A velhice nasce na orelha
Uns pelos na posterior da hélix
Outros na concha
Quando partem do trago
é a solidão que floresce
Já não se olha o espelho
Dá que pensar
Aquele tufo hirsuto
Primeiro estamos todos
Vivos, alegres, saciados
de copos erguidos
depois só umas fotografias
recusando o contentor de lixo
como aves que partem
para não voltarem
no São Martinho
O Inverno é um ser profundo
De nevoeiros cerrados
E musgos verdes
passo a lâmina pela hélix
em espiral descendente
desde o ramo até ao lóbulo
na profundidade da escafa
a lâmina escanhoou a derme
ouvi claramente antes de ver
o indicador sanguíneo
Faço a barba sem espelho
após a chuva quente
no final da lavagem
A sua barba é muito rija
e a sua pele muito fina!
Disse o barbeiro de olhar aflito
enquanto passava
a pedra de alúmen
enxugando-me a cara em brasa
com a toalha antes aquecida
recolhendo aquele sudário
para que eu não o visse
mantendo a horizontal
da cadeira abaixo do espelho.
Quando o barbeiro
que usava a navalha
na escovinha da nuca
me rapou a cara
não cresciam crespos
pelos na orelha.
Sem comentários:
Enviar um comentário