segunda-feira, 17 de maio de 2010
Somes bons, desde que haja uns trocos para uns copos e sêjamos campiões.
Onte um jernal do tipe coisa e tal, trouxe reportaij sobre o qus pertegueses parciam aos senhores da National Geographic tão important é a maneira come nos veiem. Coisas de reiting é cert. Dizia o jernal coisa e tal qus outres diziam quem Pertugal as mulheres eram benitas e etc. e que eram benitas sempre carregadas com grandes cargas à cabeça e pesos e fardos e cêstos tou a imaginar e sempre descalças porque eram avêssas aos sapatos e apesar da lei andavam sempre bonitas bestas de carga e descalças tal qual animal. Por isso o jornal coisa e tal dá uma importância ao que diz a revista do moderno aventureiro, neocolonialista, desportista próradical, superficial quanto baste, mas o tal jornal não foi ver que olhos eram esses que nos viam e porque assim nos viam. Outra coisa me chamou a atenção: no princípio do século XX éramos os mais baixos da europa mas também os europeus que maior cabeça tinham. Estas comparações estatísticas e antropométricas entre letrados os outros e analfabetos nós, bem como a maravilha que para o visitante estrangeiro parecia ser a perícia dos artesãos fôsse qual fosse a sua arte; joalheiros ou carpinteiros não deixa de me fazer sorrir pela sobranceria do observador mesmo que a sua aparente candura iluda o propósito da observação. Este tipo de observações que ontem como hoje não exige reparação por parte do sujeito de estudo é semelhante ao abuso destrutivo e torcionário a que são submetidas as cobaias de laboratório. A perversão aqui é que as cobaias são seres livres no seu habitat e nenhum propósito intencional de agressão lhes é dado a conhecer. São por isso apanhadas desprevenidas.
Parece abstracto? Pois bem a meio da década de 80 fábricas de cablagem (fabricam os cabos e os terminais de ligação dos sistemas eléctricos dos automóveis, luzes, ignição, sistemas de segurança etc.) instalaram-se nos meios rurais, onde havia mulheres descalças bonitas, descalças sempre com carrêgos pesadíssimos à cabeça, mulheres muito hábeis de mãos nas suas malhas e bordados sobretudo muito rápidas e destras na execução das rendas de bilros. Essas mulheres e só elas foram trabalhar para a fábrica que pagava bem. Muito melhor que o trabalho rural à jorna, melhor que qualquer outro trabalho disponível nesses meios rurais.
Poucas terão dado importância ao encerramento de fábricas semelhantes na Holanda ou na Bélgica, na mesma altura em que cá eram inauguradas. Os ritmos de trabalho destas fábricas são altíssimos. São fábricas "zero defeitos" o que significa que não é admitido o menor êrro. A inspecção estatística que usa amostragens apertadas quando detecta uma deficiência obriga à escolha de todas as peças feitas, uma a uma. As equipas de trabalhadoras funcionam em linhas de produção. Labutam até à exaustão e competem entre si e de turno para turno. São fábricas que trabalham "just in time", ou seja não produzem para reserva (stock) que lhes amorteça alguma falha de produção, tudo o que produzem é imediatamente expedido para redução de custos de logística com a armazenagem. Por isso quando foram detectados problemas de cansaço e desgaste físico rápido em trabalhadoras de algumas destas linhas de fabrico nada foi feito. Com a conivência ou a impotência da fiscalização e da medicina no trabalho a que essas empresas por lei estavam obrigadas, muitas mulheres foram sacrificadas no altar do lucro máximo. A sua estrutura muscúlo-esquelética ficou irremediávelmente destruída.
Muitas deixaram de conseguir sequer segurar um copo de água e para o beberem têm de usar as duas mãos ou uma ortótese que ligue o braço ao copo. O "just in time" que impunha um ritmo desenfreado a estas operárias abrandou apenas quando o número de casos de invalidez se tornou impossível de abafar ou imputar à constituição física da trabalhadora, e mais do que isso começou a aparecer na televisão. A solução para o problema encontrou-se quando se interromperam os movimentos repetitivos feitos por longos períodos de tempo. As incapacitantes tendinites de esforço diminuíram drásticamente com pequenas pausas e mudança para tarefa com movimento diferente.
Isto vem a propósito também de que agora se anda espalhando que (...)os gregos estão em crise financeira porque por exemplo consideram as cabeleireiras uma profissão de risco. -Julgo que o que o meu interlocutor queria dizer era que na Grécia a profissão de cabeleireira tem o estatuto de desgaste rápido, e por isso permite uma reforma antecipada. Como bom português que é o meu interlocutor foi apanhado distraído e foi manipulado. Era uma discussão alongada isto das profissões de desgaste mas de facto eu não quereria passar a minha vida em pé com os braços levantados à altura dos ombros e dobrados pelos cotovelos contra o peito, cheirando perfumes, corantes, fixadores e toda a espécie de químicos aerossois. As empregadas de balcão as cabeleireiras e outras profissões partilham varizes, doenças coronárias, lesões ao longo da coluna vertebral e morte súbita precoce. Mas há sempre alguém que apela ao nosso sentimento de inveja mostrando que ao outro não é devido o que a mim não fôr devido, que o outro só pode ter depois de eu ter também.
Por esse andar voltaremos a trabalhar de sol a sol 12, 16 horas por dia, sendo proletários, ganhando para a prole que alimentará as guerras e as fornalhas.
Entretanto as tais fábricas de cablagem que fecharam cá abriram portas na Républica Checa na Bulgária e estão com certeza a caminho de outro lugar até à China e ao fim-do-mundo.
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