domingo, 13 de março de 2011

ARMÉNIA - Djivan Gasparyan e o Duduk

Duduk


Não conheço outro instrumento musical que como o Duduk possa transmitir um sentimento de plenitude. O som vibrante provoca essa sensação de presença plena, de imponderabilidade e desprendimento que é característico da meditação. O corpo parece flutuar e atinge uma preliminar serenidade. O Duduk entre todos os instrumentos tradicionais é considerado pelos arménios como o instrumento da Arménia.

Pensa-se que o nome é onomatopaico, ou seja, deriva duma palavra que descreve o seu som: du-du.

O som pode ser confundido com o som do ney que é uma espécie de flauta tocada em posicionamento lateral aos lábios que sopram fazendo simultaneamente o som du-du. Em língua turca o nome ney significa cana de junco que é o material com que essa flauta é feita. A cana de junco também é o material com que se fazem as palhetas que à semelhança do oboé são utilizadas no duduk. Duduk e ney, qual deles terá inspirado o outro. O duduk é um instrumento muito antigo e inicialmente era feito a partir de osso como as antigas flautas; posteriormente passou a ser feito da madeira de damasqueiro que é uma árvore tão abundante na Arménia que recebeu a classificação latina de Prunus armeniaca. O som de veludo com que por vezes se descreve o som do duduk para o distinguir do ney talvez não seja alheio à imagem da pele do fruto. O albericoque nome derivado do grego/latim (praekokion/praecoquus) literalmente cedo na Primavera, descreve a breve época do ano do seu aparecimento; o nome damasco deriva do nome da cidade síria de Damasco grande entreposto de comercialização do fruto sêco e do óleo de amêndoa que incluía precisamente o óleo de amendoa amarga sendo estas amêndoas amargas retiradas não das amendoeiras mas sim do interior dos caroços dos pêssegos de abrir nos quais estavam incluídos os albericoques; alperce que é uma outra designação que se utiliza em Portugal, deriva da outra origem do fruto, a Pérsia.Foi também essa suposta origem que deu o nome latino aos pessegueiros Prunus persica, este persica, o perse, na boca de comerciante falante de árabe é al perse. É curioso como a linguagem e o próprio conhecimento evoluem registando erro após erro a ignorância dos eruditos de cada momento histórico, a etimologia é de facto o registo da ignorância e da deturpação até onde a memória ou o registo conseguem retroceder. A própria história não passa do registo do relato da verdade parcial ou mesmo da própria mentira. Nenhum destes frutos teve origem aqui na Arménia ou Pérsia e sabe-se que vieram da China através de um percurso que mais tarde se convencionou chamar rota da seda. No mundo antigo à medida que as civilizações prosperam, o comércio expandiu-se e a ligação entre a Índia e a Mesopotâmia estabeleceu-se; aumentou em quantidade e qualidade a circulação de bens nos quais se incluem plantas, frutos e a sua forma compacta, as sementes. Dizem os agricultores que a semente do damasqueiro não frutifica longe da árvore que lhe deu origem, isto significa que a planta necessita das mesmas condições a nível de solo e clima que a sua antecessora e que só ao longo de gerações se dão as mutações que permitem que a planta se vá adaptando a condições diversas. Uma planta que resiste a 30 graus negativos em Janeiro pode ser tão sensível à geada de Março que perde toda a sua frutificação.

Um damasqueiro pode durar 80 anos, o seu apogeu produtivo está entre os 7 e os 40anos, a madeira da raiz de onde se obtém a matéria-prima para o duduk tem de secar 35 anos. Só após esse tempo a madeira adquire a maturidade para a sua reverberação ser adequada ao som do instrumento.
O som de um conjunto de dois Duduk assume uma pungência extrema, pois que tradicionalmente um deles assume uma linha melódica continua, à semelhança de um bordão ou um baixo contínuo, mas apesar disso só com muita técnica se consegue retirar esses sons que ressoam no ventre e acalmam o coração.Contudo alguém como Djivan Gasparyan tornam a audição numa experiência particular e inesquecivel.

Melhor que as palavras é ouvir.



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