sábado, 24 de outubro de 2015

A Luaty Beirão



Nunca antes tinha ouvido falar de ti
Saíste para o deserto
Como os anacoretas
Levaste contigo as palavras
Serenidade e temeridade 
                          

Comentaram que no teu nome
Existe um ípsilon antigo
De abysmo profundo
Entre fragas medonhas

Disseram que tens 33 anos,
Aquela idade em que é possível
Perder tudo e ganhar
A imaterialidade da qual se julga
Serem feitos os Ideais
-essas mentiras que nos mantêm vivos
quando a verdade nos mata
e na realidade falecemos aos outros

O teu jejum aproxima-se
Daquele ponto sem retorno
A que uns chamam santidade
Por nele reconhecerem a transcendência
E a iluminação que servindo ao próprio
Serve de farol aos outros
Para que não se percam

A Morte, bem vês, está ajoelhada a teu lado
Sendo paciente como é
Não se importa de voltar depois

Ocorreu-me, vê lá tu,
Que os bailarinos são como
Peixes que querem ser pássaros.
E que mal é que isso tem?
Sabendo nós que há pássaros
Que nadam profundamente nas águas
E peixes que voam bem fora delas
Sem que deixem de ser aquilo que são

Nesse deserto onde estás lutando
Dizem existir um Xamã
Que canta e dança por nós,
Que sabe mergulhar na terra árida
E dela retirar raízes de água e de pão...
Agora que tudo te parece antigo e breve
E no desapego da tua dissociação
Vês teu corpo frágil
Ganhar a força do turbilhão e da tempestade,
E o teu raciocínio agudo é clarividência,
Por favor trá-lo contigo
Para que os obstinados se apazigúem
E os que não enxergam possam conhecer
Volta! 
Esperamos-te!  

         

2 comentários:

Lilazdavioleta disse...

Posso juntar a minha à tua voz ?

Justine disse...

Excelente o poema, excelentíssimo o desenho!
bom domingo