domingo, 17 de novembro de 2019

efémera

"Herdei" um telemóvel que permite desenhar no visor. Tal legado faz com que passe o tempo a olhar para a "tabuínha" coçando-a com o dedo, ora aqui ora ali.
O dedo é grande demais para qualquer linha fina mesmo quando se aumenta a escala da superfície onde se desenha.
As dificuldades encontradas ao desenhar sobre tudo e sobretudo desenhar, são inerentes ao risco de arriscar riscar e fazem parte de cada técnica.
 O desafio da superfície obriga à variedade do estilete. E friccionar como dedo uma superfície lisa, literalmente digitar, é bem mais fácil do que apunhalar um xisto à pedrada para gravar um cavalo.
De qualquer maneira não me posso queixar nem do meio nem da técnica quando vejo como resultaram os desenhos que David Hockney fez diáriamente no seu "Iphone". 
Ao alvorecer, porque os pintores vivem da luz e com a luz, David Hockney desenhou no seu telemóvel o quotidiano que o rodeava, por mais prosaicos que fossem os modelos. Depois para presentear os seus amigos enviava essas mensagens coloridas para eles como quem deseja Bom-dia:
A paisagem da janela; copos, canecas e jarras com flores; as pontas dos cigarros no cinzeiro, a última apagada ainda fumegando; o próprio Iphone carregando na tomada de electricidade... enfim a complexidade das coisas simples, o pormenor, o instante, o detalhe que rompe a monotonia.
Agora que cheguei a este meio tão efémero e virtual faço o meu aprendizado entre a surpresa e o espanto.

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