sexta-feira, 24 de junho de 2011

SHARDE THOMAS - Uma espécie de São João. A liberdade de tamborilar e tocar pífaro.

Como se poderá traduzir Rising Star Five? Talvez Os Cinco da Estrela da Manhã; ou Cinco da Estrela-d’alva.


Aqui os cinco não se referem ao número de músicos do conjunto, mas sim ao número de orifícios do pífaro.

Ao ouvir o som fresco desta flauta de som agudo é sugestivo fazer a sua identificação com a alvorada e o despertar do novo dia.

Em Portugal este som conjunto de flauta e tambor era ainda há poucas dezenas de anos um som familiar no toque de alvorada em festas e romarias. O som podia mesmo ser produzido por um único executante, o tamborileiro, que segurando uma flauta numa das mãos, tocava com a outra um pequeno tambor que trazia suspenso.

Esta associação de flauta e tambor inicialmente fazendo parte da música erudita da corte, tal como mostram as ilustrações nas cantigas de Santa Maria do séc. XIII, difunde-se entre outros extractos da população tal como mostra um retábulo representando a Adoração dos Pastores pintura do séc. XVII-XVIII, da igreja de Santa Maria de Alcáçova, em Elvas onde curiosamente o tamborileiro é um jovem africano, em trajes palacianos. Entre nós, desde o séc. XVI que na infantaria abundam os pífaros e os tambores.

A passagem desta parelha instrumental da música erudita de palácio para a música militar de batalha e a sua divulgação entre os tocadores populares levou pelo menos 600 anos até à sua presente escassez.

Durante as épocas coloniais em que a força de trabalho era suportada pela mão-de-obra africana forçada à escravatura, a utilização de percussão nas festas dessas comunidades de escravos, foi proibida. A pena de morte chegou a ser imposta como punição d a sua utilização.

No caso português, esta familiarização desde tempos remotos, com instrumentos de percussão entre diversas camadas sociais, talvez tenha permitido a sua utilização livre pelas comunidades africanas nomeadamente nas festas do S. João.

Por isso temos a exuberância das percussões brasileiras e sul americanas em diametral oposição à sua escassez na América do Norte.

A existência em comunidades isoladas de tocadores de flauta e tambor nos Estados Unidos são por isso uma raridade e talvez se devam a tocadores que ganharam o direito de soar tais instrumentos devido à sua participação relevante em cenários de guerra. Nomeadamente na Guerra de independência dos Estados Unidos e depois na Guerra de Secessão.

Aqui podemos ver Sharde Thomas a neta de um grande músico popular chamado Otha Turner

que continua a tradição deste tipo de música tão raro.


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