sábado, 29 de agosto de 2015

Música do Mediterrâneo por uma vida melhor - Hüsnü Şenlendirici e Trio Chios



A canção de autor anónimo fala de um barqueiro e de uma jovem mulher que quer passar para a outra margem e que nada terá para oferecer em troca da boa vontade do barqueiro.

O espírito destes músicos entre os quais se encontra o Trio Chios e o clarinetista Hüsnü Şenlendirici julgo ser o oposto da realidade trágica que está agora a acontecer nas águas do Mar Mediterrâneo. São gregos e turcos que partilham um passado que se encontrou e desencontrou ao longo da história mas cujas feridas se esperam estar em vias de sarar definitivamente. 
Escolhi o tema porque nele se encerram sons característicos de Samarkanda no Uzbequistão, de Ascabade no Turquemenistão e porque o clarinete é um instrumento ligado ao Povo Rom que tem um som ora festivo ora profundamente dorido como o ney ou o duduk. 
Convém não esquecer que todos nós somos nómadas na génese da nossa ancestralidade. Como espécie evoluímos caminhando por natureza e por necessidade. Que a terra segura que hoje pisamos e julgamos ser nossa, amanhã pode ser um palco de destruição seja ela provocada pela vontade humana ou pelos Elementos da Natureza.
Também devemos ter presente na nossa memória que nos escassos 40 mil anos até onde podemos situar os antepassados dos quais nos julgamos herdeiros idênticos, as fronteiras naturais sempre foram motivo de evolução e desenvolvimento quando a vontade comum apostou em as ultrapassar. Ao contrário as fronteiras criadas pela organização social sempre foram motivo de guerra, de miséria e de retrocesso quando se criaram portagens, barreiras, muros, fortalezas e quando o ser humano decidiu ser predador de si mesmo.
 O vídeo termina com uma cúpula cheia de aves. As aves, neste caso os pombos, têm casa mas não têm fronteiras.

1 comentário:

Maria Eu disse...

Este mundo de barqueiros e de viajantes. Tantos que agora se fazem à viagem em desespero, atirando-se para as mãos de barqueiros nada fiáveis. Chegam a terra e provocam nos que lá habitam sentimentos contraditórios que em nada os tranquilizam.
Temo pelos viajantes. Temo pelos que os acolhem de boa ou de má vontade. Temo pela turbulência que favorece a violência e magoa sempre os mais frágeis.

Beijos, Luís. :)