sábado, 27 de julho de 2019

Vergílio e Fukuoka.

A livre associação é um método utilizado por surrealistas, psicologistas (fonéticamente dá-me jeito chamá-los assim), baristas e outros artistas. 
Esta técnica pode ser explicada pela expressão "unir os pontos", e não foi certamente uma técnica criada por pedreiros. Creio nisso com certeza. Os Pedreiros quando unem os pontos têm sempre um objectivo em mente. 
Os Pedreiros para se darem à maçada de tocarem suas pesadas marretas nas cabeças de cunhas e ponteiros, cantando à pedra e batendo uma cadência precisa têm o objectivo de separar. Querem cortar a pedra por uma linha que desenharam esforçadamente, escavando a pulso pequenos orifícios que depois aprofundam até à ruptura.  
Quem une os pontos na livre associação não tem um objectivo. Tem uma revelação de uma coisa que não premeditou. Não usa a técnica dos pedreiros. 
Unindo os pontos em livre associação o "desenho" é sempre surpreendente. É sempre um momento de espanto e é mágico. 
Há quem faça disso mister, lance búzios, ou observe folhas da infusão que serviu e bebeu, e nelas consiga ver o futuro. 
Há quem se recolha a olhar os rebocos de paredes velhas ou a olhar núvens na expectativa da revelação e a obtenha. 
Unir os pontos pode ser resultado da abstracção sensorial. Certos oráculos recolhiam-se em cavernas e flutuavam em água, olhos cerrados, ouvidos imersos. Outros na obscuridade contemplavam espelhos que reflectiam a escuridão e assim ficavam até a privação sensorial lhes revelar uma resposta. Isto vem a propósito de entre o que ando a ler e a reler estar o livro "Geórgicas" do Vergílio

125  "Antes de Júpiter, nenhuns habitantes lavravam os campos,
         nem na verdade era lícito marcar ou repartir o campo com limites.
         Procuravam eles antes o bem comum. E a própria terra,
         sem que ninguém lhe requeresse, tudo produzia sem restrições.
         Foi ele quem adicionou o pérfido veneno às letais serpentes..." 

                      Geórgicas-Vergílio editado por Livros Cotovia 2019 -

lembrei-me então do Masanobu Fukuoka e de "A Revolução de Uma Palha".
Isto de associar pontos é disparatado mas não deixa de ser surpreendente.
E depois quando lado a lado guardei a imagem dos dois livros esta fez-me lembrar as cores de uma bandeira. Uma bandeira idealizada por pedreiros e carvoeiros.



Sem comentários: