Pode alguém não amar o banal?
Alguém já cuidou que assim fosse,
desde os primeiros cueiros!
A primeira bebedeira infantil.
O cuspir mais alto, o mijar mais longe.
A dejua da sopa morna às 4 da manhã
O cheiro da cafeteira das 9
espumando fervura por 3 vezes
O perfume do peixe fresco
na fritura das 10
o almoço do pai no meio do pão
O jantar depois do meio-dia
a instrução primária até às 3 da tarde
as incompreensíveis reguadas nas mãos
as pancadas na nuca após a súplica
a violência dos puxões de orelhas
após o protesto…
A mãe passando a ferro vigiando cópias
O pai passando multiplicações e divisões
de 12 algarismos antes da sesta
Como pode alguém não amar o que é feio?
Trazer para o poema
os abusados que abusam
os violentados que violentam...
só assim perante o injusto
pode o Incêndio acontecer
1 comentário:
Merece o prémio e merece a minha total admiração!
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