sexta-feira, 2 de abril de 2010

Páscoa, Pesach, Passagem.

A Páscoa é simbolicamente passar de ano, passar para outro tempo, mudar de vida. O nome Páscoa nasceu dos nossos antigos antepassados culturais judaicos que comemoravam a fuga da escravatura, a que estavam subjugados no Egipto. Esta Páscoa, Pesach é vertida e readaptada na renovação que o Rabi Jesus assume, ao tornar-se ele próprio o cordeiro de Deus e ao triunfar da morte ressuscitando. Isto segundo a tradição criada pelos seus discípulos. Apesar disto o que hoje celebramos como sendo a ressurreição de Cristo, tem uma raiz mais antiga que é a ressurreição da própria Natureza. O calendário hebraico é um calendário oriental originariamente Babilónico. É um calendário lunisolar o que significa que alinha o movimento aparente do Sol com as fases da Lua para que coincidam ano solar e ano lunar. Periodicamente de tantos em tantos anos um mês é intercalado para fazer esse acerto. O nosso calendário actual é o calendário Gregoriano pois devido ao Papa Gregório XIII foi feita uma comissão científica que reformulou o anterior calendário Juliano de raiz também Babilónica. A vontade de precisão de Júlio César acertar os 365 dias com um ano que ficou chamado como o ano duas vezes sexto, bisexto-366, fez com que o seu nome ficasse associado ao calendário que ajudou a reformular, pelo ano que hoje chamamos 46 antes de Cristo. Séculos depois um tal frade Dionísio, no Século VI, terá considerado a circuncisão de Jesus, 6 dias após o Natal, e o dia seguinte como o primeiro dia do ano. Esta história de Dionísio o Parvo, ou há quem diga Dionísio o Pequeno, terá inspirado Rei francês Carlos IX que em 1564 decidiu adoptar este como primeiro dia do ano em vez do dia 1 de Abril, que até aí era considerado o primeiro dia do ano. A partir de Gregório XIII e da sua bula de 24 de Fevereiro de 1582 os dias entre o dia 3 de Outubro de 1582 e o dia 14 de Outubro de 1582 foram cortados, esta diferença de 10 dias mantém-se até hoje no calendário dos cristãos ortodoxos. A Páscoa que caminhava para ser comemorada cada vez mais no Verão é assim comemorada nunca antes de 22 de Março nem nunca depois de 25 de Abril e o dia primeiro do ano passa a ser como Carlos IX queria a 1 de Janeiro. Isto só acontece nos países latinos. Na Roménia e nos restantes países europeus e eslavos esta reforma levaria muito tempo a ser adoptada. Estas reformas de calendário fizeram com que a Páscoa dos Judeus, dos Cristãos Católicos Romanos e dos Cristãos Ortodoxos muito raramente coincida. Até Gregório XIII, ou melhor dizendo até ao Rei francês Carlos IX, entre 25 de Março e 1de Abril festejava-se o Novo Ano. Depois deles a 1 de Abril passou a comemorar-se o dia dos tolos, ou o dia dos loucos de Abril. Neste caso a festa dos que não comemoravam o dia primeiro do ano no dia 1 de Janeiro, de acordo com a vontade papal e real. As festas dos loucos que serviam de alívio e catarse a uma sociedade com pouco divertimento, em que a transgressão era severamente punida, foram festas que vieram da mais remota antiguidade e celebravam as estações e a fertilidade. Chegadas ao tempo do Império Romano transformaram-se nas Lupercais, Saturnais, Bacanais e Dionísias, vão sendo mais restritas e constrangidas pelos diversos puritanismos ao longo dos tempos. Chegamos às festas medievais em que os clérigos, frades e freiras participavam nessa alegria irracional e iconoclasta em que a cruz dentro da própria igreja podia ser virada ao contrário como se todos tivessem enlouquecido. De seguida há o Carnaval tal como no nosso tempo. A festa já não é a alegria da ressurreição da Natureza, da ressurreição de Cristo, ou da conquista da liberdade. O nosso tempo preferiu enfatizar o suposto triunfo sobre a Natureza, que de facto é a sua destruição, preferiu comemorar a morte de Cristo, e regozijar-se com a construção de muros, fronteiras e todo o tipo de vigilâncias que restringem a liberdade em nome da segurança.

3 comentários:

olhodopombo disse...

muito bom ler voce...
ja estava com saudades..
alem de eu ter viajado, fiquei alguns dias sem internet na minha casa.
e eu não uso lan hause.

Zélia Guardiano disse...

Luis, meu amigo
É sempre bom vir aqui, seja para apreciar seus espetaculares desenhos, seja para ler seus interessantes textos. Este, por exemplo, é de uma qualidade extraordinária. A isto chamo dividir o conhecimento... Parabéns!
Um abraço

Zélia Guardiano disse...
Este comentário foi removido pelo autor.