segunda-feira, 23 de abril de 2018

Não havia livros na casa.


Pedia livros e traziam-me guloseimas: rebuçados com feitios de peixes... amêndoas de licor enfeitadas para parecerem um porquinho ou uma galinha. Amêndoas de açúcar mole a imitar ovos de Páscoa... Bombons... 

Pedia livros que era o que eu mais desejava e traziam-me guloseimas doces. E diziam-me "Olha que tu não peças nada à Dona Gigi!" 


"Que queres tu?" perguntava-me a Dona Bibi.

- "Quero histórias!".
"A  Bibi agora não tem tempo para contar histórias!"
- "Quero livros!"
- "Livres?" perguntava a Dona Gigi.


Pedia livros e traziam-me as futuras dores para os meus dentes.

Não havia livros na casa nem havia escova de dentes. E eu pedia livros. Não sabia que devia pedir também uma escova de dentes. Mas se a pedisse não adiantaria nada é certo.

Quando vinham de visita, a Gigi e a Bibi, traziam bolos para o chá. Costumavam também trazer as tais guloseimas, por vezes até caramelos ou chocolates. Poderiam perfeitamente entrar na livraria em vez de se ficarem pela pastelaria que ficava na mesma rua. Nem precisavam de muito andar ou carregar porque o "chófér" com boné de pala deixava sempre o espada preto estacionado à porta das lojas e encarregava-se de carregar os embrulhos.


- "Livros Gigi! Ele disse livros.

- "Livros? Mas ele ainda não sabe ler!


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