Nos países felizes em que há parques infantis para as crianças brincarem há um aparato conhecido como “escorrega”.
O objectivo é subir uma escada, chegar a um patamar elevado em que a visão panorâmica do recinto permite ver as outras crianças, depois sentar na borda de um plano inclinado e deixar escorregar o corpo na velocidade da descida até os pés tocarem o chão em abaixo.
A velocidade com que se decai naquele precipício seguro sentindo o vento na cara provoca uma excitação e uma alegria crescente. Talvez seja esse o primeiro contacto com a adrenalina sem as consequências nocivas de outras preocupações além da euforia da brincadeira.
O escorrega pode ser encarado como uma imagem metafórica da percepção da duração da vida.
Há um período em que o tempo é lento e parece dilatar-se. Sobe-se degrau a degrau. A demora é uma ilusão provocada pela descoberta constante da novidade do mundo em redor e naquele escoamento lento das horas é possível acreditar na imortalidade.
Depois a emoção toma conta dos sentidos numa velocidade inebriante. Perto dos pés tocarem o solo percebe-se que tudo foi rápido demais e acabará num instante. O visível momento do impacto é esperançosamente desejado sem dor.
1 comentário:
Excelente texto, L.F.!
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