domingo, 17 de maio de 2009

O estojo de desenho.

Havia um estojo de desenho trazido de França como presente. Fôra comprado num bazar da estação ferroviária e foi dito que era coisa barata, para ser posta a uso. O estojo abria-se em três partes. Duas correias apertavam o estojo fechando-o nos dois botões-mola metálicos, macho-fêmea. As duas correias dividiam longitudinalmente a capa exterior de napa preta imitando couro. No interior um tecido em tartan vermelho e preto tinha tiras elásticas cosidas na forma do molde dos objectos que aprisionavam: lápis de cor, um compasso, uma régua plástica espalmada, uma régua de madeira de secção quadrada, um esquadro, um transferidor, um apara-lápis, uma borracha, uma caixa porta minas e outras coisa de que já me não lembro... A inusitada prenda parecia tão boa e tão mal empregue para o estrago que eu lhe poderia causar com a rudeza da minha meninice, que só saiu de cima do guarda-vestidos quando eu ía para a escola preparatória para o meu quinto ano de escolaridade. Foi tarde de mais o conteúdo do estojo tinha-se tornado obsoleto. O rigor dos desenhos geométricos exigia um compasso metálico com precisão para traçar uma circunferência em que o risco de as pontas se moverem fosse mínimo. Na escola preparatória até os lápis de cor eram pouco usados a enfâse estava em aprender a usar os pincéis, pintar com anilinas, com gouache ,fazer colagens, construir a três dimensões. A expectativa de tantos anos de espera transformou-se em desapontamento e em embaraço, pois não me sendo útil, estava impossibilitado de o oferecer a quem lhe pudesse dar uso. Afinal tinha sido um presente que viera de longe, de França... e há tanto tempo.

2 comentários:

Catarina Garcia disse...

Ao menos fez as delícias do pensamento durante os anos de espera e anos mais tarde deu origem a um bonito desenho.

Anónimo disse...
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