terça-feira, 1 de maio de 2018

"Então e qual é o segredo?" -Os direitos de autor e a transmissão do conhecimento.




"-Então e qual é o segredo?
-O segredo não o posso revelar!"

Nos meus tempos de operário metalúrgico, inicialmente trabalhei como operador de máquinas rectificadoras de peças em série capazes de criar orifícios cónicos cuja variação entre o menor e o maior diâmetro não ultrapassava os 8 mícron. Por motivos de produção e contenção do desperdício de peças para sucata, determinados ajustes nas máquinas só podiam ser feitas pelos afinadores autorizados, havia mesmo uma categoria profissional assim designada. Uma das afinações consistia numa alteração de translação de um veio em movimento que se fazia pela regulação de três parafusos. Um dos afinadores cioso do segredo, com a bata desabotoada e de braços abertos fazia uma cortina de forma a impedir que a sua afinação fosse percebida. Como se isso não bastásse apertava e desapertava parafusos mortos e sem nexo para o objectivo pretendido. Quando uma vez o interpelei sobre aquela desnecessária coreografia exclamou " Ah! Se calhar querias ficar a saber tanto como eu?!"




A cultura não tem a ver com diálogo tem a ver com a prevalência do mais forte e a submissão do mais fraco.

A iniciação pressupõe um caminho sem retorno de elos e amarras, de compromissos que impedem o iniciado de revelar ao próximo um conhecimento que enquanto for segredo só o beneficia a ele e aos que têm estatuto semelhante.


O segredo por vezes reside em não revelar algo que simplesmente não existe e por isso não se pode revelar. 


A elite só o será enquanto esta convenção justificar o seu poder.
O poder é legitimado por motivos mágicos de transcendência. Um poder que por vezes se diz vir directamente de Deus. De uma força maior como um conhecimento superior, ou uma tecnologia mais avançada. 

É bem conhecido o terror que os democratas têm de que o "poder caia na rua". A democracia legitimada na Praça, é ilegítima na Rua. Na Praça a multidão é estática e é controlável, na Rua a multidão desloca-se, Por mais pequena que seja a rua a multidão encontra-se em movimento e é dificilmente controlável e contabilizável. 

Um jornalista, também professor, ocupou durante muitos anos vários programas de comentário político até que chegou a uma presidência de república. Esse senhor para menosprezar o poder que teriam as manifestações de rua e o número de manifestantes em protestos sucessivos. Banalizando essa afirmação de cidadania fez a seguinte comparação: 
O que é isso de 50 mil ou 60 mil manifestantes, a lotação do Estádio de Alvalade, o Estádio da Luz cheio? Eles enchem quase todas as semanas.




Começamos na escola a aprender o nosso lugar. Caso a família ainda não nos tenha ensinado. 
A cadeira na frente junto à secretária do professor, a cadeira ao fundo, nesta aula não há lugares fixos. A Praça e a Rua são reflexos disso. Os parlamentos também. São câmaras, pequenas praças de lugares sentados fixos. Salas de aula de uma representatividade encenada e codificada. Aqui os nobres, ali os plebeus. Aqui os homens, aqui também as mulheres. Aqui os Doutores, aqui os sem título. Este sistema de validação por título é tão importante que a falsificação se faz por todo o lado Portugal, Alemanha, Holanda...
O sistema de castas perdura, mas não só na Índia.

Esta conversa elíptica que leva a lado algum nem vem a propósito do Primeiro de Maio. É mais para dizer que por muito que me custe evitarei ao máximo ferir os direitos de autor. Deixarei de divulgar vídeos com filmes ou música ou palestras. Reparei que muitos desses vídeos desapareceram por suposto conflito com os direitos de autor e não era essa a minha intenção. Por vezes coloco músicas das quais tenho o disco mas não o vídeo que acompanha a música. Quando parece importante coloco os créditos mas ultimamente reconheço que não o tenho feito com tanto rigor.
Mas acabou-se esse risco de abuso que cause dano ou melindre alheio.







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