Na televisão o homem que lê as notícias
disse
Que na Avenida da Liberdade o dióxido de
Ozoto
Tem os valores mais baixos deste século;
E outra coisa qualquer sobre monóxido de carbono.
O comentário relacionava-se com a qualidade
ambiental,
E o Ozoto, com certeza, algum gás raro da família do
Ozono.
Com nítida clareza o volume de som espalhou-se
pela rua deserta
Mandando a população ficar em casa porque
desobediência é crime
O aviso tinha a seriedade da luz azul do carro de
polícia
Sem a exuberância de cone alto-falante ou megafone
de feira.
No ecrã gigante do futebol, na cervejaria vaga que
vende pão,
Seis vultos verdes manobram tubos e um corpo
embrulhado que rolam.
Desenhos feitos por crianças repetem o arco-íris,
Brilham como os aguaceiros solarengos das chuvas
mil do mês
Na televisão uma frase repetitiva diz que tudo vai
ficar bem
E ao lado as curvas animadas dos monitores dos
Cuidados Intensivos
São trocadas pelas arestas crescentes da serrania
de infectados mortos.
Os espectros verde esmeralda e azul turquesa afagam
outro embrulho.
1 comentário:
Crónica dos dias de cólera!
(também ouvi o tal a falar do ozoto…)
Enviar um comentário