Ah este ódio com que amo a humanidade!
...e a necessidade dos livros onde ela se verte;
não, não é um problema de nervos, nem de ódio
que me leva a escrever, mas sim a janela fechada,
as arestas dos varões quadrados da grade de ferro
cravadas na carne das mãos e da cara,
a visão periférica que mantém o medo na distância.
Não serás alguém grande, mas poderás sempre
escolher a fuga das alturas ou a fragilidade do papel
que embrulha o pão e se rompe com o lápis H
Serás fumo de chaminé no ar
ou breu de mascarra sobre o cotim azul.
Não serás alguém grande, -disseram-me-
descolaram o remate do cartucho de meio quilo
e alisaram os vincos do papel grosso
entregaram-me as pontas de lápis a escaparem pequenas das mãos adultas grandes
e permitiram que desenhásse no lado de fora,
sobre o riscado vermelho,
porque dentro pousava-se o peixe acabado de fritar
e o desenho esvaía-se na nódoa
esmaecido pela gordura
para depois se perder com o jornal
da forra do balde do lixo.
poderás sempre escolher a fuga das alturas
ou a fragilidade do papel que embrulha o pão,
o papel que se rompe e se rompe com o lápis nº4
O que queres ser? Fumo de chaminé no ar?
ou mascarra de breu sobre o cotim azul?
que gritavam histórias.
pedia livros e que mos lessem
mas não havia livros porque os livros
para nada servem.
Ah este ódio com que amo a humanidade!
e a necessidade dos livros onde ela se verte
Em memória do HH
1 comentário:
à sua poesia volto, sempre que preciso dela!
E que belo está o teu desenho
Enviar um comentário