É o som de
uma bilha sem gás
E isso
acalma-me.
Não vejo o
recipiente
Mas sei que
aquele ruído não me engana
E que por
enquanto posso
Confiar no
mundo.
Uma bilha de
gás doméstico
Para refeições,
banhos e pequenos prazeres
Do corpo de
uma pequena burguesia
Medrosa de
todos os terrorismos
Que vêem nas
televisões.
Nunca gostei
dessa gente maciça
E sempre
pronta a apontar com o dedo
O que não
está nem fica nem merece nem sabe
O bem que Deus
nos atribui
Com o dom da
vida.
Conviverei com
ela até ao dia do juízo
Não tive
outro destino senão ouvir esses profetas
Medianos no
patamar da escada
Ao jantar na
província à vista da novela
Babada em
desejos avulsos
Ao limpar os
pés
Da morte.
Estendo-lhes
a mão
E enceno uma
comédia diária
E leviana
que chega para o riso das artroses
E empurra os
malefícios da guerra
Para o tempo
virtual
Da sobremesa.
Cruzamos a
nossa vida
Com inimigos
do peito cegos o dia e a noite
Com outras
alucinações
Que não
cabem em bilhas de gás
Ou de outra
natureza
Mais explosiva.
E a minha
existência
Alonga-se na
leitura dos textos
Na cobardia
amável das teclas transformistas
Na doçura da
chuva nas janelas
Na tarde que
aparece
Sem surpresa.
1 comentário:
Tenho a certeza que Armando Silva Carvalho gostaria deste óptimo desenho .
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