terça-feira, 6 de junho de 2017

Oração ao Tempo - Caetano Veloso


 

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo Tempo Tempo Tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo Tempo Tempo Tempo

Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo Tempo Tempo Tempo
Entro num acordo contigo
Tempo Tempo Tempo Tempo

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo Tempo Tempo Tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo Tempo Tempo Tempo

 
Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo Tempo Tempo Tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo Tempo Tempo Tempo

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo Tempo Tempo Tempo
Quando o tempo for propício
Tempo Tempo Tempo Tempo
 

 

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo Tempo Tempo Tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo Tempo Tempo Tempo

O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Apenas contigo e migo
Tempo Tempo Tempo Tempo

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo Tempo Tempo Tempo
Não serei nem terás sido
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo, Tempo, Tempo, Tempo

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo Tempo Tempo Tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo Tempo Tempo Tempo

 

6 comentários:

Justine disse...

Há "séculos" que não ouvia esta canção do Caetano, já nem me lembrava!
Emocionante, e pode ser uma belíssima definição de Tempo..
Obrigada pelo "acrescento" às reflexões que me suscitou a crónica do Tolentino Mendonça no Expresso

Lilazdavioleta disse...

Este homem tem composições muito boas . Esta é uma delas .

Luis Filipe Gomes disse...

Justine, um dia, eventualmente, acabarei por ler alguma poesia do autor que referes, mas é bom de ver dito isto, que o preconceito tolhe-me a vontade. Onde deveria ver clareza e transparência: o autor não esconde quem é; vejo proselitismo e interdição. É que eu sou de um tempo em que os escritores assinavam com nomes como José Régio, António Gedeão, Miguel Torga, já para não ir lá mais atrás ao que se chamou Abade de Jazente.
Tentei ler algumas crónicas mas assomava-se à minha memória a palavrosidade do discurso redondo das suas aparições televisivas de uma forma tão viva que logo esmorecia a minha vontade, frustrava-se a minha intenção e tombava prostrada no chão o jornal e a crónica.
Hei-de ler, é uma questão de tempo, digo eu.

Luis Filipe Gomes disse...

Maria conheço o Caetano desde que me lembro. Havia uma constelação enorme com o Cruzeiro do Sul no meio: o Roberto Carlos do Calhambeque, o Chico Buarque com a banda a passar,o Caetano com a Tropicália... sob a cabeça os aviões, sobre os meus pés os caminhões...
Gosto muito do Caetano e da Betânia.

O Puma disse...

Boa partilha
Abraço amigo

Luis Filipe Gomes disse...

Um abraço também Puma!