No abrigo daquele pequeno corredor de portas fechadas, um letreiro avisava em português e inglês:
ATENÇÃO
ESTAS COISAS SÃO PARA PESSOAS SEM-ABRIGO
POR FAVOR NÃO ROUBE! OBRIGADO.
Quem descêsse o par de degraus e se recolhêsse naquele canto virado para as caixas de fruta deparava ainda com mais outro letreiro idêntico.
Despertou-me então a memória. Naquele exterior de muros altos, encerrado por corredores amplos e desertos. As paredes brancas, tapando claustros ajardinados e átrios vazios. As amplas salas vedadas por sólidas grades de ferro lembraram-me:
A fruta derramada pelos caminhos ornados por todo o tipo de árvores, arbustos e trepadeiras:
Macieiras, figueiras, ameixoeiras, pessegueiros...
Orlando ravinas e declives, os castanheiros, as avelãzeiras...
Limitando propriedades, as videiras, os marmeleiros, as cerejeiras, as nogueiras...
Eram essas árvores de fruto e de sombra, o consolo dos animais silvestres que passavam em bando ou em rebanho. Eram petisco para a pausa das vacas que vinham do monte ou dos burros que regressando a casa puxavam os carregos de mato para o quinteiro.
Eram esses frutos a dejua de peregrinos e romeiros, os de Santo Estêvão, os de Santo António, os de Santa Eufémia.
Também por ali nunca ninguém ficara desabrigado ou sem caldo que lhe matásse a fome e o frio da noite.
A tradição da hospitalidade recolhia tanto o pedreiro que ía cavar um poço ou abrir uma mina, como os jornaleiros a caminho do sul, ou a caravana dos cesteiros que vinham até ao rio colher junco.
Muitas vezes sabia-se quem eram os forasteiros; se eram vindimadores, se eram negociantes, se era o almocreve procurando vivo, se o capador... mas nada se perguntava a quem não quisesse falar.
Além disso as portas tinham aldrabas com tranquetas de madeira e nunca me apercebi que quem comêsse fruta na passagem fosse avisado para não a roubar.
Também por ali nunca ninguém ficara desabrigado ou sem caldo que lhe matásse a fome e o frio da noite.
A tradição da hospitalidade recolhia tanto o pedreiro que ía cavar um poço ou abrir uma mina, como os jornaleiros a caminho do sul, ou a caravana dos cesteiros que vinham até ao rio colher junco.
Muitas vezes sabia-se quem eram os forasteiros; se eram vindimadores, se eram negociantes, se era o almocreve procurando vivo, se o capador... mas nada se perguntava a quem não quisesse falar.
Além disso as portas tinham aldrabas com tranquetas de madeira e nunca me apercebi que quem comêsse fruta na passagem fosse avisado para não a roubar.
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