Como num jogo, a moça entretinha-se apanhando os gestos da
tia que aqui e ali denunciavam o que ela chamava o comportamento-de-pobre: comer
a rosa talhada num tronco de cenoura e as folhas de agrião que rematavam a guarnição da
travessa; inclinar a travessa para que o molho pudesse escorrer completamente, pegar
com as mãos nos pedaços de osso que ainda tinham carne agarrada e roê-los, apanhar
com uma bucha de pão as sobras húmidas do molho que restavam no prato e na
travessa… -Mas que é isso de comportamento de pobre? – Perguntei eu. – Tudo o
que você fizer que denuncie a sua condição, mostrando que é um duro, um cara
sem dinheiro! -Disse-me a jovem. – Assim como lamber a tampinha do iogurte, sorver
a última gotinha da garrafa de suco, lamber a colher de mexer o café...
A escassez provoca a fome e a fome de cultura transforma-se na cultura da fome.
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