sexta-feira, 23 de abril de 2010

O medo

O Medo era uma fera à solta, um cavalo louco com ventas de demónio montado pelo próprio Mal. O Mal usava luvas e casaco largo, botas de cano alto e óculos de lentes escuras. Galopava rua acima rua abaixo faíscando raiva contra as crianças que brincavam na frescura da noite. A fúria levantou-lhe o braço e de pingalim em riste entrou no páteo da casa ao lado onde homens e mulheres cantavam em coro as boas vindas à Primavera. A mesa voltou-se, as cadeiras tombaram, e as magras sopas de pão, perderam-se dos pratos para o chão, onde só os cães as podiam comer. -Calem-se!! _____________________Berrou então o Mal. Cuspindo ódio da sua voz rouca: -São proíbidos ajuntamentos de adultos ou crianças, são proíbidas cantorias, dispersem todos!!!________________________Que é lá isso?? - Bradou Manuel Soeiro.- Aqui é minha casa, onde se canta sem incomodar ninguém, na rua não há ajuntamentos só ciranda de crianças; venham para dentro moços que vem aí ventania e traze o diabo à solta!-Amanhã apresentas-te no Posto. É uma ordem!_________________________________________________________________________________________________________________________- Manuel Soeiro foi ao Posto da Guarda e nunca mais ninguém o viu. Foi preso pela Polícia Internacional de Defesa do Estado. Levado para uma prisão de África onde morreu das febres que lá há. Nunca mais nínguem o viu._______________________________Quanto ao Medo, esse continua à solta para ser cavalgado por qualquer Mal.

5 comentários:

Lilazdavioleta disse...

Pode ser que um cavalo branco , ele mesmo , sem cavaleiro , o enfrente e o derrube ... um dia !
Maria

Luis Filipe Gomes disse...

oxalá tenhas razão.

olhodopombo disse...

coisas da Idade Meeia, ate o nome da Medo!

Catarina Garcia disse...

a xilogravura funciona bastante bem com o teu desenho!

Ines Ferreira disse...

é tao bom viajar no seu blog Luis, tanta imagem, tanta criatividade, tantas palavras para ler, pensar, sorrir :) obrigada