segunda-feira, 10 de maio de 2010

Campeonato de Rapazes

Com os rapazes nem o diabo quis nada com eles. Os rapazes quando podem, deixam-se ficar rapazes toda a vida; tornam-se rapazolas. Brincam à bola, ficam a ver os mais habilidosos a brincar à bola, gostam de ter carros indiscretos e velozes, gostam de beber até à náusea, apaixonam-se por mulheres que não existem na sua realidade e hão-de casar com a mulher que mais se assemelhe à mulher que para eles fez o papel de mãe. Os rapazolas estão agora por todo o lado, e o que é pior; chegaram aos lugares de poder e decisão sobre a vida dos outros. Ontem a propósito do jogo da bola, os rapazolas das televisões ocuparam todo o tempo de emissão e dos noticiários. Três canais com noticiários às 20:00H, mais três canais que 24 sobre 24 horas transmitem notícias limitaram-se a falar e papaguear a falta de assunto da sua criação: Um clube de um bairro de Lisboa ganhou o campeonato. > Estes campeões não se batem por causas maiores, nem pela defesa da honra, nem pelos mais fracos, nem pelos indefesos ou desvalidos. O seu campeonato é coisa de rapazes. Também coisa de rapazes foi essa ideia de manipular as pessoas e à força do que não estava a acontecer, fazer o acontecimento. Fazer com que as pessoas mais ou menos adeptas do jogo da bola e do clube em particular se deixassem contagiar pelo espírito da multidão e viessem para a rua manifestar-se. Os jornais da manhã de hoje falavam em muitos milhares de pessoas na rua. Um deles falava em cinquenta mil pessoas. Este número mágico de 50 000 foi atingido em protestos sucessivos de cidadãos, contra políticas de direita, dos governos do partido chamado Partido Socialista. Ora nessa altura este número foi menosprezado por um rapazola da moda que é sempre apresentado como professor. Dizia ele que 50 000 era o número de espectadores que assistiam aos jogos da bola importantes e digo eu, os dos clubes chamados grandes e que são sempre os mesmos a ganhar os tais campeonatos. Após esta astuciosa relativização do protesto de rua, os números e o descontentamento têm vindo a aumentar. Os últimos protestos de rua várias vezes chegaram aos 200 000. Tal facto desautorizou o dito professor, vendedor de verdades absolutas e banha da cobra. Talvez por isso um jornal de rapazes amigos, poder-se-ia dizer mesmo, amigalhaços; vinha já hoje falando que na rua estiveram duzentos mil, o novo número mágico para desvalorizar caso não seja a manifestação uma coisa de rapazes. A má notícia de ontem ficou submersa ontem e hoje. Amanhã falar-se-á da visita do Papa do Vaticano e a má notícia como música de fundo passará sem discussão até que se entranhe e de novo se transforme o que não aconteceu num acontecimento irreversível. Ora a notícia má não serei eu que a vou repetir. Só não ouve, não vê e não entende quem não quer. E segurar na parede barro que outros a ela atiraram não é coisa que eu esteja disposto a fazer.

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