quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Léo Ferré - Avec le Temps - Um dos meus






Léo Ferré escreveu esta canção quando tinha a idade que hoje eu tenho. Sobre a emoção avassaladora que ela me provocou ainda no tempo em que eu era jovem e imortal  nada posso dizer. Foi como subir a uma montanha e no limiar da extinção física aos poucos recuperar o fôlego e descobrir um horizonte que não sabia existir.
A interpretação de Bernard Lavilliers tem uma pungência semelhante à inicial interpretação preconizada por Léo Ferré. O fio sonoro contínuo que as cordas e depois os instrumentos de sopro prolongam como uma onda inexorável e imparável criam uma sensação de inevitabilidade quase transcendente.(1)
Esta gravação tem ainda o mérito de mostrar os rostos emocionados dos participantes do programa enquanto público. Público teóricamente difícil de impressionar por ser constituído por cantores compositores e intérpretes bem familiarizados com a canção de Léo Ferré. 

Que dizer então desta outra interpretação de Léo Ferré?
Eu direi que a sua genialidade anda a par com a sua iconoclastia. 
É raro encontrar alguém que se consiga reinventar rindo de si próprio, tentando que nós próprios nos possamos rir da nossa autocomiseração. É precioso encontrar alguém que como ele  nos diga algo do género: desculpem lá não queria que ficassem deprimidos não é preciso levarem-me tão a sério.







(1)Este efeito sonoro foi um recurso que nas composições antigas se encontram nas linhas corais retomadas por vozes que se revezavam sucessivamente e mais tarde na linha melódica de baixo contínuo. Mais recentemente o efeito foi aproveitado por Mahler no adagieto da sua 5ª Sinfonia, e também por Samuel Barber no seu "Adágio para Cordas", mas ao longo do séc. XX este ambiente sonoro foi utilizado por muitos compositores.

2 comentários:

Maria Eu disse...

Acho que é comum a uma geração, este gosto particular pelo Léo Ferré e o Avéc le temps.
Soberbo!

Beijinhos, Luís :)

Justine disse...

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