domingo, 3 de novembro de 2019

representação por si só

Não me interessa a representação por si só. Claro que quero reproduzir a partir do real, interessa-me a história, a palavra que faz a narrativa, contudo o objecto final escapa ao que lhe deu origem e vale por si só. Vale enquanto afirmação ainda que seja inicialmente uma tentativa de representação, uma cópia. Ele acaba por ser a representação do falhanço da tentativa de reprodução do modelo.
Interessam-me as falhas, as imperfeições, as fugas à representação, a traição que o cérebro faz ao olhar, a fuga que a mão faz ao cérebro. No fundo quando há um processo de construção de uma imagem, este processo só termina na percepção do receptor dessa imagem. No entendimento do receptor enquanto fruidor ou iconoclasta. Na sua retina, no seu ouvido, no seu olfacto, no seu estado de saúde e bem-estar, no seu cérebro, na sua mente, na sua cultura. Eu estou aí como primeiro interlocutor relativamente à imagem que descrevo, desenhando símbolos, recorrendo a ícones reconhecíveis da minha cultura e no meu tempo.

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