maneira de sair deles.

1 comentário:

Catarina Garcia disse...

O Luís é a prova viva de que aqueles comentários que se referem aos vegetarianos como jovens que só querem chamar a atenção e que com o tempo voltam a ser omnívoros que estão totalmente errados.
Parabéns pela boa opção de vida, fico muito contente por ver alguém de outra geração a tomar uma decisão destas.