Nunca antes tinha ouvido falar de ti
Saíste para o deserto
Como os anacoretas
Levaste contigo as palavras
Serenidade e temeridade
Saíste para o deserto
Como os anacoretas
Levaste contigo as palavras
Serenidade e temeridade
Comentaram que no teu nome
Existe um ípsilon antigo
Existe um ípsilon antigo
De abysmo profundo
Entre fragas medonhas
Disseram que tens 33 anos,
Aquela idade em que é
possível
Perder tudo e ganhar
A imaterialidade da qual
se julga
Serem feitos os Ideais
-essas mentiras que nos
mantêm vivos
quando a verdade nos mata
e na realidade falecemos
aos outros
O teu jejum aproxima-se
Daquele ponto sem retorno
A que uns chamam santidade
Por nele reconhecerem a
transcendência
E a iluminação que
servindo ao próprio
Serve de farol aos outros
Para que não se percam
Para que não se percam
A Morte, bem vês, está
ajoelhada a teu lado
Sendo paciente como é
Não se importa de voltar
depois
Ocorreu-me, vê lá tu,
Que os bailarinos são como
Peixes que querem ser pássaros.
Que os bailarinos são como
Peixes que querem ser pássaros.
E que mal é que isso tem?
Sabendo nós que há
pássaros
Que nadam profundamente
nas águas
E peixes que voam bem fora
delas
Sem que deixem de ser
aquilo que são
Nesse deserto onde estás
lutando
Dizem existir um Xamã
Que canta e dança por nós,
Que canta e dança por nós,
Que sabe mergulhar na
terra árida
E dela retirar raízes de
água e de pão...
Agora que tudo te parece
antigo e breve
E no desapego da tua dissociação
Vês teu corpo frágil
Ganhar a força do
turbilhão e da tempestade,
E o teu raciocínio agudo é
clarividência,
Por favor trá-lo contigo
Por favor trá-lo contigo
Para que os obstinados se apazigúem
E os que não enxergam
possam conhecer
2 comentários:
Posso juntar a minha à tua voz ?
Excelente o poema, excelentíssimo o desenho!
bom domingo
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