segunda-feira, 13 de abril de 2020

COVID 19


Na televisão o homem que lê as notícias disse
Que na Avenida da Liberdade o dióxido de Ozoto
Tem os valores mais baixos deste século;
E outra coisa qualquer sobre monóxido de carbono.
O comentário relacionava-se com a qualidade ambiental,
E o Ozoto, com certeza, algum gás raro da família do Ozono.

Com nítida clareza o volume de som espalhou-se pela rua deserta
Mandando a população ficar em casa porque desobediência é crime
O aviso tinha a seriedade da luz azul do carro de polícia
Sem a exuberância de cone alto-falante ou megafone de feira.
No ecrã gigante do futebol, na cervejaria vaga que vende pão,
Seis vultos verdes manobram tubos e um corpo embrulhado que rolam.

Desenhos feitos por crianças repetem o arco-íris,
Brilham como os aguaceiros solarengos das chuvas mil do mês
Na televisão uma frase repetitiva diz que tudo vai ficar bem
E ao lado as curvas animadas dos monitores dos Cuidados Intensivos
São trocadas pelas arestas crescentes da serrania de infectados mortos.
Os espectros verde esmeralda e azul turquesa afagam outro embrulho.



1 comentário:

Justine disse...

Crónica dos dias de cólera!
(também ouvi o tal a falar do ozoto…)